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Show de Simone Mazzer com o grupo francês Cotonete é ótima festa funk

Da Redação com G1
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Imagem: Simone Mazzer
Foto: Reprodução

Feito na pressão do suingue funky do Cotonete, em duas apresentações na cidade do Rio de Janeiro (RJ) que lotaram a arena do Sesc Copacabana nas noites de ontem e anteontem, o show que junta Simone Mazzer ao grupo francês é extremamente fiel ao álbum que chegará às plataformas digitais na primeira semana de maio, mas que já poderá ser ouvido no portal SoundCloud ainda neste mês de abril de 2017. Tanto que, além de dois temas instrumentais em que o Cotonete fez pulsar a veia jazzy do octeto, o show somente extrapolou o repertório do disco no bis, quando a cantora nascida em Londrina (PR) cantou o blues Estrela blue (Maurício Arruda Mendonça, 2015) com o toque dos teclados de Florian Pellissier.

O show é uma festa. No fecho desse bis, Mazzer repetiu Se você pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969), diluindo a  batida roqueira dessa grande canção do Roberto (Carlos) com o groove funkeado do Cotonete em número que fez o público levantar e dançar como se estivesse em um baile black. E por falar em dança, Onda (Cassiano e Paulo Zdanowski, 1976) foi jogada na pista da disco music com abordagem menos viajante e menos climática do que o registro do disco, turbinado com coro masculino que dá onda. Nessa música que expõe os refinados caminhos harmônicos do compositor Cassiano, mestre do soul nacional, o Cotonete também pôs um toque jazzy no arranjo – antes de direcionar o tema para a pista das discotecas da década de 1970 – e Mazzer imprimiu a intensidade do canto visceral.

Dona de voz potente, diplomada na escola do canto teatral, a intérprete cantou Ela partiu (Beto Cajueiro e Tim Maia, 1977), outra pérola do soul nacional, com gestual que acentuou o drama do abandono relatado nos versos doídos da canção. No samba Eu bebo sim (Luiz Antônio e João do Violão, 1973), Mazzer também recorre ao gestual teatral na parte inicial do número, destilando finas ironias em clima noturno, soturno e lento que ganha vida, humor e agilidade quando o arranjo do Cotonete cai na (fan)farra em tom polifônico.

Em qualquer clima, Mazzer nunca sai do tom. Segura, a cantora ginga quando o samba-rock Kriola (Hélio Matheus, 1973) é embebido no suingue jazzy-funky do Cotonete, sustenta a leveza pop de Comment te dire adieu (Arnold Golant, Jack Gold e Serge Gainsburg, 1968), acerta o sabor lânguido de É que nessa encarnação eu nasci manga (Luhli e Lucina, 1979) – número lascivo, acalorado pelo strip-tease da atriz Isabel Chavarri (modelo da capa do disco, arbitrariamente censurada no Facebook por conta da ilustração que retrata Chavarri com os seios à mostra) – e evolui na cadência de marcha-rancho que pauta a ousada recriação de Bachelorette (Björk e Sjón, 1997), número em que o Cotonete preserva o estranhamento característico da obra da cantora e compositora islandesa Björk.

Em roteiro que inclui duas músicas da banda francesa Niagara, L’ amour à la plage (Muriel Laporte, 1985) e Je dois m’en aller (Muriel Laporte e Daniel Chenevez, 1985), há espaço para Pipoca moderna (Caetano Veloso e Sebastião Biano, 1975) pular no groove funky, na (panela de) pressão dos metais soprados por Benoît Giffard (trombone), Christophe Eliott Touzalin (trompete), Frank Chatona (saxofone tenor) e Paul Bouclier (trompete) com suingue que evoca o toque da Vitória Régia, banda de Tim Maia (1942–1998), pioneiro do funk-soul nativo.

Embora brilhe sempre que está em cena, pela própria natureza teatral do canto opulento, Simone Mazzer jamais ofusca a pulsação luminosa do som do Cotonete, grande banda (em todos os sentidos) que conta com músicos virtuosos como David Georgelet (bateria), Farid Baha (guitarra) e Jean Claude Kebaili (baixo). A perfeita interação entre cantora e grupo cria clima de festa no palco, com som e música da melhor qualidade. Com apresentação agendada para 4 de maio na casa Tom Jazz, na cidade de São Paulo (SP), o show Simone Mazzer & Cotonete é uma festa para quem tem os ouvidos limpos de qualquer pré-conceito musical, sexual e social. Festa boa, como diria o síndico Tim Maia. (Cotação: * * * * *)

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