Semana passada, tivemos a notícia de mais um assassinato em nossa cidade em frente a uma faculdade. Local de crescimento profissional e ideológico, no qual estão sendo formados nossos futuros pensadores e profissionais, responsáveis pela sociedade e seu desenvolvimento. Entretanto, o que se viu foi uma tragédia, não só para o jovem que foi assassinado, mas para toda a sociedade.
Você deve estar pensando o que tem esse crime a ver com a nossa coluna? Tudo! Gostaria de levantar aqui não um tratamento, ou uma terapia, mas uma reflexão sobre esse comportamento de filmar tudo e todos a qualquer momento, em qualquer circunstância sem o menor pudor, nem com a morte. Ainda não inventaram um nome para tal disparate, e talvez a palavra adequada seja impublicável, mas vamos a tal insanidade.
Há meses o cantor sertanejo Cristiano Araújo teve sua morte divulgada por meio de fotos e filmagens da autópsia, a família foi devastada pelas imagens. Agora em nossa cidade um jovem, ainda vivo, pedia para não ser filmado, mas, mesmo assim a pessoa continuou filmando enquanto ele sangrava ao ser baleado! Logo as imagens estavam publicadas em grupos de aplicativos de celular.
O que está sendo formado com essa prática é mais grave do que podemos imaginar. Crianças e jovens estão ficando insensíveis com essa mania de filmar atos violentos, agressivos, acidentes e mortes. O resultado pode ser pior do que se imagina, essa prática pode ser resultado dos efeitos da habituação!
A “Habituação” neste caso ocorre quando um o evento aversivo (imagens de mortes) é apresentado repetidas vezes (vários vídeos, filmes e cenas), o que se observa é que o efeito inicial de aversividade (a pessoa sentir compaixão, medo, etc.) diminui conforme vai sendo apresentado. Segundo Skinner (1938) “[…]quando o mesmo estímulo é reapresentado, a supressão gradualmente deixa de ocorrer e ao final nenhum efeito significativo se mantém, mesmo estando tal estímulo ainda presente.” Traduzindo, depois das pessoas assistirem inúmeras vezes cenas de violência elas correm o sério risco de não terem reação nenhuma diante de atos violentos!
Conforme Bentes e Mayer (2011) “A primeira crítica skinneriana se baseia na incapacidade do evento aversivo manter sua função ao longo do tempo. A Operação descrita envolveria a reapresentação sistemática do mesmo estímulo. O Efeito seria a perda da função inicial. Trata-se aqui do fenômeno da “habituação” (Catania, 1998; Flaherty, 1985), que ocorre de modo indiscriminado entre estímulos com função aversiva ou reforçadora positiva”.
Questionar a ética em não filmar as pessoas em momentos difíceis como esse, é um dever de todos. Não podemos deixar que a “Habituação” ocorra, e destrua em nós o que é tão humano: A Compaixão! Não compartilhe esse tipo de imagem!
Aos “filmadores” de plantão deixo uma pergunta: E se fosse você?
Referência: CARVALHO NETO, Marcus Bentes de e MAYER, Paulo César Morales. Skinner e a assimetria entre reforçamento e punição. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0188-81452011000400005&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0188-8145.