Rondonópolis vai sediar no próximo fim de semana o I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso. O evento é organizado pela Associação Estadual das Etnias Ciganas (AEEC-MT) e a cidade foi escolhida por abrigar a maior comunidade cigana do Estado, com cerca de 150 pessoas.
O Encontro será realizado no sábado e no domingo (23 e 24 de abril ) e integra as atividades do projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã”, que homenageia a cigana da etnia Calon, Maria Divina Cabral, como mestra da cultura mato-grossense.
“Importante pontuar que estamos atentas às questões relativas a pandemia. O encontro será realizado em espaço aberto e respeitará todas as medidas de segurança e higiene relativas ao Covid-19. Todas as pessoas da equipe e as participantes do projeto serão testadas para o coronavírus”, informa a produtora do projeto, Nilva Rodrigues.
Contando com a participação de Diva, que vive em Rondonópolis há mais de 40 anos e de outras 14 mulheres do seu ciclo de convívio mais próximo; o encontro contará com duas programações principais.
A primeira delas será a roda de diálogo “Princípios Introdutórios da Medicina Tradicional Calon” em que Diva transmitirá o conhecimento de como fazer uma garrafada para suas filhas, netas e outras mulheres da comunidade cigana rondonopolitana. As garrafadas são o principal produto da medicina tradicional cigana e são compostas por plantas do cerrado, principalmente raízes e são recomendadas para curar vários tipos de doenças, como infertilidade, anemia, problemas no aparelho digestivo, entre outros.
Já a segunda programação principal do encontro será a roda de diálogo “Rememorando a Chibe”. Chibe é o modo como os ciganos brasileiros do tronco calon denominam sua língua, que também pode ser chamada de romanon ou romanó-kaló. Além de ser o principal demarcador entre as pessoas ciganas e diferenciador dos não-ciganos, a chibe, atua como uma tática de defesa, frente a população majoritária, guardando resquícios das origens e da identidade Calon.
De acordo com a coordenadora geral do projeto, a também cigana da etnia Calon Fernanda Caiado, as comunidades ciganas possuem culturas ricas e milenares e um longo histórico de migrações e conhecimentos acumulados; mas também de expulsões e perseguições, se constituindo como identidades de resistência.
“Esses saberes são aprendidos na vivência, no cotidiano, nos rituais, transmitidos de geração em geração oralmente, numa configuração em que as mulheres são as principais mantenedoras e educadoras. Daí a importância de implementarmos atividades que reconheçam o importante papel das mulheres na organização sociocultural Calon”, pondera Fernanda, que também preside a Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), proponente do projeto Diva e as Calins.
O projeto foi aprovado no Edital Mestres da Cultura Mato-grossense da Lei Aldir Blanc, organizada pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT) e governo federal.
Registro – O I Encontro de Mulheres Ciganas será todo gravado e será utilizado como disparador para a realização de dois outros produtos: a exposição virtual multimídia “Calin” e a websérie etnodocumental “Diva e as Calins”, composta por cinco episódios. Todos os produtos têm como pano de fundo o universo da cultura cigana Calon, que integra um dos três grandes troncos étnicos ciganos – os outros são os Rom e os Sinti –; com foco nos saberes das mulheres e na medicina tradicional.
“Calin é o modo como as mulheres da etnia Calon se autodenominam. Assim, “Diva e as Calins de Mato Grosso” mira na r-existência das calins de Mato Grosso, que mantém tradições, sem perder o “time” da história, lutando para ocupar espaços em todos os âmbitos da sociedade.
“Rompendo com paradigmas racistas e machistas, estamos fazendo história em Mato Grosso, que pela primeira vez tem um material tranmidiático e baseado em múltiplas linguagens com foco nas mulheres ciganas, suas narrativas e saberes. Partimos da memória e da tradição, mas também da vida atual e das possibilidades de futuro das mulheres ciganas e suas comunidades”, destaca a diretora de programação do projeto, e também Calin Terezinha Alves.