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Dos ‘socos’ no peito da mãe ao pódio, irmãos fazem dos Falcão fenômeno

Esquiva e Yamaguchi não vêem a hora de voltar ao Espírito Santo e comer costela com batata e polenta, especialidade de dona Maria Olinda

Fonte: DA REDAÇÃO COM G1
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Imagem: FALCAO Dos 'socos' no peito da mãe ao pódio, irmãos fazem dos Falcão fenômeno
Esquiva e a medalha de prata em Londres (Foto: Reuters)

Touro Moreno sempre foi um lutador obstinado, com um quê de loucura. Dentro e fora do ringue. Quando viu dois dos 18 filhos agarrados ao peito da mãe deles, logo visualizou ali uma promissora carreira. Nos fundos do quintal de casa, em um ringue improvisado, treinou Esquiva e Yamaguchi, os irmãos Falcão. Nocauteou as dificuldades, sofreu com a saudade quando eles deixaram Serra rumo a São Paulo, atrás da chance de virar atletas olímpicos. Aos 75 anos, viu os dois conquistarem medalhas em Londres 2012. Esquiva foi prata na peso médio e escolhido para levar a bandeira do Brasil na cerimônia de encerramento; Yamaguchi, bronze na meio-pesado.

– Meu pai diz que assim que a gente nasceu, já batia no peito da minha mãe. Acredito que tenha sido assim mesmo – conta Esquiva.

O pugilista, hoje aos 75 anos, cria os nove filhos que teve com Maria Olinda em uma casa modesta na grande Vitória (ES). Ao lado do maior dos personagens, a mãe fica por vezes à sombra. Mas é ela quem faz em casa receita de peso: costela com batata e polenta.

– Não vejo a hora de matar a saudade da comida – diz Esquiva.

Esquiva e Yamaguchi, dois meninos que davam socos na bananeira, em um quintal de terra batida em Serra, na periferia de Vitória. Adegard Câmara Florentino, um lendário lutador de boxe e vale-tudo e telecatch, ainda exibe físico de atleta, ainda leva vida de atleta. Nas últimas duas semanas, foi o mais importante dos torcedores.

“Seu Touro” tem mais dois filhos lutadores. Thomas Edson, nome em homenagem ao inventor, tem 20 anos e compete na pesado. Estivan – honraria a Teófilo Stevenson, cubano tricampeão olímpico – tem 15 anos e detém o título brasileiro na categoria até 52kg.

Esquiva ganhou o nome por uma estratégia do pai. Naquele tempo, as então novas regras do boxe não permitiam que os treinadores dessem instruções aos atletas. Mas chamar alguém pelo nome “Esquiva” não seria infração.

Na escola, nada de brincadeiras. Esquiva, menino brigão, assustava já pelo nome. No fim da  adolescência, depois de uma desilusão do esporte, se envolveu com tráfico de drogas. E foi Touro quem o tirou de lá, com ajuda de um treinador.

– Eu era brigão na adolescência. Todo mundo me respeitava. E quando perguntavam sobre o nome, eu dizia que era por causa do boxe. Aí todo mundo ficava com medo – conta ele, hoje aos 22 anos.

Touro não queria ver um filho dando socos no outro, queria ter duas cartas na manga para as Olimpíadas. “Uma delas vai brilhar”. Pediu para Yamaguchi, com mais dificuldade de se manter até 75kg, pular para os meio-pesados (até 81kg). Em Londres, o mais velho – 24 anos – não chegou a atingir o limite. Perdeu nas semifinais e ficou com o bronze.

Para dar o recado aos filhos, Touro tinha de ir até um orelhão. Na sua casa, nunca houve linha telefônica. Talvez chegue uma, junto com a medalha dos filhos. Para o pai e os filhos do Espírito Santo.

– Conseguimos chegar até aqui, mesmo treinando sem muitas condições. A gente é um fenômeno, né? Dois irmãos chegarem a medalhista. Alguma coisa tem, né? – pergunta Esquiva, ainda sem acreditar muito que está com prata no peito.

Tem sim. Talento e superação.

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