O setor automotivo brasileiro colecionou resultados negativos em 2014 e prevê que 2015 não será diferente, com uma conjuntura que vai dos pátios cheios e demissões em massa às férias coletivas e a elevação de impostos. Apesar do cenário ruim e das promoções constantes na televisão, as montadoras conservam os preços dos veículos no mesmo patamar.
Em alguns casos, houve até mesmo um aumento de preço em relação ao ano passado, maior até do que a inflação no mesmo período.
O primeiro vilão é sempre o imposto. Mas o economista do Cofecon (Conselho Federal de Economia) Luciano D’Agostini, doutor em desenvolvimento econômico pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), afirma que, além da carga tributária — que subiu com a volta do IPI —, o preço do carro ainda tem quem cobrir os custos de produção e a margem de lucro dos empresários.
— Para se ter uma ideia, os impostos em cascata equivalem a uma carga tributária que varia de 40% a 55% do preço do carro. Além disso, há os custos físicos da indústria, como mão de obra, matéria-prima e energia elétrica, por exemplo. E essa última, teve um forte aumento neste ano, que pressionou mais ainda os custos.
D’Agostini explica que, como as empresas não podem mexer nos impostos, é preciso analisar a margem de lucro. No entanto, segundo ele, por causa do custo-Brasil, o lucro das indústrias, de forma geral, tem caído desde 2010.
— Quem tem uma empresa precisa ter uma margem de lucro mínima preservada para que o negócio valha a pena. Um cálculo possível seria a taxa básica de juros somada à inflação e ao risco país. Atualmente, a Selic [juros básicos] está em 13,25% com tendência de subir para 14%, a inflação está próxima a 8% e o risco Brasil é de cerca de 2%. Isso dá um percentual em torno de 24%.
Trabalhadores
Com a margem de lucro reduzida, resta às empresas cortar os custos da mão de obra, ou seja, demissões, férias coletivas e lay-offs (suspensão do contrato de trabalho). O ano passado já teve recorde de suspensão temporária de trabalho nas montadoras, este ano o número segue em alta.
O ano de 2014 começou com 135.429 pessoas trabalhando na produção de veículos no País e terminou com 125.977 trabalhadores, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Já 2015 começou com 125.778 funcionários e, em abril (último dado divulgado), havia apenas 122.204 trabalhadores empregados.
E não são só as montadoras que estão demitindo. A crise também já afeta as concessionárias. O presidente da Fenabrave (Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores), Alarico Assumpção Júnior, já havia dito, em janeiro, que “as demissões nas montadoras pioram o cenário para as concessionárias”.
— Se você produz menos, você vende menos.
A federação informou, no início deste mês, que 12 mil funcionários foram demitidos das concessionárias nos primeiros quatro meses deste ano, porque 250 autorizadas fecharam as portas no Brasil, motivado pelo encolhimento do mercado. Isso significa que mais de uma concessionária fechou por dia desde 1º de janeiro até hoje.
O presidente da Anfavea, Luiz Moan Yabiku Junior, afirma que todos esses fatores estão afetando a confiança do consumidor e a dos empresários.
— Entendemos que é de fundamental importância a realização o mais rápido possível dos ajustes fiscais na economia. Desta forma, as regras ficarão claras, o planejamento será mais preciso e a atividade será retomada.
Salário
Segundo D’Agostini, o salário dos trabalhadores aponta outro problema: ele é alto em relação à produtividade do brasileiro, mas é baixo em relação ao poder de compra.
— Assim como o setor imobiliário, o mercado automotivo precisa de crédito para fechar negócio, porque, sem financiamento, o trabalhador dificilmente consegue comprar um carro ou um imóvel. O preço do bem é alto comparado com o salário.
Para o doutor em desenvolvimento econômico, a forma de melhorar a produtividade do brasileiro e diminuir o custo da mão de obra é aumentando a educação do trabalhador.