Dois dias de julgamento marcados por embates tensos entre advogados e o promotor Justiça, Allan Sidney do Ó Souza, representante do Ministério Público Estadual (MPE), apenas um réu condenado, três absolvidos e um beneficiado com perdão judicial. Esse é o resultado prático do julgamento da ação militar contra três coronéis, um tenente-coronel e um cabo da Polícia Militar denunciados por envolvimento no esquema de interceptações telefônicas clandestinas, a chamada “grampolândia pantaneira”, que marcou de forma negativa a gestão do ex-governador Pedro Taques (PSDB) e levou militares e ex-secretários para a cadeia.
Somente o coronel Zaqueu Barbosa, ex-comandante geral da PM, que foi condenado a uma pena de oito anos de prisão no regime semiaberto. A condenação inclui ainda a perda da patente de coronel. Uma decisão unânime entre os quatro juízes militares integrantes do Conselho Especial formado para julgar o processo que tramita desde maio de 2017 na 11ª Vara Criminal Militar de Cuiabá, sob a presidência do juiz Marcos Faleiros da Silva.
Por outro lado, o cabo Gerson Luiz Ferreira Corrêa Júnior, personagem que mais se destacou em toda a celeuma gerada ao longo da instrução processual, e o primeiro que confessou ter participado do esquema entregando outros envolvidos, recebeu o perdão judicial. Gerson foi considerado culpado pelas acusações atribuídas a ele pelo Ministério Público, mas diante de todo o contexto processual, no qual ele colaborou, acabou “perdoado”.
Já os coronéis Evandro Alexandre Ferraz Lesco e Ronelson Jorge de Barros foram absolvidos juntamente com o tenente-coronel, Januário Antônio Batista. O Ministério Público só era favorável à absolvição de Ronelson e Januário. A sentença, referendada pelo juiz Marcos Faleiros, foi lida por volta das 21h desta quinta-feira (7).
Os juízes militares que participaram do julgamento e foram responsáveis pela condenação, perdão e absolvição foram: Luiz Claudio Monteiro da Silva, Elierson Metello de Siqueira, Valdemir Benedito Barbosa e Renato Antunes da Silveira Junior, todos coronéis da Polícia Militar.
Na denúncia, o Ministério Público acusou os policiais pela prática de crimes de ação militar ilícita, falsificação de documento, falsidade ideológica e prevaricação. Na época quando o esquema de grampos ilegais contra políticos, empresários, jornalistas e até médicos estava no auge, nos primeiros meses do governo Pedro Taques em 2015, Zaqueu Barbosa era o comandante-geral da Polícia Militar.
De acordo com a denúncia e a confissão do cabo Gerson, as articulações começaram em meados de julho de 2014, vésperas da campanha eleitoral, na qual Pedro Taques foi eleito governador. Após isso, pessoas continuaram a ser interceptadas ilegalmente a mando do então secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, primo de Pedro Taques.
Conforme os militares, o ex-governador tucano sabia do esquema e foi beneficiado politicamente por ele principalmente nas questões dos grampos envolvendo adversários políticos.