De azarão para os especialistas no começo do NBB à sensação do campeonato. A história do Mogi das Cruzes na temporada 2013/2014 do Novo Basquete Brasil vem chamando a atenção de todos os que acompanham o basquete, incluindo treinadores e jogadores adversários e também o maior ídolo do esporte da bola laranja no país. Alguns dos principais nomes do basquete brasileiro analisaram a campanha do Mogi e os motivos que podem ter levado a equipe tão longe. Classificado em 12º na primeira fase, o time superou Pinheiros e Limeira nos playoffs e só foi eliminado na semifinal pelo Flamengo.
Oscar Schmidt, maior cestinha brasileiro na história, Lula Ferreira, técnico do tradicional time do Franca, Demétrius Ferracciú, treinador do Limeira na temporada e ex-jogador do Mogi, e Helinho, armador do Uberlândia, deram suas opiniões sobre a equipe do Mogi das Cruzes no NBB 6.
REI RUBRO-NEGRO
Um dos clubes dos quais Oscar Schmidt tem melhores recordações é o Mogi das Cruzes. O “Mão Santa” enfrentou o Mogi em diversas oportunidades em meados da década de 1990 e afirma que, desde aquela época, a torcida mogiana já era o “sexto-jogador” da equipe.
– Claro que a torcida pressionava demais, mas o aro ficava grande quando eu jogava contra eles. A torcida sempre pesa para o time da casa. Existem muitos jogadores que não jogam fora como jogam em seus domínios – falou Oscar.
O ex-jogador também disse gostar do retorno de Mogi ao cenário do basquete nacional, mas afirmou que teme o fato de uma equipe de baixo orçamento chegar tão longe. A preocupação ocorre pelo receio de que essa prática se torne comum, com equipes acreditando ser possível fazer boas campanhas com investimentos baixos.
VOZ DA EXPERIÊNCIA
Um dos maiores e mais experientes treinadores de basquete no país em todos os tempos, o técnico Lula Ferreira, que teve seu contrato com o tradicional time do Franca renovado, diz que a boa campanha do Mogi no NBB 6 ocorreu por um conjunto de fatores, entre eles, a presença do ex-jogador da seleção brasileira, Nilo Guimarães, no comando do projeto.
– Essa conquista é uma somatória de motivos: o início com alguém do ramo na gerência do projeto, o trabalho de um técnico competente como o Paco García, que trouxe experiência da Europa, e uma equipe de trabalho competente, com assistentes comprometidos, além dos jogadores que acreditaram. O Paco conseguiu carimbar alguns atletas que ainda não tinham sido protagonistas e já conseguiram muita coisa – disse Ferreira.
Para o treinador francano, é positivo o protagonismo do Mogi no basquete brasileiro, principalmente por ser uma equipe de orgaçamento reduzido.
– Para o esporte no país isso é bom, porque Mogi está representando um trabalho de outras equipes que têm o mesmo pensamento, mas que não conseguiram chegar tão longe – finalizou.
MARCADO NA PELE
Depois de eliminar o poderoso Pinheiros nas quartas de final, o Mogi das Cruzes teve de superar o Limeira na fase seguinte para confirmar a vaga na seminal. No comando do esquadrão limeirense esteve um velho conhecido dos mogianos: o técnico Demétrius Ferracciú, que como jogador defendeu o Corinthians/Mogi no início dos anos 2000. E Ferracciú sentiu na pele a força da integração entre o time e a torcida do Mogi das Cruzes na série contra sua equipe.
– A força do Mogi vem primeiro da união do time, que tem de ser fechado. Isso contagia a torcida. Não é sendo a torcida que coloca os jogadores na partida, mas o contrário. O Mogi teve o mérito de atuar de uma maneira que trouxe o público para jogar junto – comentou.
Mas Ferracciú, que não teve seu contrato com o Limeira renovado após seis temporadas, também cita o forte sistema defensivo do Mogi como méritos na campanha de seu algoz.
– O time tomou gostou por marcar pressão, com muito contato físico, e essa situação faz com que ele esteja sempre brigando e ganhando jogos importantes. Com isso a torcida compra a ideia de ver uma equipe guerreira e vai junto, independente de resultado.
FILHO DE TREINADOR
Com uma carreira quase toda construída ao lado de seu pai, o lendário técnico Hélio Rubens, o experiente armador Helinho, do Uberlândia, cita como principal motivo para o sucesso do Mogi no NBB justamente a interação entre treinador e jogadores. Para ele, a entrega dos atletas mogianos e o cumprimento à risca das ordens passadas pelo técnico Paco García podem ser considerados os principais ingredientes que fizeram do Mogi a sensação do NBB 6.
– A ascensão do Mogi das Cruzes é um reflexo do comprometimento dos jogadores com o que é proposto pelo técnico. Joguei contra eles e acabamos vencendo as duas partidas, mas notei que o time fazia o que era pedido e tinha o mesmo comportamento em quadra vencendo por 10 ou perdendo por 10 pontos. Os jogadores do Mogi confiam muito um nos outros. Eles se doam ao esquema e quando isso acontece, com o espírito que eles têm, é muito difícil vencê-los – disse Helinho.