Tumulto e ofensas públicas marcaram nesta quinta-feira a breve sessão da CPI do Cachoeira, que encerrou antecipadamente o depoimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) após o parlamentar anunciar que permaneceria em silêncio. O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), estava decidido a permitir que os integrantes da comissão usassem a palavra antes que Demóstenes fosse dispensado.
O primeiro a falar foi o deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), depois foi a vez de Sílvio Costa, que exaltado, disse que Demóstenes não só é culpado como está condenado literalmente ao inferno, “O seu silêncio é a mais perfeita tradução da sua culpa. Esse seu silêncio escreve em letras garrafais: ‘eu, Demóstenes Torres, sou, sim, membro da quadrilha de Carlinhos Cachoeira. Eu, senador Demóstenes Torres, sou, sim, o braço legislativo da quadrilha do senhor Cachoeira”, disse Sílvio Costa.
O protesto de Costa contra o silêncio de Demóstenes foi interrompido pelo senador Pedro Taques (PDT-MT), procurador da República licenciado. Taques interveio contra as ofensas dirigidas ao político goiano.”A Constituição afirma que o cidadão, seja lá quem for, não pode ser tratado com indignidade. Não me interessa quem seja. Pode ser o crime mais grave, mas o princípio constitucional ao silêncio e o direito fundamental da pessoa humana de ser respeitado precisam ser respeitados”.
Sílvio Costa disse que Taques havia interrompido sua fala. Depois, voltou a atacar Demóstenes, classificando-o como “ex-futuro senador”, e ironizou: “O Conar (Conselho de Autorregulação Publicitária) deveria processá-lo por propaganda enganosa”. Ao se levantar para deixar o plenário, Costa se dirigiu a Taques: “Seu demagogo, seu merda, seu merda”, já fora dos microfones. O tumulto levou o senador Vital do Rêgo a encerrar abruptamente a sessão. Antes, reprovou a atitude dos parlamentares: “Vocês passaram dos limites”.
Reação – Após o fim da reunião, Sílvio Costa manteve o tom: “O senador Pedro Taques não tinha o direito de cassar a minha palavra. Ele atropelou o regimento. Hoje ele mostrou a cara dele: o senador Pedro Taques, que é metido a paladino da ética, é um defensor do Demóstenes. Hoje ele mostrou o voto para o Brasil. Ele vai votar a favor da permanência do Demóstenes no Senado”.
Taques abusou do vocabulário erudito ao reagir às críticas do deputado: “É uma basófia (Impostura, fanfarrice). Não faço parte da súcia (Sociedade ou grupo de pessoas de má índole) desse deputado, da chacrinha, da entourage (Do inglês comitiva), do séquito (Grupo de pessoas, que acompanham outra, ou outras por obrigação) desse deputado”. O senador disse que ainda que vai decidir se apresenta uma representação contra Costa no Conselho de Ética da Câmara. “Vou analisar o que será feito”, afirmou. “Mas não se pode representar por ofensa ao decoro contra quem não tem decoro”.
O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), lamentou o episódio. “Não faz parte da boa civilidade”, disse. “Nós queremos que as pessoas sejam respeitadas e, evidentemente, esse tipo de circo que acontece no plenário da CPI não contribui”.