Ré no mensalão, Kátia Rabello, vice-presidente do Banco Rural, afirma em carta que está “com medo” e “sem esperança”.
Na carta destinada a amigos e publicada na íntegra pelo jornal “Folha de S.Paulo” na edição desta quarta-feira (26), Kátia diz saber o risco que corre, mas não cita a palavra prisão.
“A semana passada estive muito mal. O cansaço e a desesperança se abateram sobre mim. Sei do risco que corro e é claro que sinto medo”, escreveu na carta.
Kátia Rabello foi acusada pelo Ministério Público de conceder, sem observar as regras do Banco Central, empréstimos a agências de Marcos Valério, apontado como operador do mensalão, o suposto esquema de compra de votos no Congresso durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
A banqueira foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal por lavagem de dinheiro (de 3 a 10 anos de prisão) e gestão fraudulenta (de 3 a 12 anos de prisão). A dosimetria da pena (cálculo de quanto tempo cada condenado ficará preso) será feita ao final do julgamento.
Segundo a carta, Kátia diz viver “momentos terríveis” após a morte de José Augusto Dumont, ex-vice-presidente do Banco Rural, em um acidente de carro em 2004. Para a defesa de Kátia, Dumont foi o responsável pela liberação dos empréstimos.
“Nesses últimos quase dez anos, desde a morte do Zé Augusto, vivi momentos terríveis. Por muitas vezes me deixei abater, não por covardia, mas por temer que tudo o que eu fizesse, e por mais que me esforçasse para fazer o certo, fosse insuficiente perante as situações que a vida me trazia. Essa sensação de impotência é que nos faz perder a razão de viver. Sim, porque ninguém, em sã consciência, pode querer viver só por “diversão”. A vida é dura demais…”, diz trecho da carta.
A banqueira diz ter entrado em desespero em 2004 e 2005, período que ela chama como “pior momento do banco [rural]. “Passei pelas mortes da minha irmã, do Zé Augusto, e finalmente a morte do meu pai, que sinceramente não tive como chorar, pois aconteceu entre as crises do Banco Santos e do mensalão. O pior de tudo foi o pânico que eu tinha de causar prejuízo a quem confiou em mim”, diz a carta.
Kátia também diz ter sido “injustiçada”, mas que está “em paz” por saber o que fez.
“O sentimento de injustiça dói demais, e nessa vida não temos a escolha de sermos ou não injustiçados. Temos, porém, o livre-arbítrio que nos permite a escolha de sermos ou não injustos… E cada um é obrigado a conviver com a consciência de seus atos. Lá no fundo, cada um de nós sabe o que fez e o que não fez… Por isso estou em paz”, afirma em texto.
Ao final da carta, ela diz “sofrer pelos colegas” e considera “absurdo” serem envolvidos “nessa história”. “Mas a verdade às vezes é inconveniente”, diz.
A banqueira encerra a carta dizendo que todos devem ser “fortes e continuar lutando”.