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TRANTORNO BIPOLAR

Montanha-russa de emoções: transtorno bipolar tem difícil diagnóstico, mas pode ser tratado

Fonte: DA REDAÇÃO COM ZH/DONNA
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Imagem: montanha russa Montanha-russa de emoções: transtorno bipolar tem difícil diagnóstico, mas pode ser tratado
Metáfora ajuda a explicar como funciona uma mente bipolar: em extremos, com mudanças bruscas de humor Foto: Charles Guerra / Agencia RBS

Imagine que você está num carrinho de uma montanha-russa, num parque de diversões, pronto para zarpar até o ponto mais alto. No trajeto, você começa a sentir um bem-estar muito grande: fica inquieto, fala e pensa muito rapidamente. Próximo do topo, tem ideias, sente vontade de viver, ser feliz, comprar, amar e, principalmente, poder fazer o que quiser, quando quiser. Ninguém pode impedi-lo. Até que começa a descida, aquela que vem antes do looping. A medida que o carro desce, toda aquela sensação de euforia, de querer e poder, começa a se esvair. O que vem é um sentimento de tristeza profunda. Vem a melancolia, a depressão, sensação de cansaço constante, baixa autoestima, falta de apetite, falta de amor próprio, podendo chegar à perda da vontade de sair à rua. Até a ideia de tirar a própria vida se torna atraente.

A metáfora de uma viagem de montanha-russa, com seus extremos, ajuda a explicar como funciona uma mente bipolar: em extremos, com mudanças bruscas de humor. Ao contrário do que muita gente pensa, tanto os estados de hipomania e mania, caracterizados pela “subida”, e a depressão, pela “descida”, são bem diferentes das alterações de humor diárias, comuns no nosso dia a dia.

— As doenças entram e saem de moda, mas as descrições iniciais da doença bipolar já foram feitas pelo discípulo de Hipócrates, Araeteus da Capadocia, no ano 100 D.C. Nos anos 1900,o psiquiatra alemão Emil Kraepelin qualificou a doença como psicose maníaco-depressiva. Só mais recentemente, esta doença foi descrita como transtorno bipolar. As pesquisas atuais apontam para uma doença grave, muitas vezes progressiva — explica o psiquiatra Flávio Kapczinski, coordenador do programa do transtorno bipolar do Laboratório de Psiquiatria Molecular do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), lembrando que na medida em que o problema não é tratado, e ocorrem os episódios, pode haver um agravamento da doença e de dificuldades na concentração e memória.

O paciente, nessas condições, está longe de ser aquele amigo “de lua”, pelo qual você passa na rua e ele não cumprimenta. E muito menos um sujeito mal humorado, que está sempre irritado.

A doença bipolar, que pode começar na infância mas que se manifesta com mais força por volta dos 20 anos, tem como comportamento clássico a alteração da forma de ser. Uma das principais características é a mudança brusca de humor: da euforia à depressão, da alegria à tristeza. Quem convive com esse tipo de pessoa costuma ficar extremamente confuso.

Entretanto, o diagnóstico do transtorno bipolar demora, em média, 10 anos para ser feito, o que pode causar muito sofrimento e gerar tratamentos ineficazes. Uma das complicações da doença pode ser o suicídio: daí a grande preocupação com a prevenção dos episódios depressivos. De maneira geral, o problema afeta cerca de 1% da população mundial em sua forma mais grave e 4% em sua forma mais atenuada.

Insistência é a chave

De acordo com o psiquiatra Angela Paludo, a adesão do paciente às recomendações médicas é um fator decisivo na melhora dos sintomas, assim como a insistência no tratamento correto.

— Estudos recentes mostram que aproximadamente 50% dos pacientes abandonam o tratamento pelo menos uma vez por não se considerarem doentes e por sentirem falta dos momentos de euforia — revela Angela.

A associação da medicação com a psicoterapia torna o tratamento bastante eficaz, pois permite um melhor entendimento da doença, conforme afirma Angela. De uns tempos para cá, a preocupação em não diagnosticar pacientes como se fossem, unicamente, depressivos, tem aumentado, que significa um grande avanço. Segundo Kapczinski, a medicação utilizada para depressivos é bem diferente daquela usada na bipolaridade.

— Descobriu-se que os antidepressivos podem piorar a doença, produzindo aquilo que nós chamamos de “virada”, deixando a pessoa mais agitada, acelerada, fazendo coisas extravagantes, mudando seu jeito de ser. O tratamento correto deve ter como base estabilizadores de humor — afirma o médico, lembrando que o uso de medicações só deve ser realizado em casos confirmados e com acompanhamento médico.

Principais características

:: O transtorno bipolar é um problema psiquiátrico que se caracteriza por grandes oscilações de humor. As variações costumam ocorrer entre dois polos: a mania (período de humor persistentemente elevado, expansivo ou irritável), e a depressão (período de humor predominantemente deprimido).

:: Tenha em mente que o transtorno bipolar é uma  enfermidade real, tanto quanto diabetes ou asma. Não é uma falha de caráter ou uma fraqueza, e não é causada por nada que você ou sua família fez.

:: Por ser confundido como um paciente depressivo, a pessoa que apresenta o transtorno leva cerca de 10 anos para receber o diagnóstico correto e, muitas vezes, recebe tratamento errado, à base de calmantes e antidepressivos. Isso pode piorar muito o estado de um doente bipolar.

:: O risco relativo é maior quando existem familiares com o diagnóstico. Porém, se confirmado o diagnóstico, como várias outras doenças crônicas, a exemplo da hipertensão arterial e do diabetes, o transtorno bipolar tem tratamento e é possível controlá-lo.

:: Buscar controle é importante, pois assim evita-se danos da evolução da doença, como prejuízo cognitivo progressivo até a piora da gravidade do quadro.

:: O tratamento correto, à base de estabilizadores do humor e terapia, garante que a pessoa tenha uma vida normal. Os remédios trazem de volta o equilíbrio químico no cérebro, mas, para reorganizar a vida conturbada pelo transtorno, é fundamental a psicoterapia.

:: O mais antigo e eficaz medicamento é o lítio. Outras substâncias, como o ácido valproico, a carbamazepina e a oxcarbazepina, também são receitadas.

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