A decisão de deixar Rondonópolis fora da lista de municípios beneficiados com as primeiras doses de vacinas da Pfizer que chegaram a Mato Grosso deu ares de certeza ao que vinha sendo tratado como suspeita: A Secretaria Estadual de Saúde está atuando politicamente contra o maior município do interior do Estado.
O motivo seria a mobilização feita no início de abril pelo secretário de Saúde de Rondonópolis, Vinicius Amoroso, e os vereadores do município pela abertura de novos leitos de UTIs no Hospital Regional. Muito criticado, Gilberto Figueiredo acabou sendo forçado a agilizar a abertura de 20 leitos – que estavam parados por pendências contratuais.
Gilberto Figueiredo chegou a dizer na época que poderia processar Vinicius Amoroso e os vereadores pela ocupação do HR. Não fez isso. Mas parece não ter superado a questão.
No início desta semana o secretário Gilberto Figueiredo esteve com deputados, vereadores e com o secretário de Saúde de Rondonópolis. Pessoas que participaram da reunião disseram que o secretário tratou os rondonopolitanos com frieza e até sarcasmo.
Dias depois Figueiredo concedeu entrevista para uma rádio local e detonou o secretário municipal de Saúde, Vinicius Amoroso. Repetiu em público muito do que já havia dito de forma privada. Em resumo, afirmou que a falta de vacinas Coronavac para concluir a imunização de milhares de rondonopolitanos foi causada ‘pelo descontrole’ das autoridades municipais.
Figueiredo disse que não ia ficar ‘mentindo e inventando desculpas’ para a população. Porém, no caso da Coronavac a acusação é uma meia verdade. Se fosse mesmo um problema exclusivo da atuação do município não teríamos situação idêntica em centenas de outras cidades do Brasil e Mato Grosso. Todas enfrentando as consequência da demora do Governo Federal em reconhecer a gravidade da pandemia e providenciar as vacinas com a antecedência e volume necessários.
Também não convence a alegação dada para ‘justificar’ o envio das vacinas da Pfizer para Sinop e Várzea Grande e não para Rondonópolis. Aliás, neste caso, a implicância com os rondonopolitanos prejudicou cidades vizinhas. Campo Verde e Primavera do Leste estavam aptas para receber este imunizante e também ficaram fora da lista. Nenhuma cidade da região foi atendida.
Além de dificultar o combate à Covid-19 nos municípios da região – todos eles com altos índices de contaminação, mortes e ocupação de leitos hospitalares – a exclusão liderada por Gilberto Figueiredo desvalorizou a Assembleia Legislativa.
Não custa lembrar que uma comissão de deputados estaduais veio pessoalmente conferir a estrutura disponível para o armazenamento do imunizante da Pfizer. Saíram daqui garantindo que a cidade, e provavelmente também Campo Verde e Primavera do Leste, seriam contempladas já na primeira remessa – o que não aconteceu.
Lideranças políticas ouvidas pela coluna disseram que este episódio envolvendo as vacinas da Pfizer foi a gota d’água. Vão exigir que o próprio governador Mauro Mendes interceda para impedir que rancores políticos e pessoais continuem prejudicando os milhares de mato-grossenses que vivem na região.
“A politização da pandemia já matou gente demais no Brasil e não podemos aceitar que isso aconteça aqui. É preciso haver harmonia entre Governo e prefeituras. Os critérios técnicos e a defesa da vida devem prevalecer sobre qualquer outro interesse”, disse um parlamentar.