Em uma época de crise econômica, dúvidas sobre o futuro político do país e insegurança frente ao que está por vir, uma coisa é certa: o Brasil está envelhecendo — e mais rápido do que se imagina. É o que diz um estudo divulgado nesta quarta-feira, véspera do Dia Internacional do Idoso, pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Conforme o Relatório Mundial de Saúde e Envelhecimento, o número de pessoas com mais de 60 anos no país deverá crescer muito mais rápido do que a média internacional. Enquanto a quantidade de idosos vai duplicar no mundo até o ano de 2050, ela quase triplicará no Brasil.
Por aqui, a porcentagem atual, de 12,5% de idosos, deve alcançar os 30% até a metade do século. Ou seja, logo logo seremos considerados uma nação envelhecida — conforme a OMS, essa classificação é dada aos países com mais de 14% da população constituída de idosos, como são, atualmente, França, Inglaterra e Canadá, por exemplo.
Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional para Longevidade no Brasil e membro da Rede Global de Cidades e Comunidades Amigáveis aos Idosos da OMS, explica que o crescimento dos idosos reflete o comportamento da população brasileira nas últimas décadas, que está com uma taxa de natalidade abaixo da taxa de reposição:
— Enquanto a expectativa de vida aumenta, a taxa de natalidade diminui. No Brasil, há mais de 15 anos nascem menos crianças que o necessário para repor os pais, ou seja, os casais estão tendo uma média de filhos inferior a dois. Enquanto isso, as pessoas estão vivendo por mais tempo. O resultado desta equação é um crescimento muito rápido na proporção de idosos no país.
Conforme Renato Bandeira de Mello, geriatra e professor da Faculdade de Medicina da UFRGS, enquanto países como a França levaram em média um século para se tornarem países envelhecidos, no Brasil este processo está ocorrendo de forma muito mais rápida.
Isso porque a redução na taxa de natalidade ocorreu muito próxima a um período de melhorias nas condições sociais da população, o que vem sendo observado desde a década de 1980:
— Tivemos melhoras significativas em diversos ambitos da sociedade, como o acesso à informação, que resulta no aumento da prevenção contra doenças e gravidez indesejada, assim como a criação do Sistema Único de Saúde, que promoveu um maior acesso à saúde, entre outras coisas. Apesar disso, podemos observar que o Brasil ainda não está preparado para atender adequadamente os idosos, e isso tende a piorar na medida em que essa população vai crescendo e se tornando mais relevante.