Um avião militar russo com 15 militares a bordo desapareceu no Mar Mediterrâneo, a 35 km da costa da Síria, durante um ataque aéreo de Israel contra o país de Bashar al-Assad. Segundo a Rússia, a aeronave foi abatida por mísseis da defesa antiaérea da sua aliada Síria. O governo russo acusou Israel de provocar a situação e disse que pode responder. Israel lculpou a Síria e o Irã.
O avião “desapareceu dos radares do comando da aviação durante um ataque de quatro aviões israelenses F-16 contra instalações sírias na província de Lataquia”, disse o ministério da Defesa da Rússia.
Lataquia é um reduto do presidente Bashar al-Assad e abriga um grupamento aéreo da Rússia.
O avião russo, um turbo propulsor de exploração nomeado Il-20, retornava para a base aérea de Khmeimim, na província de Lataquia.
A perda de contato com a aeronave aconteceu por volta das 23h (hora local) de segunda-feira (17) quando ela estava a 35 km da costa síria. Toda a tripulação morreu.
Rússia acusa Israel
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o governo russo está “extremamente preocupado” e estuda a situação.
O porta-voz do exército russo, Igor Konashenkov, acusou Israel de ser responsável pelo incidente, ao executar uma operação armada contra Lataquia e não avisar em tempo sobre a operação.
Konashenkov afirmou que o comando militar israelense “não informou” que executaria a operação e a anunciou a Moscou menos de um minuto antes do ataque, o que “não permitiu levar o avião Il-20 para uma zona segura”.
Também acusou os pilotos dos caças israelenses de deliberadamente colocar o avião russo em perigo, ao camuflar-se em seu sinal de radar, colocando assim o Il-20 “sob o fogo da defesa antiaérea síria”.
“Os aviões israelenses criaram deliberadamente uma situação perigosa para os barcos e os aviões que estavam na região. O bombardeio aconteceu perto do local em que estava a fragata francesa Auvergne e muito perto do Il-20”, prossegui.
O ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu, avisou seu colega israelense, Avigdor Lieberman, que a Rússia considera Israel culpado pelo incidente.
Israel culpa a Síria e o Irã
Em comunicado, a Defesa de Israel lamentou as mortes dos militares russos e culpou a Síria e o Irã pelo incidente. Segundo o órgão, os caças israelenses já estavam no espaço aéreo de Israel quando o avião russo foi derrubado.
“Israel manifesta pesar pela morte dos tripulantes do avião russo que foi abatido nesta noite devido ao fogo antiaéreo sírio. Israel considera o regime de Assad, cujos militares abateram o avião russo, totalmente responsável pelo incidente”, disse. “Israel também considera o Irã e a organização terrorista Hezbollah responsáveis por esse incidente infeliz”.
“O avião russo que foi abatido não estava na área de operações (…) quando os militares sírios lançaram os mísseis que atingiram a aeronave russa, os combatentes (israelenses) já estavam no espaço aéreo de Israel”, afirmou.
A Defesa ainda disse que vai compartilhar com o governo russo as informações relevantes para analisar o incidente.
Envolvimento na guerra da Síria
A Rússia é aliada de Bashar al-Assad na guerra da Síria, que já dura mais de 7 anos e deixou mais de 500 mil mortos, segundo balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
Moscou deu início ao seu apoio militar ao regime sírio em 2015 e, desde então, o governo sírio pôde retomar territórios importantes e estratégicos que estavam ocupados por rebeldes.
Israel bombardeia a Síria mirando a presença de membros da Guarda Revolucionária do Irã e do grupo libanês Hezbollah, que é apoiado por Teerã. O Irã é outro aliado sírio que tem ajudado Assad, com centenas de soldados e algumas bases militares.
Israel teme que os iranianos e o Hezbollah se estabeleçam nas Colinas de Golã, na fronteira sírio-israelense, e bombardeiem o país a partir dali.
Golã é um território sírio que Israel ocupou na Guerra dos Seis Dias de 1967 e anexou mais tarde em uma decisão não reconhecida pela comunidade internacional.
Acordo sobre Idlib
O incidente aconteceu horas após os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e Turquia, Recep Tayyip Erdogan, chegassem um acordo para suspender a ofensiva anunciada do exército sírio contra a província de Idlib.
Os líderes anunciaram a criação de uma zona desmilitarizada de cerca de 20 km que dividirá as posições das tropas governamentais sírias e a oposição armada apoiada pela Turquia.
A província de Idlib, fronteira com Turquia, recebe cerca de 3 milhões de pessoas, incluindo um grande número de opositores deslocados de antigos feudos insurgentes que já foram conquistados pelas forças do governo sírio.