Selton Mello já namorou beldades da TV, mas seu último affair passou longe dos paparazzi. Aos 11 anos, mudou-se com a família toda para o Rio para atuar em sua primeira novela na Rede Globo, “Corpo a Corpo”. “A gente, praticamente, nunca tinha visto o mar”, lembra. Ganhou fama como ator versátil mas, no entanto, não faz uma novela há 14 anos, colecionando prêmios como diretor.
Aos 40 anos, é um homem difícil de rotular. É mineiro convicto da sua discrição e paulistano aficionado por trabalho. Não está nem aí para o que dizem dele. Não busca seu nome no Google, não tem perfil no Facebook, está pouco ligando para o que pensam de seu desempenho sexual ou de suas escolhas profissionais. “Olha, se você quiser ficar deprimido, dá um Google no seu nome. Ou abre uma conta no Facebook. Eu não tenho perfil lá porque virou um lugar muito agressivo”, conta. Fez carreira fora do Projac e uma vida à margem dos padrões – e do casamento. Nesta conversa franca, entre um cigarro e outro, ele falou à Marie Claire o por quê de todas essas escolhas. Veja, abaixo, um trecho da entrevista. A versão completa você encontra na Marie Claire de outubro, nas bancas a partir de 27 de setembro.
Você se tornou ator e diretor respeitado, cheio de prêmios, ainda muito jovem. Isso lhe assusta?
Eu chego aos 40 anos com tudo isso, mas não me acho o melhor diretor nem o melhor ator da minha geração. Conheço minhas limitações, não me deslumbro fácil. Ter começado novo (em 1982, Selton estreou no seriado Dona Santa, da TV Bandeirantes e, aos 11 anos, havia se mudado para o Rio para seu primeiro papel na Rede Globo) me fez ver os meus sucessos e os meus fracassos. E os dos outros também. Vi muito ator jovem que, com 20 e poucos anos, é descoberto pela televisão, faz uma novela e acha que é “o cara”. Mas não é. O que interessa nessa profissão é a constância.
Você fala em constância, mas como foi a carreira depois desse primeiro grande papel?
Nada aconteceu! Dos 12 aos 18 anos parei de ser chamado como ator e meu mundo caiu. Tinha 15 anos, fazia teste para um papel de 15 anos e quem pegava era um ator de 25! Hoje em dia sei que funciona assim, porque um ator mais velho consegue elaborar melhor os dramas de um mais jovem. Na primeira temporada do “Sessão de Terapia”, a Bianca Müller, que fez um grande trabalho, tinha 22 e fazia um papel de 15. Hoje entendo, mas na época era um pesadelo, achava que não era bom ator. Só que ainda não fazia terapia.
Você já afirmou que não tinha o fôlego do Rodrigo Santoro de filmar no exterior. Agora, com Trash, o papel caiu no seu colo. Deu certo à sua maneira?
Exatamente. O Santoro teve dois tipos de fôlego. O fôlego físico de estar lá batalhando de novo, de ninguém saber quem você é, e o fôlego emocional, o mais difícil: ficar longe da família, falando outra língua. Não dava pra mim.
Hoje em dia, parece que tudo o que você faz é bem recebido. De onde recebe críticas?
Olha, se você quiser ficar deprimido, dá um Google no seu nome ou abre uma conta no Facebook sendo você mesmo. Eu não tenho perfil lá porque virou um lugar muito agressivo. Ali tem de tudo. Gente ressentida, frustrada.
Você já fez uma pesquisa no Google com seu nome?
Já. Mas, hoje, até as resenhas de filmes só leio meses depois. Nas críticas negativas, às vezes as pessoas não vão com a tua cara e misturam tudo.
Não o incomoda que debatam seu desempenho sexual ou detalhes do seu corpo?
Não. Não tenho problema nenhum com isso.
Mas quando alguém diz que ficou com o Selton Mello, todo mundo sabe quem é. Incomoda seu nome estar nesse tipo de roda?
Não. Meu nome está na roda há anos. Desde criança.
Aos 33 anos, você disse que não se imaginava casado, com filhos correndo pelo quintal. Mudou de ideia?
Não. Continuo igualzinho. E com um pouco mais de certeza e mais em paz com isso. Existe uma pressão muito grande da sociedade com as mulheres, mas com os homens também. Claro que hoje em dia é menos. Pensar dessa maneira está cada vez mais comum.
E filhos?
Acho filho uma coisa legal. Homem tem uma vantagem. Posso ser pai aos 50. De repente, ter um filho sem estar casado, penso em coisas assim. Ter um filho com uma amiga, com uma mulher que admiro, que já namorei ou alguém que saquei que pode ser uma boa mãe e que também não está a fim de casar. Ou não ter filho também. Viver sozinho, por que não?
Por que não?
As pessoas lidam muito mal com a solidão, não conseguem ficar sozinhas. Eu fui ganhando experiência nisso e já tinha um temperamento que me levava a ficar bem assim. Há uma paranoia grande em torno da palavra solidão. Por isso existem as redes sociais. As pessoas estão ali, mas não estão. Tem gente que tem dois mil amigos no Facebook mas só com três conversa sobre coisas íntimas.
Você pensa em solidão e em envelhecer?
Sim. Pode ser que eu vire um velho sozinho, que não tenha filhos. Não penso nisso como uma coisa negativa. Eu vou ter amigos, vou ter uma namorada. Existem outras formas.
Mas a pressão ainda é grande. Você já se pressionou?
Já, quando era mais novo. Mas depois, não mais. Tive namoros longos, outros curtos. Houve de tudo.
Está namorando hoje?
Não. Estava namorando até uns quatro meses atrás. No meu estilo “mineiro low profile”. Namorei uns seis meses. Ninguém soube. Claro, eu não ia ao Sushi Leblon. O Rio de Janeiro é grande, você pode andar por muitos outros lugares.
Ela não era famosa.
Não, não era.
Seus relacionamentos são tempestuosos ou calmos?
Calmos. Não me agradam relacionamentos tempestuosos. Não gosto de neurose, não gosto de briga. DR existe sempre, mesmo nos namoros mais calmos. Mas não gosto de pessoa temperamental e maluca, que quebra as coisas, que sai de casa e bate a porta. Eu gosto de coisas mais plácidas. E isso vale pra tudo.
Sessão de Terapia trata de psicanálise. A pergunta de Freud, no século 19, era: “O que querem as mulheres?”. Acredita que a questão, no século 21, já pode ser respondida a contento?
Não, não dá pra saber (risos).
E o que querem os homens?
Os homens talvez estejam perdidos. Como é que devemos lidar com as mulheres? Entre meus amigos, a gente brinca que tem coisas invertidas. Exemplo: você ficava com uma menina. No dia seguinte, não ligar era uma questão. A mulher falava: “Qual é a desse cara?”. Mas agora acontece o contrário. Você liga e a mulher reage: “Por que esse cara tá ligando? Tá achando que é namoro?”.