O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, por meio do Núcleo de Presidente Prudente, denunciou oito pessoas suspeitas de atuarem como “pombos-correios” a serviço da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
“Quando começamos a trabalhar na Operação Ethos, percebemos que, além de alguns advogados que desempenhavam essas funções, existiam profissionais responsáveis pela entrada e saída de cartas”, afirma Lincoln Gakyia, promotor de Justiça do Gaeco.
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Segundo a denúncia, os supostos integrantes da organização criminosa entregavam cartas, em papel ou cartão de memória, a outros presos, que durante as visitas, repassavam a seus familiares, os chamados “pombos correios”. Essas pessoas, por sua vez, entregavam a correspondência diretamente ao administrador do setor ou para um office boy que repassava ao administrador.
Na denúncia, é citado ainda que as cartas possuem conteúdo “de altíssima relevância” à facção criminosa. Por meio delas, eram transmitidas decisões internas, destinação de dinheiro, prática de crimes, ocupação de cargos dentro da estrutura da organização. Esse, segundo o documento, seria o motivo pelo qual elas costumam entrar e sair dos presídios de forma clandestina, evitando, assim, a interceptação de agentes penitenciários.
De acordo com Gakyia, as responsáveis por alimentar o “Setor dos Correios” do PCC costumam ser mulheres. Das oito pessoas denunciadas pelo Ministério Público, seis são mulheres. Algumas correspondências, segundo a denúncia, continham questões jurídicas, financeiras e até mesmo de cunho pessoal. Porém, “todas elas com extrema relevância para o funcionamento da organização criminosa”, diz o documento.
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As investigações concluíram que as indiciadas recebiam semanalmente o valor de R$ 500 e a pessoa que atuava como office boy era remunerado com o valor de R$ 1,2 mil por mês. “As mulheres que exercem essas funções não são exatamente parte da facção, mas são remuneradas para isso, ou seja, recebem do PCC”, diz Gakyia. “Elas também são chamadas de pontes. Na P2 não tem telefone, as ordens são dadas por cartas.”
Setor dos “Correios”
A denúncia oferecida pelo Gaeco aponta a existência de um gestor da cédula denominada de “Correios” que atuaria, segundo as investigações, com o auxílio de mais duas pessoas. O propósito era, diz a denúncia, era estabelecer a comunicação entre integrantes da organização encarcerados nos presídios e os membros em liberdade.
Já os “pombos-correios” eram responsáveis pela retirada e introdução das informações por meio de cartas manuscritas ou de arquivos digitais gravados em pequenos cartões de memória, inclusive, segundo a denúncia, com informações criptografadas.
O suposto chefe do setor realizava, então, o pagamento dos valores por meio de depósitos em contas correntes. A maior parte recebia, de acordo com as investigações, em nome dos demais acusados. O office boy, porém, integraria a estrutura da facção por meio de pagamentos fixos mensais.
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“A gestão da facção é de dentro para fora e como o uso de celulares é proibido, a correspondência por meio de cartas é comum”, explica Gakyia. Segundo o promotor, atualmente tanto advogados quanto familiares de detentos atuam para transportar as correspondências. “Essas mulheres já foram substituídas.”
Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, a Polícia Civil de Presidente Prudente realizou, na manhã desta quinta-feira (10), a 4ª fase da Operação Ethos, para o cumprimento de oito mandatos de prisão preventiva nas cidades de São Paulo, Mogi das Cruzes, Itapecerica da Serra, Taubaté, Campinas, Itaquaquecetuba e Sumaré.
Segundo o órgão, participam da ação 40 policiais civis do Deinter 8 e do Departamento de Capturas e Delegacias Especializadas.
Mandados de prisão
De acordo com o delegado Everson Aparecido Contelli, coordenador da operação e da Delegacia Central de Polícia Judiciária de Presidente Venceslau, na manhã desta quinta-feira (10), foram expedidos oito mandados de prisão. Até o início da noite, somente a pessoa que executava a função de office boy foi presa. Segundo a Polícia Civil, ele será encaminhado ao Centro de Detenção Provisória de Caiuá, no interior de São Paulo.
No momento, sete mandados de prisão estão sendo cumpridos. “Pelo menos quatro pessoas estão foragidos. Há indícios da localiação de outras três pessoas.” De acordo com Contelli, as cartas chegaram a ser chamadas de ordens de serviço. A prioridade da polícia agora passa a ser encontrar o líder do setor dos “Correios” do PCC e na sequência as seis mulheres que atuavam como pombos correios.