Mesmo foragidos da Justiça há mais de 1 ano desde que conseguiram um polêmico habeas corpus concedido pelo então desembargador Manoel Ornéllas de Almeida num plantão de domingo em 27 de janeiro de 2013, 4 integrantes da família Pagliuca apontada como participante de um esquema de tráfico interestadual de drogas, tiveram as prisões novamente decretadas. Contudo, dessa vez a ordem é relativa a outro processo, que eles também pontuam como réus, envolvendo uma tentativa de compra de uma sentença judicial no valor de R$ 1,5 milhão para libertá-los da primeira prisão. Os fatos foram investigados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e resultaram na Operação Assepsia deflagrada em 9 de abril de 2013. À ocasião, entre os alvos dos 5 mandados de prisão estava um servidor do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).
A ordem dada pela juíza Selma Rosane Santos Arruda, da Vara Especializada Contra o Crime Organizado de Cuiabá, é para prender o fazendeiro Adalberto Pagliuca Filho, 59, sua esposa Regina Célia Cardoso Pagliuca, 47, e os filhos do casal, Adalberto Pagliuca Neto, 33, Régis Aristide Pagliuca, 31. Eles são do município de Porto Esperidião (326 Km a oeste de Cuiabá) e existem suspeitas de que tenham ido para a Bolívia após o polêmico habeas corpus ter sido cassado dias depois atendendo a recurso impetrado pelo Ministério Público Estadual (MPE) que se posiconou contrário ao relaxamento das prisões.
Adalberto Pagliuca Neto foi condenado em setembro do ano passado a 11 anos e 8 meses de prisão, além de 1.4 mil dias-multas por tráfico de drogas. A pena deve ser cumprida em regime fechado, mas ele segue foragido.
Um dos motivos de a juíza ter decretado a prisão dos 4 é porque eles foram devidamente citados e intimados por edital, mas não compareceram em juízo e não constituíram defensores. “Provada a existência do crime e presentes os indícios de autoria e despontando, ademais, a necessidade da medida excepcional, está legitimada a prisão preventiva. Nos autos há prova da existência dos crimes e existem fortes indícios de autoria em relação os acusados supra referenciados. O fato de terem se evadido do distrito da culpa e encontrarem-se foragidos, tendo inclusive, mandando de prisão preventiva decretada em outro processo pendente de cumprimento, por si só, já autoriza o decreto cautelar”, diz trecho da decisão proferida na última quarta-feira (7).
A Operação Assepsia foi deflagrada em Mato Grosso e outros 11 estados para prender acusados de corrupção. No Estado foram expedidos 5 mandados de prisão e entre eles estava Adalberto Pagliuca ainda não não chegou a ser preso em virtude de já estar foragido. No total, foram 10 pessoas investigadas, e entre elas, o hoje ex-vereador João Emanuel Moreira Lima (PSD) que à época era o presidente da Câmara de Cuiabá, mas não teve prisão decretada em seu desfavor. Neste caso, sua participação era devido sua condição de advogado com suposta ligação à família de traficantes e não com sua atividade parlamentar.
Nessa nova decisão, a magistrada mandou expedir ofício à Penitenciária Central do Estado (PCE), requisitando cópias dos controles de visitas feitas por João Emanuel à época dos fatos. Determinou ainda que seja emitido ofício ao cartório distribuidor, requisitando o levantamento dos processos relativos à família Pagliuca e os respectivos advogados que atuam e atuaram nesses processos, visando obter informações acerca da habilitação do acusado João Emanuel como advogado em algum deles.
Na operação do Gaeco em abril de 2013 foram presos o servidor do Judiciário mato-grossense, Clodoaldo Souza Pimentel, 34, o advogado Almar Busnello, 37, o bacharel em Direito Marcelo Santana, 37 e o empresário Milton Rodrigues da Costa, 57, dono de um posto de combustível. O quinto alvo dos mandados de prisões era o fazendeiro Adalberto Pagliuca Filho, 59, que seria beneficiado com a sentença ao lado da esposa, 3 filhos e o genro. Os investigados foram denunciados no mesmo mês da operação.
Pagliuca é acusado pelo Gaeco de ter articulado suborno junto a advogados e ao servidor do Tribunal de Justiça de Mato Grosso justamente para tentar “comprar um habeas corpus” que o retirasse da cadeia. Ele estava preso desde novembro de 2011 quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Mahyah deflagrada em 25 de novembro daquele ano na região de Porto Esperidião (326 Km a oeste de Cuiabá) prendendo também a esposa dele, os filhos Adalberto Pagliuca Neto, Régis Aristide Pagliuca e Elaine Cristina Pagliuca Silva, o genro do fazendeiro, Joelson Alves da Silva e ainda o traficante já condenado, Lori Gasparini. Depois de habeas corpus cassados, todos passaram a ser foragidos.
Elaine Cristina Pagliuca Silva e seu marido Joelson Alves da Silva foram presos em setembro de 2013 em Várzea Grande, após uma denúncia feita à Polícia apontando que tinham acabado de chegar da Bolívia.