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Vivência no ringue ajuda membro da tropa de elite da PM de RS

Da redação com UOL Esportes
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Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Para um lutador, há quase sempre uma segunda chance. Por mais dolorida que seja uma derrota, a possibilidade de redenção está já no próximo duelo. Para um policial, não é bem assim. “Se algo sai errado durante o trabalho, o preço pode ser a própria vida”, diz o gaúcho Jessé Melo, lutador de MMA e membro da tropa de elite da Polícia Militar do Rio Grande do Sul. Em conversa com o UOL Esporte, ele explica que não pode usar todas suas técnicas de lutador contra o cidadão “comum”, mas acredita que a vivência no ringue ajuda em seu trabalho nas ruas.

Treino e confronto no mesmo dia

Com 28 anos, Jessé é membro do BOE, o Batalhão de Operações Especiais da corporação. Ele conversou com a reportagem logo após participar da operação que terminou em confronto com manifestantes na porta da Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, no último dia 22. Como soldado, ele está habituado a esse tipo de situação. Mas suas atribuições não param aí. Além do choque, sua tropa lida também com ações que envolvem logística e inteligência, como roubos e assaltos com reféns.

“Acontece de eu treinar e, no mesmo dia, ter um confronto junto com a tropa de choque”, diz Jessé sobre sua “vida dupla”. Lutador há cinco anos, o gaúcho chegou a ficar invicto por seis lutas até perder, na última edição do Jungle Fight, para Rander Júnio. Jessé concilia sua vida de lutador com a de soldado há três anos, quando ingressou na Polícia Militar. Especialista em karatê, ele aproveita seu tempo de folga para treinar. Às vezes, porém, tem permissão para deixar o quartel, treinar e voltar no mesmo dia.

Resistência psicológica

“É no tatame que eu desestresso da minha rotina de policial”, conta Jessé. Para ele, suas aptidões como lutador o ajudaram a entrar e a evoluir na polícia. “Assim como um lutador, um soldado precisa de disciplina e autocontrole. E eu já trabalhava essas qualidades no tatame antes de entrar na corporação”, diz Jessé. O soldado acredita que essas virtudes o ajudaram, por exemplo, nos testes que ele precisou enfrentar para entrar no BOE. “A pressão (nos testes) é muito mais psicológica do que física, então eu estava bem preparado”, explica Jessé.

Como é de se imaginar, o dia a dia do gaúcho está longe de ser tranquilo. “Como policial, nunca sabemos o que nos espera. Eu posso treinar e logo depois ser chamado para um caso de roubo a banco em Caxias do Sul, por exemplo”, ilustra o soldado. Ele acredita que os confrontos de rua durante as manifestações de junho de 2013 foram seu momento mais tenso como policial, mas não tem dúvidas sobre qual situação seria ainda pior. “Acredito que resolver um assalto com reféns é a situação mais delicada que existe, por haver a vida de um inocente em risco”. Felizmente, o soldado ainda não se envolveu diretamente em um caso do tipo.

Nada de golpes

E, para quem imagina que Jessé pode sair usando suas técnicas de lutador como policial, ele deixa claro que nem pensar. “Eu não posso, e seria preso se usasse”, esclarece o soldado. “Posso aplicar o que sei sobre imobilização. Mas não sair por aí dando chutes e socos contra o cidadão comum”, diz Jessé. Ele lembra que o “taser” (aparelho que dá choque) é outro instrumento valioso nesse tipo de contenção, mas revela que, muitas vezes, o confronto contra um desconhecido é mais complicado do que aquele contra um lutador profissional.

“Em um confronto como policial, eu nunca sei o que esperar da pessoa. Ela pode estar drogada, fora de si. Diferente de uma luta, quando há regras e técnicas claras”, explica o soldado. Mas, e se o cara do outro lado sabe lutar como ele? “Já aconteceu. No carnaval, um rapaz veio para cima de mim com a guarda armada. Mas não posso incitar o confronto, então usei o spray de gás lacrimogênio para detê-lo”, diz Jessé.

O soldado tem o apoio de seus colegas policiais, que acompanham suas lutas e o incentivam mesmo em caso de derrota. Porém, escolher entre ser policial e ser lutador seria algo complicado para Jessé. “Seria o mesmo que me perguntar se eu gosto mais da minha mãe ou do meu pai”, brinca o soldado. Entretanto, ele admite que seria difícil recusar uma grande proposta. “Se aparecesse a oportunidade de ser um lutador da elite, não sei não…Acho que eu escolheria ser lutador”.

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