Em vez de alunos, galinhas. Elas invadiram os espaços de convivência e pias de banheiro servem de ninhos. Este é o cenário de abandono na Escola Municipal Vinícius de Moraes, localizada no município de Tapurah, a 414 quilômetros de Cuiabá. Há quase três anos, nenhuma criança corre pelos corredores da escola.
Engolida por um lixão irregular a céu aberto que foi ganhando cada vez mais espaço com o passar dos anos, estudar na Vinícius de Moraes tornou-se um risco. A fumaça formada pela combustão espontânea do lixão e queimadas feitas pelos próprios moradores invadia as salas de aula e impedia o aprendizado dos alunos. Na queda de braço entre lixão e a escola, venceu o lixão. Entregue à população rural de Tapurah em 1997, a escola, de quase dois mil metros quadrados de área construída, fechou as portas.
O atual prefeito de Tapurah, Luiz Umberto Bickhoff, disse que a escola retrata um descaso com o dinheiro público. “A gente assumiu há poucos dias. Estamos providenciando uma limpeza para tirar de lá um galinheiro que se formou com o abandono. É um desleixo com o patrimônio público. Essa escola tinha uma estrutura muito boa”, afirmou o gestor.
Ao encerrar as atividades, a administração da escola deixou para trás uma estrutura que também é consumida pelo tempo. Máquinas de costura e de cortar grama, apostilas, carteiras, mesas, aparelhos de ar condicionado, impressoras, entre outros, estão acumulados em salas de aula sem nenhum uso.
Para piorar a situação, segundo informou o prefeito, dois homens que residem na escola abandonada estão degradando ainda mais o prédio. Um deles seria o dono das galinhas que tomaram conta do lugar e têm até uma sala exclusiva que serve de criadouro dos filhotes. O outro é catador de lixo. Todo material reciclável retirado do lixão por ele vai parar no pátio da escola que se transformou em depósito, principalmente, de pneus velhos.
A ausência da escola Vinícius de Moraes também tem causado uma superlotação nas outras unidades escolares. O secretário de Educação Jonas Chaparini afirma que há salas com mais de 35 alunos. “A escola faz muita falta. A cada ano, entre 70 e 80 novos alunos são inseridos no município. Em salas com muitos alunos, geralmente, o aprendizado não é o mais satisfatório”, ressaltou.
Responsabilidade
Diante do abandono, a Promotoria de Justiça do município abriu um procedimento de investigação para apurar quais serão as providências tomadas pela atual gestão para a Vinícius de Moraes voltar a funcionar. “Já instaurei um procedimento e os secretários de Educação e de Obras do município serão intimados a prestar esclarecimentos sobre o descaso em que está a escola.
A intenção é que eles mostrem o que será feito na escola daqui por diante”, afirmou o promotor Diogo de Araújo Lima. O promotor também informou que as gestões anteriores também serão investigadas.
O lixão de Tapurah já foi alvo de uma ação judicial interposta pelo Ministério Público Estadual (MPE). Localizado a dois quilômetros do perímetro urbano, o lixão coloca em risco a vida de todos os moradores. A meta da prefeitura é fechar o local totalmente para implantar até 2014 a coleta seletiva do lixo na cidade. Atualmente, parte do lixo produzido na cidade é levado para um aterro sanitário em Sorriso, por meio de um consórcio.
“Temos que criar uma alternativa e ter um critério para o descarte do lixo. Fomos notificados pela Sema [Secretaria Estadual de Meio Ambiente] para criarmos uma outra área para abrir um aterro sanitário. A atual área não dá nem para ser licenciada”, revelou o prefeito.
Já em relação à escola, o prefeito informou que, além da limpeza, todos os equipamentos e carteiras da escola em condição de uso serão reaproveitados. Um funcionário será contratado para fazer a segurança do espaço físico da escola. Para a administração municipal, após o fechamento do lixão, a escola poderá voltar a funcionar.