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‘Todas conseguem menos eu’. A difícil batalha contra a infertilidade

Sentir tristeza, frustação e decepção nessa fase é absolutamente "normal", segundo a psicóloga.

Por redação com R7
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É comum não conseguir engravidar? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um em cada dez casais no Brasil apresenta problemas de fertilidade. No mundo, esta estatística chega a 60 milhões de casais. Para os que enfrentam a infertilidade, existem opções como a inseminação artificial e a fertilização in vitro.

Quando anunciou que estava grávida pela segunda vez, a atriz norte-americana Anne Hathaway, 36, também fez outra revelação. “Para todos que estão passando pelo inferno de infertilidade, saibam que não foi fácil para mim em nenhuma das gestações. Mando muito amor para vocês”, disse em rede social.

O discurso atingiu muitas mulheres que passam ou já passaram pela mesma situação: o desgaste emocional gerado pela dificuldade de engravidar. A maquinista de trem Vanessa Cavalcante, 38, é uma delas.

Ao decidir que queria engravidar novamente 21 anos após o primeiro filho, ela descobriu que tinha desenvolvido um problema nas trompas que a impedia de engravidar de forma natural.

“Fui fazer um exame de rotina só para saber se estava tudo ok, pois queria engravidar naquele ano. Não fazia nada para prevenir uma gravidez e achava que não vinha porque ‘não era a hora certa’. Foi um choque quando soube que não poderia mais ter filhos naturalmente”, conta.

Foi quando ela recorreu ao tratamento de fertilização in vitro. Foram duas tentativas, cada uma com a transferência de dois embriões. Mas, em ambas, o resultado do teste de gravidez foi negativo.

“Chorei muito. Meu mundo havia desabado. Teoricamente, não havia problema no meu organismo e no do meu marido. Por que, então, meu corpo estava rejeitando os embriões?”, afirma. “Pensava: ‘todas conseguem menos eu’. Me sentia menos do que as outras mulheres”, completa.

Apoiada na ideia de que “enquanto tivesse fôlego e condições financeiras” ia continuar a tentar, ela buscou outras opiniões médicas. Ao realizar novos exames, descobriu que tinha carência de vitaminais e minerais, como ferro e vitamina D, e baixo nível do hormônio antimuleriano, que indica a reserva ovariana e permite estimar a resposta dos óvulos para tratamentos de fertilidade.

Vanessa fez, então, mais uma fecundação in vitro e, desta vez, com a biópia de todos os seis embriões – cada biópsia custou R$ 2.700, segundo ela, além do valor do tratamento, que gira em torno de R$ 20 mil. “A biópsia mostrou que quatro embriões eram ruins e somente dois tinham boa qualidade”, diz.

Ao transferir esses dois embriões para o útero, deu certo. Hoje, ela está grávida de cinco meses, de gêmeos. “Eu queria ter filhos mais do que tudo”, afirma. “O meu conselho para mulheres que estão passando pelo estresse de tentar engravidar é que não desistam e que a experiência do médico é fundamental. Gastei mais que o dobro nesse tratamento do que havia gasto nos dois primeiros, mas meu sonho está realizado”, completa.

A psicóloga Helena Montagnini, da Huntington Medicina Reprodutiva, em São Paulo, explica que o processo de tentar engravidar e não conseguir é muito frustrante para as mulheres que têm esse desejo.

“A pílula é uma ilusão de que isso é controlado. Ela acha que quando quiser vai engravidar. Só que nem sempre isso acontece. É muito comum a mulher já chegar na clínica, para fazer o tratamento de reprodução, com um nível de ansiedade muito alta, tendo relações sexuais programadas e com a decepção de não ter o controle da situação”, afirma.

Segundo ela, quando as amigas começam a conseguir a engravidar e ela não, surge uma sensação de fracasso. “Parece que todas, menos ela, conseguem engravidar no momento em que desejam”.

Tratamentos de fecundação in vitro que não resultam em gravidez repercutem na auto-estima da mulher. “Ela pode se sentir inferior”, diz.

“Tentar FIV várias vezes, seguidamente, não indica necessariamente que a mulher conseguiu se recuperar da tristeza. Muitas vezes, ela não vê outra fonte de satisfação a não ser tentar ser mãe, deixando de fazer outras coisas.Torna-se algo obsessivo. Ela não consegue considerar a possibilidade de não ter um filho”, acrescenta.

Experiência é solitária

Sentir tristeza, frustação e decepção nessa fase é absolutamente “normal”, segundo a psicóloga, e torna-se preocupante quando traz limitações à vida. Por exemplo, se não consegue dormir, concentrar-se no trabalho, se começa a evitar contatos sociais para não se confrontar com cobrança da gravidez e ter de se deparar com outras mulheres grávidas.

“Essa situação é acompanhada de muito sofrimento e, muitas vezes, elas passam por isso solitariamente. Não contam para ninguém. A terapia pode ajudá-la a lidar com todos esses sentimentos”, diz.

Segundo a psicóloga, apesar de a mulher ter outras atividades além de ser mãe, culturalmente muitas vêem a maternidade como parte da identidade feminina. “Trata-se de um desejo muito grande de ser mãe e da impossibilidade de imaginar uma vida sem filhos”, afirma.

“Por meio da terapia, ela pode tentar entender que desejo é esse. Qual a real importância desse filho”, conclui.

 

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