Início da década de 1990. Alberto Braga, morador do bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, possuía uma agência de publicidade com o irmão. Porém, devido à crise econômica que assolava o Brasil na época, precisou se desfazer da empresa. Mas “Betoge” – como é conhecido desde criança – fez da dificuldade uma oportunidade. Comprou um táxi e, com seu novo emprego, pôde se dedicar mais à sua grande paixão: competir de moto.
“Troquei minha agência por um táxi e considero que fiz um ótimo negócio. Na época do Plano Collor, firmas pequenas acabaram terminando. Precisei me desfazer da agência. Com isso, decidi comprar o táxi para ter independência. Sempre quis ser corredor de moto e queria ter um emprego próprio que me desse liberdade de conciliar minha agenda e realizar meu desejo de competir. Como sou autônomo e tenho próprio carro, trabalho de segunda a sexta. No fim de semana não trabalho para poder treinar. Coloquei isso para mim. Da publicidade a gente aproveita o jeito de fazer contato nos autódromos, divulgação – explica.
Campeão de torneios estaduais na década de 1980 e de 2000, Betoge conquistou seu primeiro título nacional em 2012. Com 50 anos, o motociclista carioca faturou a taça da Moto 1000 GP da divisão Master (para pilotos acima de 48 anos) pela equipe Center Moto, assegurado na última etapa do ano, em dezembro, em Curitiba (PR). O campeonato é idealizado por um dos maiores representantes do motociclismo brasileiro: Alexandre Barros, que competiu no mundial de Motovelocidade de 1988 a 2007, juntamente com Gilson Scudeler, heptacampeão nacional. A competição, que possui mais quatro categorias, foi criada em 2011 e acaba de ser homologada pela Confederação Brasileira de Motociclismo como novo Campeonato Brasileiro de Motovelocidade.
– Disputo torneios nacionais há anos e surgiu oportunidade de participar da Master acima de 48 anos. Ganhei minha primeira moto com 12 anos, aos 16 comecei a competir no carioca e no brasileiro em 1980. Ganhei vários campeonatos no RJ e o nacional veio agora. Tem muito de determinação, de ir em busca das coisas. E consegui. Foi muito bom. Só com pessoas feras – conta o piloto, que guiou uma Suzuki.
Juntamente com a Master, Betoge competiu na categoria principal, com pilotos de todas as idades. E apesar de mais velho que a molecada, fez bonito. Na classificação geral ficou em sétimo dentre 41 pilotos. O título ficou com Luciano Ribodino.
– O pessoal da Pro é mais jovem e por isso anda mais rápido. Pela experiência que tenho de pista, consegui me manter a poucos segundo deles. Estamos nas pistas há muitos anos e, mesmo com a idade a gente ainda está se mostrando competitivo. Isso é muito legal. O importante é treinar muito. E acredito que se conseguirmos treinar ainda mais, chegaremos entre os cinco primeiros – arriscou.
Categoria apadrinhada por Alex Barros
E entre os competidores da Pro, estava o próprio Alexandre Barros, padrinho do campeonato. Porém, Betoge conta que o paulista de nível internacional que já venceu 11 corridas no Mundial de Motovelocidade participou apenas de algumas provas para não “estragar” a brincadeira.
– Ele é muito rápido. O nível dele é muito alto. Ele entrava na pista nos treinos e participava de algumas corridas, mas não de todas. Deixava para o pessoal também, né? Sou fã dele desde jovem, e ele é mais novo que eu. Conheço o Alexandre há tempos. Desde os anos 80, 90, dos autódromos. Hoje em dia a relação é diferente. O cara é um ídolo. Mas mesmo assim, é muito simples. Dá atenção a todos, dá toques. Tem um lado muito profissional. Orienta o filho, que guia bem e ganhou uma das categorias. O evento é muito profissional. O Gislon, que organiza com ele, faz um ótimo trabalho também Estão de parabéns – contou, destacando a presença do filho de Alex, Lucas Barros, de 17 anos, vencedor da Moto 1000 GP Light.
E o primeiro título nacional de Betoge veio justamente em um ano complicado para o esporte a motor em sua cidade natal, o Rio, em razão do fim do Autódromo de Jacarepaguá para dar lugar ao parque olímpico para os Jogos de 2016. Com o fechamento da pista que recebeu o Mundial de Motovelocidade e era o único palco para a prática da modalidade no estado, o taxista teve dificuldades para conseguir treinar e precisou se desdobrar para se manter competitivo e conquistar seu primeiro título nacional. Por diversas vezes, precisou viajar com a equipe para realizar treinamentos em outros autódromos, como o de Interlagos em SP.
– O problema é que ficamos sem autódromo no Rio de Janeiro. Então fica cada vez mais difícil para treinar. A gente aproveita track days e outros eventos em outros estados para aproveitar pra treinar. Mas não é só o piloto que treina. Também é equipe, mecânico, etc. Depende de muito trabalho e logística e felizmente conseguimos conciliar isso tudo.