A Embrasystem, empresa rio-pretense que mantém a Bbom, só conseguiu comprovar na Justiça a venda de 10% dos 1,2 milhão de rastreadores que afirma ter vendido no País pelo esquema de marketing multinível. “Apresentaram apenas algumas notas de venda futura”, afirma a procuradora Mariane Guimarães de Mello Oliveira, do Ministério Público Federal (MPF) em Goiânia.
Para ela, a falta de provas da venda real do produto só reforça a tese de que a BBom promove uma gigantesca pirâmide financeira, o que no Brasil é considerado crime contra a economia popular. “Ninguém está atrás do produto, mas da lucratividade que a empresa oferece. No marketing multinível de verdade, a pessoa quer o produto. Na pirâmide, o produto é um detalhe”, diz.
Há 20 dias, a Justiça Federal de Goiânia concedeu liminares suspendendo as atividades da BBom e bloqueando R$ 300 milhões em dinheiro e mais R$ 30 milhões em automóveis de luxo pertencentes à Embrasystem e a seu proprietário, o rio-pretense João Francisco de Paulo, 56 anos. A medida já causou um prejuízo de R$ 100 milhões, segundo o dono. “Estão destruindo a empresa”, diz.
Na próxima semana, a procuradora pretende ingressar com ação civil pública pedindo o encerramento definitivo da Bbom e suas associadas, além da devolução de todo o dinheiro bloqueado judicialmente aos consumidores que adquiriram o produto. “Conseguimos intervir antes do esquema naufragar”, diz Mariana. De acordo com a procuradora, pirâmides demoram de um ano a um ano e meio para quebrar. A Bbom acumula 2,4 mil reclamações no site Reclame Aqui.
O negócio da Bbom no sistema marketing multinível durou três meses, período no qual a Embrasystem faturou R$ 300 milhões. O patrimônio da empresa, bloqueado judicialmente, inclui duas Ferraris, oito Mercedes, um Rolls Royce e quatro Lamborghinis. Fruto de um crescimento que o próprio João Francisco define como “assustador”.
“Eu também fiquei perplexo. A evolução foi grande, me assustou também. Eu achava que (com o marketing multinível) iríamos vender 10 mil rastreadores por mês. E cheguei a vender 200 mil. Qual empresa faz isso?.” De acordo com a Junta Comercial, a Embrasystem foi criada em 2010, com capital social de R$ 100 mil. Em maio de 2013, quando deu início ao marketing multinível, o capital evoluiu para R$ 1 milhão, dos quais R$ 990 são de João Francisco – os outros R$ 10 mil pertencem a Jefferson Bernardo de Lima.
A negociação do empresário se resume a três tipos de pacote: o bronze (R$ 600), o prata (R$ 1,8 mil) e o ouro (R$ 3 mil), referente à compra de rastreadores – quatro produtos no bronze, 12 no prata e 20 no ouro. Além do valor, cada cliente tem de pagar R$ 60 de adesão e R$ 80 mensais durante 36 meses.
São cerca de 300 mil associados em todo o País. Com a adesão, o associado recebe um valor que seria do aluguel feito pela empresa dos rastreadores comprados. O ganho maior, porém, está relacionado à indicação de novos membros. Quanto mais indicar, mais o associado ganha. “Por isso eu falo que as pessoas têm que implantar isso (marketing multinível) correndo nas empresas deles. Se os empresários acordarem para esse processo, em pouco tempo o Brasil será uma das maiores potências do planeta.”
‘É TUDO LEGALIZADO’
O empresário João Francisco de Paulo confirmou que entregou poucas notas fiscais relativas à venda de rastreadores à Justiça Federal em Goiânia. Mas alegou que as notas apresentadas são apenas uma “amostra” do total. “Se entregarmos tudo, a Justiça vai ficar um mês só analisando nota fiscal.”
Ele defendeu a legalidade do negócio. “Não é pirâmide financeira, é um negócio que dura 12 meses (período em que dura o contrato do cliente com a empresa), não é infinito”, defende. João Francisco também garante que a Embrasystem tem capacidade de distribuir todos os rastreadores que comercializa. “São enviados pelo correio 5 mil equipamentos por dia, que compramos de fábricas em Betim (MG) e nos Estados Unidos.”
O empresário também afirma que todo o patrimônio seu e da empresa tem base legal. “Se houvesse algo ilegal, você acha que eu seria maluco para deixar tudo no meu nome e da empresa? Tudo o que foi bloqueado está declarado à Receita. Jamais iria comprar um carro de R$ 1 milhão sem ter dinheiro em caixa. É tudo legalizado. Pode vasculhar a minha vida. Nunca pensei em esconder patrimônio.”
Para João Francisco, o Ministério Público está sendo influenciado por “pessoas maldosas e desonestas”. “Confio que vamos reverter esse bloqueio judicial em breve, e provar a legalidade dos nossos negócios”. A confiança é tanta que a Bbom já anuncia a venda de mais produtos, além dos rastreadores, a partir do próximo mês: perfumes, relógios, tablets e até remédios e café “premium”.