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REFLEXÃO

O ódio que você semeia | Agora Mulher

Sirlei Theis é advogada, palestrante e com formação em Coaching com Psicodrama, Treinamento Comportamental, Constelação Familiar e às sextas-feiras escreve para coluna Agora Mulher

Por Sirlei Theis
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Imagem: Sirlei
Sirlei Theis – Foto: Divulgação

Final de semana costumo diminuir o ritmo para curtir mais a família. No último final de semana não foi diferente e no domingo à tarde ‘zapeando’ pela TV, o tema de um filme me chamou a atenção: “O ódio que você semeia”, do diretor George Tillman Jr., como o filme estava no começo continuei por ali. Fiquei impressionada com o enredo do filme, que conta a história da jovem negra Starr, que presencia o assassinato de seu amigo Kallil, em uma abordagem policial. Ela foi a única testemunha do assassinato. Praticamente o que aconteceu no ano passado com o americano George Floyd que foi morto sufocado numa abordagem da polícia.

A partir desse momento o enredo segue contando os desafios da garota entre ceder ao medo, crenças e pressão externa ou enfrentar e dar vós a causa e depor como testemunha no processo judicial.

O filme retrata uma realidade latente ao redor de todo o planeta, onde milhares de vidas negras são interrompidas por policiais de forma desproporcional às ações praticadas.

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Cena do Filme ‘O ódio Que Você Semeia’ – Foto: Reprodução

Starr não foi educada pelo pai para reagir, ao contrário, o filme inicia com cenas do pai ensinando aos filhos ainda pequenos como reagirem a uma abordagem policial, onde deveriam sempre se portar de forma passiva. Mãos no capô, atitude inofensiva e olhar submisso. Uma cena muito forte onde um pai ensina aos filhos a lei da sobrevivência nas regras do sistema vigente.

O filme retrata muito bem o preconceito racial velado, aquele que é praticado sem culpa pelo branco, pois acreditam que não foi intencional ou que foi em legítima defesa, por acharem que o negro é suspeito.

Recentemente aqui no Brasil esse tema foi muito debatido nas mídias sociais em razão de uma brincadeira realizada por um participante de uma reality show, ao comparar a peruca de um homem das cavernas com o cabelo de um dos participantes. O ofensor disse que não foi intencional, enquanto que o ofendido deixou muito claro que estava cansado de ter que explicar que doeu e de ouvir que não foi na maldade.

É claro que surgiu duas frentes, as que defendiam o participante Rodolfo que praticou a brincadeira e a outra que defendia o professor João, que se sentiu ofendido.

Sem entrar nas particularidades do programa, o importante foi que o tema virou pauta de debate e o que realmente surpreendeu foi a linguagem de ódio que permeou no meio virtual.

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Cena do filme – Foto: Reprodução

Voltando ao filme, a garota por saber da existência do preconceito quando foi transferida para um colégio de “brancos”, adotou uma tática de sobrevivência, onde segundo ela, era necessário diminuir a sua negritude para se encaixar no colégio, deixando de usar gírias e os casacos que poderiam lhe dar o ar de “favelada”. Na nova escola ela aparentemente tem amigos, não é tratada com preconceito e está tudo bem até que seu amigo é assassinado, sendo ela a única testemunha. A partir desse momento as coisas mudam significativamente e Starr passa a ver a manifestação de alguns colegas a favor do assassinato.

Alguns colegas personificam o preconceito enraizado em nossa sociedade que acaba passando despercebido para quem o pratica. Pessoas que não se acham preconceituosas simplesmente porque tem amigos negros, como a Starr, que tem a sua negritude diminuída. Como se esse fato o isentaria de seu preconceito. Situação que também ficou muito evidente no caso que repercutiu no BBB21. Ah! Ele não teve intenção, ah! Eu não tive a intenção.

Outra cena do filme que me chamou muito a atenção e me fez escrever esse artigo, foi quando um dos amigos brancos do colégio, acreditando apoiar Starr, fala para ela que não vê a sua negritude, que para ele não existe diferenças entre raças, que são todos iguais. Nesse momento Starr é implacável ao afirmar para seu colega que se ele não via a sua negritude, não a enxergava. E é exatamente isso, não há como combater o preconceito entre raças, se falarmos que todos são iguais independentemente da cor, raça, sexo ou religião. Não é possível combater aquilo que não enxergamos. O discurso de que negros, mulheres, gays e outras minorias são iguais, apesar de inclusivo, na prática não funciona. É claro que todos deveriam ser iguais, mas o racismo existe, assim como muitos outros tipos de preconceitos. Negar essa realidade, é dizer não para a mudança e transformação da sociedade.

O filme “O Ódio que Você Semeia”, trata de racismo e da necessidade de resistência, mas a mensagem principal é o empoderamento, a luta, que pode ser aplicada em todas as causas de minorias, que lutam contra o preconceito. No filme o policial acabou absolvido o que gerou um grande movimento nacional nos Estados Unidos, Vidas Negras Importam. Também surgiu uma liderança, Starr que se engajou na causa e se tornou uma militante.

Na vida real o policial que sufocou George Floyd até a morte foi condenado e aguarda a sentença, marcada para 16 de junho.

Quantas mortes mais serão necessárias para que todos nós nos tornemos um ativista pela vida, seja ela branca ou negra.

De qualquer forma fica a dica de um filme que com certeza vai mexer também com você.

Artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando
necessariamente a opinião editorial do AGORA MT

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