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Colecionador de discos recusa MP3 e sonha cantar com Roberto Carlos

Morador de Araraquara (SP) tem mais de 900 discos e fitas cassete. Apaixonado por festas, toca músicas sem saber o que faz um DJ hoje.

Fonte: DA REDAÇÃO COM G1
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Imagem: DISCO Colecionador de discos recusa MP3 e sonha cantar com Roberto Carlos
Paixão pelo vinil é dividida entre amigos e a família (Foto: Felipe Turioni/G1)

Donizeti Antônio Santos, de 50 anos, é porteiro de um condomínio e vende lanches pelo Centro de Araraquara (SP) durante o dia. Mas é no pouco tempo de folga que lhe resta que ele aproveita para voltar ao passado e às memórias de sua infância e adolescência, em um quarto que montou nos fundos do sobrado onde vive com a família.

No cômodo improvisado, ele mantém uma coleção com mais de 700 discos, 250 fitas cassete e várias vitrolas e toca-fitas. Seu amor por esses objetos é compartilhado entre os amigos, os filhos e a esposa, durante as festas que realizam, e é cultivado em sebos da cidade ou por presentes que ganha. “Alguém sempre me dá alguma novidade”, comenta, com ironia, mostrando uma de suas últimas aquisições, um antigo rádio dos anos 1990, com toca-fitas e televisão embutida.

A paixão pelos discos começou com as músicas de Roberto Carlos, com o que teve o primeiro contato aos dez anos, ainda quando morava em São Paulo. “Ele sempre fez e faz parte da minha vida e da vida da minha família, sempre acompanhando em tudo”, diz.

Santos tem mais de 50 álbuns do Rei e cerca de 40 músicas desses discos, que considera como suas favoritas, foram transcritas à mão. “Gosto de ouvir e pegar a letra para poder cantar depois”, explica.

O fã chegou a gravar a canção “Como é Grande o Meu Amor por Você” e a tocou no casamento de uma das filhas. “Encontrei uma versão da música ao piano e com a plateia ao fundo e coloquei minha voz”. Ele garante que a gravação fez sucesso e emocionou o “público” que ouviu – os cerca de 100 convidados dos noivos.

As músicas de Roberto Carlos gravadas por Santos já chegaram perto dos ouvidos do Rei, o que fez a produção de um de seus shows realizados em Araraquara a tirar o fã e sua família da arquibancada e colocá-los em uma área reservada para acompanhar a apresentação mais de perto.

“Levei uma fita com as músicas que eu gravei e a produção adorou, pena que não consegui conversar com ele porque estava atrasado”, relembra, comentando um de seus sonhos. “Eu fui de branco naquele show porque queria que ele me levasse até o palco para podermos cantar juntos. Mas quem sabe um dia isso não acontece”.

DJ
Enquanto não realiza esse desejo, Santos se contenta em animar as festas de amigos e familiares. “Ele é o nosso DJ e não participa da festa, fica só no comando do som”, diz a esposa, a contadora Marie Dreyer, de 61 anos. “Ele faz uns flashbacks e quando vê todo mundo já se soltou”, completa. Entre as músicas mais pedidas, estão as canções do grupo Menudo.

A ‘discotecagem’ em festas é um hábito antigo. “Sempre fiz festa na casa dos meus pais, improvisava até globo de luz e colocava lâmpadas coloridas e que piscavam. Em uma dessas festas cheguei a colocar 25 amigos em um quarto pequeno e todo mundo conseguiu se divertir”, conta Santos.

Nas baladas de hoje, Donizeti Santos nunca pôs o pé. “Não fui, não tenho vontade e nem sei o que os DJs fazem”, afirma. “Prefiro não me modernizar e gosto de músicas que me transportem ao passado, ao meu pai e à minha mãe”, diz.

O pai do colecionador de discos morreu quando ele tinha 28 anos, pouco tempo depois de ter feito um de seus últimos pedidos em vida. “Disse que eu deveria fazer um teste para ser radialista, mas nunca tive coragem”, conta. Apesar da voz grave e da entonação forte, Santos diz que não se sente seguro para ter um programa de rádio, apesar de sua paixão pela música. “Não sei inglês, imagina como eu iria ler a chamada de alguma canção internacional?”, argumenta.

Elvis e ‘Tieta’
Poucos dias depois da morte do pai, quando ainda morava em São Paulo, sua cidade natal, e onde trabalhava em uma farmácia, Santos conheceu a mulher que divide com ele o amor pelos objetos antigos que acumula.

“Precisava comprar um remédio para a minha filha e meu patrão armou uma situação para que eu chegasse lá e transmitisse os sentimentos pela morte do pai dele e que ele fosse prestativo comigo”, relembra a esposa. Marie acabara de adotar uma criança e tinha 38 anos, já decidida que não se casaria mais. Seis meses depois do encontro armado, porém, se casaram ao som de Elvis Presley e hoje têm uma família com quatro filhos, dois netos e “um bocado de agregados”, como ela mesmo diz.

A mudança do casal para Araraquara foi um pedido dos pais dela, que buscavam mais tranquilidade no interior. A trilha sonora da novela “Tieta” foi o tema da nova vida no interior. “Eram as músicas do momento e compramos o vinil que adorávamos ouvir”, relembra Santos.

Equipamentos
Nos aparelhos que ganha de amigos ou troca em lojas de conserto e de som, Santos improvisa caixas de som para aumentar a qualidade de cada faixa das músicas do vinil, o que causa preocupação na casa. “Adoro música e os meus aparelhos antigos, mas sou uma negação na parte elétrica e faço emendas sem cuidados”, comenta.

“Quando a casa fica sozinha, deixo um rolo de fita isolante em cima da mesa porque sei que ele vai se esquecer e pode tomar choque”, diz a esposa.

Ao todo, Santos possui oito toca-discos, sete toca-fitas, além de televisores antigos, filmadora, videocassete, máquinas fotográficas e rádios de pilha. “Ninguém dá valor nessas coisas, por isso acaba sendo tão curioso”, diz. O fone de ouvido que ele utiliza foi encontrado jogado no lixo. “Descartaram porque estava sem a espuma, mas é perfeito”, comenta.

Avesso ao mundo digital, não procura as letras de canções na internet e nem baixa músicas em MP3. “Já tentei ouvir, mas não é a mesma coisa, a batida do vinil é diferente, o som é mais autêntico”, compara. “A primeira vez que peguei o MP3 do meu filho quase quebrei porque não conseguia mexer”.

O colecionador concorda, entretanto, com a democratização da cultura que a internet pode proporcionar. “É ótimo saber que todo mundo pode ter acesso às músicas pela internet, mas no vinil é diferente”.

Ao explicar a admiração que tem pelos long-plays ou aos compactos que coleciona, Santos sintetiza tudo em uma palavra: amor. “Não existe nada além disso. Se uma pessoa dá valor a isso, dá valor a qualquer coisa e é disso que as pessoas precisam”, diz.

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