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Dudu Braga faz o pai Roberto Carlos voltar aos velhos tempos

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Imagem: Roberto Carlos
Dudu Braga e Roberto Carlos – Foto: Reprodução

Como deixar clássicos de Roberto Carlos com cara de novidade? Afastar-se daqueles acordes românticos e apostar numa pegada mais rock and roll seria a grande sacada, pensou e arriscou Dudu Braga. O resultado dessa reviravolta musical está no CD e DVD “RC na Veia”, o primeiro da banda homônima, que tem o primogênito do Rei como seu baterista.

— Eu queria fazer uma “releitura virgem” da obra do meu pai. E convidei músicos que não fossem muito chegados a ele, para não serem influenciados pelo próprio — explica Dudu, que convocou Digão, da banda Raimundos; Toni Garrido, do Cidade Negra; Rogério Flausino, do Jota Quest; e Andreas Kisser, do Sepultura, para a gravação do show, na Casa Natura Musical, em São Paulo.
A maior atração daquela noite de 9 de outubro de 2017, no entanto, ficou guardada para o fim. Vestido a caráter — calça jeans e colete de couro —, Roberto Carlos voltou aos tempos de Jovem Guarda ao dar o ar de sua graça no palco.

— Convidar meu pai para participar do DVD foi uma merda pra mim, num português bem claro. Eu fiquei num conflito! Queria muito que ele topasse, mas não por eu ser filho dele, e sim pela questão profissional em si. Temos um respeito mútuo, e eu não pretendia colocá-lo numa situação constrangedora, de não poder me dizer “não” — lembra Dudu: — Quando liguei para fazer o convite, disse que ele podia ficar absolutamente à vontade para negar, porque eu, mais do que ninguém, sei o quanto ele preza por sua carreira e suas escolhas.

O paizão não só topou na hora (“Vambora, mas qual é a música?”, respondeu, curioso) como não se mostrou nem um pouco invasivo:

— Achei que ele fosse dar muito palpite, porque ambos somos palpiteiros natos. Mas não mexeu em absolutamente nada. Expliquei que a sonoridade era bem diferente da que ele estava acostumado, queríamos baixo, bateria e guitarra, rock raiz — conta o músico: — A verdade é que meu pai é roqueiro, né? Quem já foi nunca deixa de ser. É claro que a gente não vai ver Roberto Carlos cantando com aquela voz gutural dos vocalistas de heavy metal, mas se deixar ele brinca direitinho.

Não deu outra: o Rei se mostrou super à vontade diante da plateia, composta tanto por senhorinhas, fãs suas de longa data, quanto por garotões.

— Quando o vi ali, curtindo adoidado, pensei: “É nós!” — comemora Dudu, orgulhoso do feito: — Além de uma banda inclusiva (por ter um deficiente visual como baterista), a RC na Veia quebra paradigmas: colocamos as românticas para ouvirem rock e os roqueiros para curtirem Roberto Carlos.
Momento emotivo no repertório

Em setembro, os cariocas vão poder conferir, em quatro shows (nos dias 6, 7, 13 e 14) no Teatro XP Investimentos, na Gávea, o repertório da RC na Veia, pela primeira vez no Rio. “Esse cara sou eu” ganhou roupagem punk rock; “Além do horizonte” e “Não vou ficar”, distorções de guitarra em alto e bom som; “Lobo mau” e “Ciúme de você”, uma pegada soul-funk. “As curvas da Estrada de Santos”, “Quando”, “Eu sou terrível”, “Splish, splash”, “Ilegal, imoral ou engorda”, “Você não serve pra mim”, “Parei na contramão” e “É proibido fumar” também estão com arranjos ainda mais vigorosos.

— Ao ouvir tudo, meu pai me falou: “Eu não lembrava que tinha feito tanto rock ‘n’ roll na vida” — acha graça Dudu, de 49 anos.

Uma canção em especial não poderia ficar fora do DVD: “As flores do jardim da nossa casa”, feita por Roberto Carlos quando Dudu tinha poucos dias de vida.

— As tais flores, na verdade, não eram do jardim lá de casa, mas do hospital na Holanda onde eu fui operado com 15 dias de nascido. Essa música foi uma escolha emocional. É tão importante, tão significativa pra mim! No início, quando eu a tocava, era uma baquetada e um lenço de papel para enxugar o choro. Do repertório do RC, é a que mais me emociona, ao lado de “Nossa Senhora”. Mas esta não tem como fazer na versão metal, né? — brinca o músico, sempre bem-humorado.

Mesmo quando o assunto é sua deficiência visual, Dudu demonstra leveza.

— Não quero voltar a enxergar, senão perco o emprego, deixa do jeito que está! — brinca ele, emendando: — Passei por 14 cirurgias. Depois dos 23 anos, a cegueira não teve mais jeito, a retina descolou. Teve um momento de dor, de achar que tudo estava perdido, mas hoje isso não é mais um problemão. Eu rio, conto piada de cego mesmo. Se me impedem, digo que é censura (risos).

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