As grades que separam as detentas de Rio Claro (SP) da sociedade não impedem que a solidariedade ultrapasse as barreiras.
Quatro reeducandas do Centro de Ressocialização (CR) confeccionam perucas para pacientes com câncer e aos portadores de alopecia, doença que provoca a queda excessiva dos cabelos. ‘É gratificante’, diz uma das voluntárias do projeto.
A oficina de costura ocorre desde agosto, às terças e quintas-feiras à noite, por meio de uma parceria com a ONG Mais Vida, que disponibiliza todo o material de costura. Três máquinas industriais foram doadas pela prefeitura.
Durante duas horas, as detentas produzem cerca de 20 mechas de cabelos. O processo é finalizado pela ONG, que deixa as perucas prontas para serem usadas. Por fim, o material é doado à Rede Rio Clarense de Combate ao Câncer e ao Grupo de Apoio à Crianças com Câncer (GAAC). Fora do CR, a ONG Mais Vida também produz próteses de alpiste para vítimas de câncer de mama.
Resultado aprovado
Beneficiada com uma das perucas, a agente de viagem Eduarda Zanotti aprovou o resultado o final. Cinco meses atrás ela descobriu um câncer de mama, começou a fazer quimioterapia e o cabelo começou a cair. “Eu estava preparada, usei lenço, mas não era o que eu queria”, disse.
Vaidosa, ela soube do trabalho da ONG junto com as reeducandas e foi atrás para conseguir uma peruca.
Segundo a diretora do CR, Maria Batista da Cruz Paschoal, o local abriga 112 reeducandas. Cerca de 95% estão detidas por tráfico de drogas.
Ao menos 106 delas trabalham dentro do CR, das 7h às 16h, montando peças para empresas que mantêm parcerias. Três dias trabalhados reduzem um dia da pena. As reeducandas também recebem um salário mínimo por mês, dinheiro que na maioria das vezes é usado para ajudar a família, explicou a diretora.
Maria disse que preza pela educação e trabalho e que busca parcerias porque o aprendizado abre a mente e dá outra visão de mundo às encarceradas.
A ONG Mais Vida batizou a oficina de Lara Sales da Costa. O bebê nasceu com problemas de saúde e precisou passar por um transplante de medula óssea, doada pelo próprio pai. A recém-nascida lutou pela vida até 1 ano e 9 meses, quando tudo parecia ir bem, a criança teve uma infecção e morreu. Hoje a mãe de Lara participa do grupo como forma de homenagear a filha e ajudar as pessoas que precisam.