Dois tenistas brasileiros vêm sendo protagonistas nas quadras mundo afora na atual temporada. Separados, os duplistas Bruno Soares e Marcelo Melo foram vice-campeões de dois Grand Slams (US Open e Wimbledon, respectivamente) e conquistaram pela primeira vez um Masters 1.000 (Montreal e Xangai, respectivamente). Enquanto o país tem dois representantes no Top 10 do ranking de duplas da ATP – Soares é 3º e Melo, 8º – não há sequer um no Top 100 de simples. Apesar dos importantes feitos e do reconhecimento dentro do mundo do tênis, o caminho percorrido pelos mineiros envolveu menos retorno financeiro, menos partidas diante do grande público e até menos regalias.
Primeiro dos dois a chegar a uma decisão de Grand Slam em duplas masculinas, Marcelo Melo jogou apenas uma partida na quadra central do All England Club, em Londres. Foi justamente a decisão contra os gêmeos americanos Bob e Mike Bryan. Nas semifinais, ele e o parceiro Ivan Dodig atuaram no terceiro estádio de maior capacidade do complexo.
Com Bruno Soares, aconteceu praticamente o mesmo. A final contra Leander Paes e Radek Stepanek em Nova York foi o único jogo que ele e o companheiro Alexander Peya fizeram no estádio Arthur Ashe, o principal de Flushing Meadows e maior estádio de tênis do mundo, com capacidade para aproximadamente 23,2 mil espectadores. A segunda melhor dupla da temporada disputou as semifinais na quadra Louis Armstrong, a segunda maior do complexo, mas o restante dos compromissos foram todos em locais mais acanhados.
A principal vilã, no ponto de vista dos duplistas, são as emissoras locais de televisão, que buscam audiência em cima das partidas dos grandes tenistas do circuito e por vezes chegam a prejudicar os outros atletas.
– Em Grand Slam é complicado. É difícil colocar todo mundo para jogar na quadra central até a final. Isso eu entendo. Mas há certas horas que as pessoas cometem alguns erros nas programações. Foi o que aconteceu comigo em Roland Garros. Por descuido da organização, acabou embolando. Às vezes, eles precisam ter mais atenção e muitas vezes acho que têm que ser negado alguns pedidos. Um dia, a TV (francesa) fez uma solicitação para que o jogo entre Djokovic e Dimitrov fosse à noite, e eu acabei tendo seis dias de distância entre a primeira e a segunda rodada por causa disso. Um jogo acaba influenciando todo mundo – disse Bruno Soares.
Em torneios de menor nível, a participação em quadra principal é bem mais comum. Na estreia no ATP 250 de Viena, na Áustria, por exemplo, Soares e Peya fecharam a programação do dia justamente na mais importante quadra do complexo.
Privilégios discrepantes, mas respeito igual
Não é só na programação que os duplistas levam a pior. A premiação para os tenistas de simples também é bem superior. O montante arrecadado por um campeão de US Open, por exemplo, é 11 vezes maior que a quantia embolsada pelos campeões nas duplas (se a parceria dividir meio a meio o prêmio pelo título). Em Roland Garros, onde as gratificações são as mais próximas dentre os quatro Grand Slams, essa diferença é de oito vezes.
Nem mesmo os irmãos Bryan, que conquistaram três Grand Slams neste ano (Aberto da Austrália, Roland Garros e Wimbledon), conseguiram encher o bolso tanto quanto os principais tenistas que jogam na simples. Segundo dados da ATP do dia 21 de outubro, cada um dos gêmeos ganhou aproximadamente US$1,4 milhão, muito abaixo dos cerca de US$10,9 milhões faturados por Nadal. Inclusive, este dinheiro embolsado pelo espanhol na temporada é praticamente o mesmo arrecadado em toda a carreira por cada um dos irmãos de 35 anos.
– O cenário da dupla é assim há muito tempo. A premiação sempre foi assim. A dupla é uma modalidade diferente da simples. A simples está em outro patamar. A dupla é diferente, que por motivos outros, não tem a mesma valorização e acho que nunca vai ter. No circuito há um respeito, principalmente dos tops e dos caras que jogam também a simples, pela dificuldade de jogar grandes torneios em alto nível nas duplas. E quem é fã de tênis gosta demais das duplas. Nos clubes, no cenário amador, a dupla é jogada em muito mais quantidade que a simples. Mas a nível geral e para os leigos, isso já é bem diferente – avaliou Bruno.
Fora a maior preferência na quadra central e a maior premiação, alguns tenistas de simples ainda recebem mimos nos torneios. Os principais astros – como Novak Djokovic, Roger Federer, Rafael Nadal, Andy Murray – e estrelas – como Serena Williams, Maria Sharapova e Victoria Azarenka – são agraciados com os mais diversos presentes possíveis. Quando jogou o Aberto do Brasil, em fevereiro, Nadal ficou hospedado em uma luxuosa cobertura em São Paulo. Federer ganhou uma vaca de presente dos organizadores do ATP de Gstaad, na Suíça. E Djokovic e outros tops tinham vestiário personalizado no Masters 1.000 de Xangai.
– Todos temos o mesmo tratamento, desde a comida até o hotel. Claro que os tops, como no caso do Federer, devem ficar em quartos maiores, mas isso, no meu ponto de vista, é mais do que normal acontecer – apontou Marcelo Melo.