Maradona foi uma espécie de termômetro do comportamento do torcedor na Arena São Petersburgo. Cada gesto, expressão, palavras e palavrões proferidos refletiam o drama vivido pela Argentina na Copa do Mundo. A vitória de 2 a 1, de virada, nesta terça, sobre a ‘eterna’ freguesa Nigéria levou os jogadores, Maradona e todo o povo argentino às lagrimas pela sofrida classificação. A França é o adversário nas oitavas de final, sábado, em Kazan. Líder do Grupo A, com 100% de aproveitamento, a Croácia enfrentará a Dinamarca, domingo, em Níjni Novgorod.
O racha com o técnico Jorge Sampaoli, aparentemente, foi deixado de lado. A falta de uma estratégia bem elaborada de jogo foi compensada com a velha entrega e característica garra argentina. A volta de medalhões como Dí Maria e Higuaín não diminuiu a dependência de Messi, que voltou a ser Messi: na arrancada, no domínio e no indefensável chute de pé direito para abrir o placar, aos 14 minutos. Isolado, Sampaoli comemorou sozinho à beira do gramado, enquanto todos no banco se abraçavam. No camarote, Maradona, em êxtase, agradecia a Deus.
O resultado eliminava a Nigéria, que se viu obrigada a mudar a postura para reagir. Pressionados, os hermanos mantiveram o ritmo alucinante, sem qualquer chance de reação. Mais solto após o primeiro gol no Mundial, Messi deixou Higuaín cara a cara com Uzoho, e quase saiu o segundo gol. De falta, ele, novamente, quase ampliou a vantagem. Após o sutil desvio de Uzoho a bola explodiu na trave.
Melhor, a Argentina administrava o resultado. O jogo perdeu tanto em intensidade que Maradona chegou a cochilar no camarote pouco antes do intervalo. O discurso do capitão Messi para os demais companheiros, no túnel de acesso ao gramado, aumentou a expectativa para a volta do segundo tempo. O gol de Moses, de pênalti, aos cinco minutos, porém, foi um duro gol, sentido não apenas em São Peterburgo, mas como em todo o país. Mascherano, também agarrado, recebeu cartão amarelo pelo puxão em Balogun.
Maradona foi ao desespero, assim como toda a equipe. A Argentina foi só coração. E zero organização. Na base da garra, correu atrás do prejuízo. O rosto sujo de sangue de Mascherano foi o retrato da seleção. Maradona acreditava. Foi preciso segurá-lo para não cair do camarote. Com espaço para contra-atacar, a Nigéria perdeu a chance de fazer história e confirmar, sem susto, a classificação.
A falta de pontaria custou um alto preço. Aos 41 minutos, Rojo emendou o chute de primeira após o cruzamento de mercado: 2 a 1. O gol da classificação levou à torcida ao delírio. E Maradona exagerou, chegando a fazer gestos obscenos em meio à comemoração. O apito final do árbitro turco Cuneyt Cakir tirou o peso de todo um país das costas de 23 jogadores, apesar do visível afastamento do técnico Jorge Sampaoli, que celebrou sozinho a vaga no vestiário.