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MANOBRA POLÊMICA

Senna já fez manobras consideradas “antidesportivas”

Da redação com Globo Esporte
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Ayrton Senna e Alain Prost no polêmico episódio que marcou título de 1990 - Foto: Getty Images
Ayrton Senna e Alain Prost no polêmico episódio que marcou título de 1990 – Foto: Getty Images

No GP de Abu Dhabi do ano passado, Ron Dennis, sócio e diretor da McLaren, disse em entrevista “Tenho grandes memórias de Ayrton. No Japão, vivemos dois momentos distintos. Num deles (1989), ele se sentiu enganado (foi desclassificado depois de vencer, o que garantiu o título a Prost) e no ano seguinte um tanto envergonhado (provocou o acidente com Prost, então na Ferrari, para ser campeão)”. Poucos profissionais da F-1 conviveram com Senna tão na intimidade quanto Dennis. Tornaram-se amigos. “Fazíamos apostas para tudo”, disse, rindo. O inglês contou que tempos depois do ocorrido em Suzuka, naquele 21 de outubro de 1990, Senna comentou sentir-se desconfortável por ter usado o mesmo recurso de Prost na temporada anterior, no mesmo circuito.Para Senna, o francês deliberadamente fechou a porta na freada da chicane, na 46ª volta de um total de 53, quando estava sendo ultrapassado, para ambos se tocarem e, com mais pontos no campeonato, celebrar seu terceiro título mundial. Prost somava 76 pontos úteis diante de 60 de Senna. Já em 1990, ao não frear no fim da reta dos boxes para colidir, deliberadamente, na Ferrari de Prost, logo depois da largada, a fim de conquistar seu segundo título por ter mais pontos, 78 a 69, Senna feriu não apenas o piloto francês e seus fãs, mas também a Ferrari e seus milhões de tifosi pelo mundo.

Ayrton Senna e Alain Prost no polêmico episódio que marcou título de 1990 - Foto: Getty Images
Ayrton Senna e Alain Prost no polêmico episódio que marcou título de 1990 – Foto: Getty Images

“O esporte foi apunhalado pelas costas” escreveram os italianos na capa da influente revista Autosprint. O principal jornal de esportes do país, Gazzetta dello Sport, deu em manchete: “O esporte está envergonhado”. As duas publicações destacaram que Senna recorreu a mesma arma de Prost um ano antes. E seus editoriais exigiram da então Fisa, o braço esportivo da FIA, do polêmico presidente Jean-Marie Balestre, uma ação “enérgica e urgente” para que os mundiais nunca mais fossem definidos “de maneira tão rasa”.

O presidente da FIA ampliou, já em 1991, o número de pontos para o vencedor nas corridas, 10 em vez de 9, e todos os pontos seriam considerados. De 1981 a 1990 os pilotos podiam somar apenas os 11 melhores resultados e descartar os demais. Ballestre afirmou, na época: “Acredito que dificilmente, agora, dois pilotos vão se apresentar nas duas etapas finais do campeonato em condições semelhantes às das duas últimas temporadas”.

Ele se enganou. Pois pouco tempo depois, em 1994, Michael Schumacher conscientemente jogou sua Benetton contra a Williams de Damon Hill, no GP da Austrália, último do calendário, para, com mais pontos, 92 a 91, festejar seu primeiro título. O mesmo Schumacher tentou fazer o mesmo três anos mais tarde, em Jerez de la Frontera, na Espanha, na corrida decisiva, contra Jacques Villeneuve, da Williams. A classificação apontava 78 a 77 para Schumacher.

Ainda companheiros e vivendo relação amistosa, Senna e Prost conversam com o chefe Ron Dennis em 1988 - Foto: AFP
Ainda companheiros e vivendo relação amistosa, Senna e Prost conversam com o chefe Ron Dennis em 1988 – Foto: AFP

Só que desta vez deu errado. Villeneuve seguiu na prova e com o terceiro lugar tornou-se campeão. O presidente da FIA de então, Max Mosley, apenas tirou do alemão o simbólico título de vice-campeão do mundo. Preservou para efeito de estatística seus resultados, como as cinco vitórias e as três poles. Ou seja, também não houve punição.Sobre o comportamento de Senna em Suzuka em 1990, na sua luta com Prost, Nelson Piquet, vencedor daquele GP do Japão, com o companheiro de Benetton na prova, Roberto Pupo Moreno, em segundo, comentou com o hoje repórter do GloboEsporte.com: “O Ayrton deu uma sorte danada”. Piquet era o sexto no grid e chegou para a freada da curva 1 com Senna e Prost poucos metros, apenas, na sua frente.

“Do jeito que o Ayrton deu na Ferrari do Prost o mais provável era para ele decolar, só não voou porque a suspensão dos dois carros quebrou.” O belga Thierry Boutsen, da Williams, uma posição à frente de Piquet no grid, embora não tivesse largado bem, tem ponto de vista semelhante. “Prost passou com a roda traseira direita na dianteira esquerda de Ayrton, poderia ser decolado.” O belga era o melhor amigo de Senna na F-1. Fora dos microfones, disse que o piloto da McLaren utilizou a mesma moeda de Prost no ano anterior, no mesmo evento.

Esse foi também o discurso de Jo Ramirez, chefe da equipe McLaren, confidente de Senna em muitas ocasiões. “Ayrton nunca aceitou a ideia de que Alain (Prost) jogou o carro contra ele, em Suzuka, e o próprio Ballestre, ou a FIA, não enxergou que foi uma ação deliberada. Ayrton não suportava a ideia de ter sido punido por cruzar a chicane por dentro e Alain, mesmo batendo de propósito, festejar o título.”

A explicação de Ramirez coincide com o sócio e diretor da McLaren, Ron Dennis, que teve de domar a ira de Senna. Mas não adiantou muito. Diante dos próprios integrantes da entidade, o piloto falou em manobra para Prost ser campeão. Senna precisou pedir desculpas públicas, através da McLaren, para ter a superlicença validada e disputar o Mundial de 1991.

Para Ramirez, no primeiro momento Senna se sentiu aliviado com a exclusão de Prost da corrida e ele, desta vez, comemorar seu segundo campeonato. “Senti dentro dele que finalmente se fez justiça.” O companheiro de Senna na McLaren, Gerhard Berger, quarto no grid, assumiu a liderança do GP do Japão com o abandono de Senna e Prost. Mas rodou no começo da segunda volta e abandonou.

Sem saber que um tempo depois Senna assumiria ter agido de propósito, Berger falou: “Ayrton nem olhou para Alain depois do acidente. Para mim, ele quis passar a mensagem de que você recebeu o que merecia pelo que fez um ano antes”. Berger e Senna seriam ainda companheiros na McLaren nos dois anos seguintes, 1991 e 1992 e desenvolveram grande amizade.

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