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OPINIÃO DO LEITOR

Um governo de tutela.

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Imagem: Kleison Um governo de tutela.
Kleison Teixeira é formado em ciências políticas, vice-presidente do PSOL em Rondonópolis e também foi candidato a prefeito pelo partido nas eleições municipais de 2020. Foto: Varlei Cordova / AGORA MT

Diante do descontrole da pandemia, da falta de ações do governo federal e das ações mal coordenadas dos estados e municípios, a sociedade segue em um navio à deriva e sem botes salva-vidas. Não bastasse isso, o ministro da economia utiliza os recursos produzidos pela nação como moeda de troca, com o intuito de garantir a implementação de medidas econômicas neoliberais através de chantagem.

Mesmo com os impactos do teto de gastos sobre a saúde e esse rigor fiscalista em um país que derrete diante da pandemia, do desemprego e da fome; ainda temos um ministro da economia que trata o dinheiro do povo como se fosse de algum banco de sua propriedade. Enxerga o auxílio emergencial como se fosse um empréstimo, e o congelamento dos salários dos funcionários públicos como se fosse um bem ou uma garantia para assegurar que aquele dinheiro vá retornar devidamente a sua posse.

Paulo Guedes foi o fiador do governo Bolsonaro e através dele que os liberais puderam justificar o apoio ao projeto genocida que se encontra em execução no país. Mesmo com todas as informações sobre a incompetência de Bolsonaro que por trinta anos como deputado só conseguiu aprovar dois projetos de lei, o “cidadão de bem” enxergou em alguém que declarou apoio a torturadores, um “outsider” que seria o único capaz de enfrentar o “sistema” e recolocar a “família tradicional” como verdadeira representante da simbologia cristã. De maneira sintética a aproximação dos liberais a esse governo pode ser resumida em um dos lemas de campanha que foram utilizados como justificativa para o apoio a esse projeto: “liberal na economia e conservador nos costumes”, onde o liberalismo vem representado por Guedes e o conservadorismo por Bolsonaro.

Não é difícil compreender porque a escolha de alguém que representa uma ameaça à democracia prosperou sobre a escolha de um professor, para os liberais. O neoliberalismo é incapaz de florescer em ambientes democráticos, vide o Chile de Pinochet ao qual Guedes tanto admira. O país serviu de laboratório para a implementação das políticas econômicas neoliberais após o golpe que culminou com a morte de Salvador Allende. O resultado foi o desmanche de todas as políticas sociais e a privatização das empresas públicas, e que no presente tem culminado com enormes manifestações para a revogação das leis e medidas econômicas criadas durante a ditadura.

O que há em comum entre o golpe que permitiu a implementação do neoliberalismo no Chile e o impeachment que rompeu o tecido democrático no Brasil, é o apoio de suas elites econômicas na derrubada de governos democráticos e populares. É como se ao menor sinal da ascensão socioeconômica das camadas populares, essas elites econômicas rompessem o contrato social para submeter a sociedade as suas vontades.

Mesmo sendo uma democracia, é o espírito autoritário que foi herdado tanto da escravidão quanto da ditadura, que permitem a Guedes e a Bolsonaro tutelarem a democracia no país. Guedes através das forças do mercado e Bolsonaro através das forças armadas.
A prova incontestável disso, é que diante do desmanche do país e da incompetência de seus pares, as forças armadas têm a presença massiva nos cargos do governo Bolsonaro, maiores inclusive que nos governos do período da ditadura. Isso dá a Bolsonaro a sensação de legitimidade para que ele continue atentando sistematicamente contra a democracia e a saúde pública.

Já pelo lado de Paulo Guedes, os representantes do mercado é quem ditam os rumos da agenda econômica. Através de uma sanha fiscalista, foi implementado um teto de gastos que em meio a pandemia tem impedido que se aumente a distribuição de recursos provenientes para a área da saúde. O resultado é que com mais de 300 mil mortes contabilizadas no país a bolsa de valores nem oscila, mas basta que o governo sinalize para alguma medida que interfira na agenda econômica e o caos toma conta do mercado.

É perceptível que os agentes do mercado não se preocupam com o caos sanitário e social que se instalou no país, e também não nos engana aquela carta que foi enviada ao governo pedindo medidas na contenção da pandemia, assinada por quinhentas pessoas, desde grandes investidores a outros nomes da elite econômica. Ali não há preocupação com o bem-estar dos brasileiros, que na falta de um auxílio emergencial decente arriscam suas vidas diariamente para garantir a sobrevivência e morrem aos montes por falta de leitos de UTI’s para covid-19 nos hospitais públicos. A preocupação é apenas com eles, pois o descontrole da pandemia já levou ao colapso os grandes hospitais que são frequentados pelo baronato do país.

Do Albert Einstein ao Sírio Libanês já não restam mais vagas, e é só nesses momentos que a burguesia do país percebe que todo o dinheiro do mundo não vai lhe garantir um leito. Talvez um caixão bonito.

 

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando necessariamente a opinião editorial do Agora MT.

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