Agora MT Esportes Artes Marciais Faixa-preta na cozinha, Alex Atala tem o jiu-jítsu como religião: 'Sou viciado'
JIU JÍTSU

Faixa-preta na cozinha, Alex Atala tem o jiu-jítsu como religião: ‘Sou viciado’

Da redação com Globo Esporte
VIA

A cozinha é o templo sagrado de Alex Atala, um dos principais chefs do Brasil. É lá que, em seu renomado restaurante, em São Paulo, um público fiel o aguarda para experimentar seus pratos de “comer rezando”. A devoção à culinária norteia sua carreira, entretanto, sua religião, há mais de 30 anos, é outra: o jiu-jítsu.

Antes de vestir a tradicional roupa de chef e amarrar o avental na cintura, Alex Atala acorda e, todos os dias de manhã, coloca o quimono, envergando a faixa-roxa. A rotina começa no tatame antes de encarar os desafios do cotidiano.

– Tenho 47 anos, comecei no jiu-jítsu lá atrás, quando fui aluno do Marcelo Behring. Por conta da cozinha fiquei muitos anos sem treinar. Sou pai de dois garotos – um de 13 e outro de 21 anos – que há uns cinco anos quiseram começar a treinar, e eu acabei voltando. Conheci o Demian (Maia), que virou meu mestre, amigo e estou viciado em jiu-jítsu outra vez – comenta Atala, em entrevista exclusiva ao Combate.com, enquanto tentava assistir às lutas do ADCC, que aconteceu no último fim de semana.

Apesar das diferenças de ambiente entre cozinha e academia, Atala garante que consegue fazer com que a arte suave influencie em sua vida profissional. A parte mental do esporte lhe dá equilíbrio para lidar com os obstáculos que aparecem em seu caminho.

– Sem dúvidas ele influencia desde a base da minha cozinha. A cozinha é um momento de tensão. Em tudo o que você aprender na vida, em qualquer disciplina, vão dizer: “A pressa é inimiga da perfeição”. Na cozinha, não. Lá temos que ser rápidos e precisos. Estar no meio do caos, sabendo gerir, é uma coisa que eu trouxe do jiu-jítsu para a cozinha, não tenho dúvida disso. Essa maneira de trabalhar compassadamente, sem gritar, é uma coisa que trago desde o início. Nesses últimos anos, treinando com o Demian e vendo como ele é um cara aberto, generoso, que recebe todos da mesma maneira, isso me influenciou a me reposicionar dentro do meu universo, que é a cozinha Fiquei cada vez mais generoso e aberto. O Demian é muito fino e sem dúvida me inspira.

Na filosofia do jiu-jítsu – bem como a dos esportes de uma maneira geral – uma alimentação balanceada é parte da vida dos verdadeiros praticantes. Diante da fartura de opções disponíveis em seu ambiente de trabalho, Atala tenta resistir, mas utiliza um velho ditado para explicar o desafio.

– Minha alimentação é regrada. É… quer dizer: casa de ferreiro, espeto de pau (risos). Eu tenho comida da melhor qualidade o dia inteiro. Às vezes trabalhando, correndo, damos umas escorregadas, mas tenho foco de boa qualidade de comida. Isso posso dizer sem problema. Aquela coisa de comer de quatro em quatro horas, às vezes, dou umas escorregadas.

Em virtude da imagem atrelada à culinária, Atala conta que há desconfiança em relação à sua graduação. Despreocupado e bem-humorado, ele se diverte com os questionamentos.

– Eu vejo muita contestação. A garotada que não sabe que eu treino, diz que eu comprei a faixa, faz parte. Não acreditam que eu cozinho, vão acreditar que eu luto (risos)? – declara.

Sem dar ouvidos às críticas, Atala treina por prazer e bem-estar, contudo, sonha em chegar até a faixa preta. A graduação – acredita – é questão de tempo.

– Não é o meu primeiro objetivo de vida, pois o jiu-jítsu é um momento de tirar a tensão na minha vida. Ainda sou competidor de outra categoria, que é a cozinha. São dez anos dentre os dez melhores do mundo e manter isso é um peso grande, principalmente em um país que não me patrocina e não me apoia. Na verdade, não apoia nem a nova geração, o que é pior ainda. No jiu-jítsu eu quero entrar leve e sair mais leve ainda. Quero a faixa preta, mas não vou criar uma neurose ou tê-la para provar a alguém o que sei ou não sei. É natural, um dia chega, não tenho dúvidas.

Sem acompanhar o MMA na mesma intensidade que segue o jiu-jítsu, Atala torce para os representantes da arte suave elevarem a modalidade ao exibirem suas finalizações no octógono.

– Passo muitas hora dentro do restaurante. É difícil acompanhar de perto. Não sou aquele seguidor ferrenho, mas vejo sempre as lutas dos amigos, como o Demian. Tem também o Ronaldo Jacaré, que é a grande torcida de todo mundo. Queremos ver o crescimento do jiu-jítsu.

Sem tempo para competir, Alex Atala sonha, daqui a três anos, comemorar seu aniversário disputando um torneio da arte suave.

– Tenho um sonho de competir aos 50 anos, não para ganhar, mas para fazer 50 anos bem, em cima do tatame. É uma inspiração que eu tenho – revelou.

Relacionadas

Especiais

Últimas

Editoriais

Siga-nos

Mais Lidas