Enquanto, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello proferia seu voto no julgamento sobre cumprimento de pena após condenação em segunda instância, o clima entre petistas era de ceticismo e espera.
O magistrado daria o décimo voto sobre o caso, empatando em 5 a 5 a disputa entre aqueles a favor do início prematuro do cumprimento da pena e os contrários. Caberia ao presidente do Tribunal, Dias Toffoli, o voto de minerva que decidiria pelo fim da prisão em segunda instância e que pode, eventualmente, colocar mais de 5.000 presos em liberdade, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Quem é que está votando agora?”, perguntava à reportagem um dos mais aguerridos dirigentes partidários, que sequer acompanhava a sessão pela TV.
O resultado era considerado previsível por muitos, já que Toffoli se posicionara antes contra a execução da pena em segunda instância. Ainda assim, os partidários de Lula não arriscavam qualquer empolgação. Nada havia sido planejado pelo partido nos dias que antecederam o julgamento para possivelmente recepcioná-lo do lado de fora.
“Depois de tanta expectativa já frustrada, ninguém quer mobilizar a militância para nada”, resumiu um deputado federal do PT, dias antes desta quinta-feira (7).
Após a decisão do Supremo, no entanto, a defesa de Lula já avisou que pedirá nesta sexta-feira (8) a soltura imediata do ex-presidente.
“Levaremos ao juízo da execução um pedido para que haja sua imediata soltura com base no resultado desse julgamento do STF, além de reiterarmos o pedido para que a Suprema Corte julgue os habeas corpus que objetivam a declaração da nulidade de todo o processo que o levou à prisão em virtude da suspeição do ex-juiz Sergio Moro e dos procuradores da Lava Jato, dentre inúmeras outras ilegalidades”, disseram, em nota, os advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins e Valeska Martins.
Perspectiva de demora
A mudança no cenário político em relação à Operação Lava Jato após a revelação pelo site The Intercept Brasil de mensagens trocadas pelos procuradores e o então juiz federal Sergio Moro, responsável pela primeira condenação de Lula, explicava em parte o estado de espírito dos petistas.
A defesa e militantes passaram a concentrar atenção na possibilidade do julgamento do habeas corpus de suspeição contra Moro, que poderia anular a sentença contra o petista.
“Essa pauta (da segunda instância) foi atropelada. O interesse deles virou totalmente outro: a anulação, que passou a parecer muito mais factível”, disse o deputado. Dirigentes petistas nem se esforçaram para sondar os ministros do STF sobre votos antes desta quinta-feira, tal era a falta de expectativa em relação ao tema.
A aparente tranquilidade também se explicava pelo fato de que aliados do ex-presidente acreditavam que sua soltura poderá levar ainda alguns dias mesmo após a decisão favorável do Supremo.
Embora a juíza responsável pela execução penal do caso, Carolina Lebbos, possa conceder a liberdade em uma decisão de ofício, segundo afirmou à BBC News Brasil a assessoria da Justiça Federal do Paraná, o mais provável, diziam os petistas, é que a Justiça espere a defesa de Lula pedir sua liberdade, após publicação da decisão do STF, para apenas depois disso decidir liberá-lo. Os mais otimistas apostavam que Lula já passaria o fim de semana em casa.
“Ninguém trabalha com a informação de decisão de ofício da juíza. Não vejo como Lula sair antes, é muito trâmite judicial para que a soltura seja tão rápida. Deve sair mesmo na segunda-feira”, afirmou um quadro do partido.
Visitas na cela e planos
Enquanto o julgamento acontecia, Lula recebia a presidente do PT Gleisi Hoffmann, o ex-sócio de Instituto Lula Paulo Okamotto e o dirigente do MST João Paulo Rodrigues em sua cela, para uma visita.
No plano dos dirigentes do PT, tão logo fossem informados de que a soltura de Lula aconteceria, os deputados e senadores do partido se dirigiriam a Curitiba, a fim de recepcioná-lo na saída da carceragem da Polícia Federal, onde passou os últimos 19 meses.
Aos parlamentares, se juntaria apenas a militância do Paraná que estivesse no acampamento Lula Livre, em frente à sede da PF, ou que conseguisse se deslocar rapidamente até lá.
Ao contrário do que já havia feito durante o período de prisão de Lula, nem o partido, nem a Central Única dos Trabalhadores (CUT) ou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) empreenderam caravanas de simpatizantes de outros Estados para a capital paranaense.
A ideia é que, quando liberado, Lula deixe Curitiba o quanto antes em um jatinho até São Paulo e, em seguida, se dirija à região metropolitana, berço do PT. “Não tem a menor condição de segurança para que ele voe em avião de carreira. Se a PF não disponibilizar avião, teremos que providenciar um”, afirmou um parlamentar petista.
A festa grande, com milhares de militantes, se daria então no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “A ideia é Lula voltar para o lugar de onde ele não deveria ter sido levado pela Polícia Federal”, afirmou o deputado estadual paulista José Américo. Lula foi preso em abril de 2018, após passar duas noites no sindicato junto à militância.
Mais do que simbólico — o berço político do ex-presidente — o Sindicato é um local propício para reunir rapidamente a militância, acostumada a estar por ali, além de ser um ambiente relativamente mais seguro para Lula, já que os sindicalistas garantiriam uma certa triagem do público.
Dada a polarização política e o atentado contra o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, em setembro de 2018, há a preocupação de que Lula possa ser alvo de algum ato de violência nos momentos em que se misture ao povo, como costuma fazer.