Um bebê de 11 meses teve um acidente vascular cerebral (AVC) como consequência de uma infecção por catapora, de acordo com relatório publicado no Journal of Pediatrics. A mãe levou a menino para o hospital depois de notar que ele estava apresentando dificuldades para movimentar o lado direito do corpo.
Os médicos descobriram que ele teve um AVC, uma complicação raríssima da catapora que pode atingir as crianças até 6 meses depois de os sintomas da infecção viral desaparecerem. Os autores do relatório acreditam que o bebê contraiu a doença de um dos irmãos mais velhos que não eram vacinados e apresentaram sinais no mesmo período que o caçula. O relatório aponta ainda que o menino provavelmente terá danos neurológicos permanentes.
De acordo com o pediatra e diretor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (RJ), Paulo Cesar Guimarães, o caso reforça que a catapora nem sempre tem uma evolução benigna, como muitos acreditam. “Qualquer infecção deixa o corpo mais suscetível a outras doenças”, explica. “No caso da catapora, o que pode acontecer é ela causar uma inflamação nas veias no cérebro e uma consequente mudança de fluxo sanguíneo que pode provocar um AVC. Se essa inflamação ocorrer nas veias do coração, o infarto também é uma complicação possível, apesar de serem raríssimos em crianças”.
Riscos ainda maiores para adultos
Guimarães alerta que, em adultos, as complicações graves da catapora são muito mais comuns do que em crianças, principalmente nos casos em que ela evolui para herpes zoster, também conhecido como cobreiro. O herpes zoster, doença marcada pelo surgimento de bolhas dolorosas na geralmente nos lábios ou genitais, é uma reativação do vírus da catapora no organismo que pode ocorrer quando o indivíduo está com a imunidade baixa. Para desenvolver herpes zoster, basta já ter tido catapora uma vez na vida.
Um estudo que recolheu dados de 520 mil pacientes entre 2003 e 2013, dentre os quais 23233 tiveram herpes zoster quando adultos, mostrou que os afetados pelo vírus apresentavam 35% mais chance de ter um AVC e 59% mais chance de ter um infarto do que os que não apresentaram a reativação do vírus.
Para evitar esse tipo de complicação, o pediatra recomenda que toda a família, e não só as crianças, se vacinem contra a doença. “Os efeitos colaterais da vacina são raros e muito pequenos, como dor no local e febre se a pessoa estiver com baixa imunidade, desconfortos imensamente menores do que as sequelas que a catapora pode deixar”, afirma.