Com o discurso do Estado da União proferido ontem diante de uma sessão conjunta do Congresso americano, o governo Donald Trump entra numa nova fase: a preparação das eleições de 2020, em que Trump tentará a reeleição.
Derrotado em sua batalha para garantir o financiamento do muro na fronteira mexicana, uma de suas mais estridentes promessas na campanha de 2016, punido nos índices de popularidade pela paralisação recorde de 35 dias a que forçou serviços do governo federal, Trump procurou adotar um tom conciliatório e fez acenos ao bipartidarismo.
“Devemos rejeitar a política da vingança, resistência e retribuição, abraçar o potencial ilimitado de cooperação, compromisso e o bem comum”, afirmou. “Juntos, podemos quebrar décadas de impasse político. Podemos unir antigas divisões, curar velhas feridas, construir novas coalizões.”
Vindas de alguém de discurso tradicionalmente polarizador, capaz de despertar devoção e repulsa em medidas extremas, as palavras de Trump diante dos congressistas despertaram ceticismo. Nunca, na história do país, o Congresso esteve tão dividido.
O último chamado ao bipartidarismo, feito por Barack Obama logo no início de seu governo, fracassou na esteira do Tea Party, de outra paralisação do governo, da radicalização das propostas republicanas e do nacionalismo populista que garantiu a eleição de Trump.
A mão estendida de Trump aos democratas esbarrou não apenas na recepção tépida e protocolar dos democratas, em especial da deputada Nancy Pelosi, presidente da Câmara e nêmese de Trump no embate em torno do muro fronteiriço.
Também alimenta a divisão do Partido Republicano em torno de temas caros a Trump. O protecionismo econômico, a retirada das tropas da Síria e do Afeganistão e o isolacionismo que defendeu encontram mais recepção entre democratas que republicanos. Trump mirou em pontos cegos de seu partido que inquietam o eleitor.
Quinze minutos do discurso de uma hora e vinte foram dedicados à imigração, em especial ao muro. Se o Congresso não destinar as verbas necessárias em 15 dias, Trump poderá decretar estado de emergência para garanti-las. A medida resultaria em novo embate, pois seria questionada no Legislativo por integrantes de seu próprio partido.