Cláudia Feltrin tem 42 anos e viu sua vida virar de cabeça para baixo por causa da Covid-19. Ela, o marido e os filhos contraíram a doença. Só a caçula, de 15 anos, não teve sintomas mais severos. Cláudia sofreu, mas conseguiu se recuperar. Já o marido, o advogado José Roberto Feltrin, não teve a mesma sorte. Ele morreu de complicações causadas pela doença no dia 18 de maio e deixou um áudio bombástico, que acabou levando sua história às manchetes dos principais veículos de comunicação do país
Na última sexta-feira (21) ela decidiu falar sobre o assunto pela primeira vez, em uma live do portal AgoraMT. Ao lado do advogado Carlos Naves, amigo da família e responsável pela divulgação do áudio, ela contou o que tem passado nos últimos meses e descreveu o impacto causado pela morte do marido.
“É uma perda irreparável, são 22 anos juntos. Estamos todos sofrendo, em especial meu filho que está passando por uma situação complicada. Ele enterrou o pai num dia e no dia seguinte (19/05) completou 18 anos. Está em casa a base de medicação, porque o Zé Roberto era o alicerce, o pilar dele e de todos nós. É muito difícil”, lamentou.
Além de advogado, José Roberto atuou muito tempo como assessor parlamentar e estava prestes a concluir um curso de Ciências Políticas. Também havia iniciado os preparativos para abrir uma empresa de sucos naturais, que pretendia deixar como legado aos filhos. Os planos foram interrompidos pelo coronavírus.
Cláudia contou que a Covid-19 entrou na vida da família em abril. “É muito doloroso. É um processo em que não podemos ter contato com o ente querido que está lá, internado. Ele fica sozinho e a gente também fica sozinho do lado de cá. Realmente precisamos buscar muito a Deus, ter muita força e lembrar que a Esperança é a última que morre”.
Ela é diabética e chegou a ficar com 30% do pulmão comprometido. O marido, que não tinha comorbidades, apresentou sintomas mais fortes e desde o início temia o pior.
“Quando a gente descobriu que estava com Covid ficamos muito apavorados. Ele temia muito essa doença e falou assim: Cláudia eu não vou conseguir passar por isso, eu disse que iria sim”.
Ele foram atendidos por um infectologista que receitou antibióticos, anticoagulantes e outros remédios indicados para tratar os sintomas da doença. Cláudia melhorou após alguns dias, mas o marido teve um agravamento do quadro.
“A saturação dele não subia, ele foi ficando cada vez mais ruim, muito cansado. Foi onde ele pensou que não escaparia e ligou para o Naves, o único amigo que ele tinha de fato. Eu ainda falei para ele: Roberto não faz assim, não faz isso. Mas ele queria se expressar, fazer um desabafo naquele momento ali em que ainda conseguia (falar). Foi quando ele ligou para o Naves e passou o áudio para ele”, revela.
A gravação foi feita no dia 12 de abril e José Roberto acabou falecendo 36 dias depois, após ficar 14 dias internado na UTI do Hospital Municipal.
REPERCUSSÃO
O áudio foi reproduzido largamente nas redes sociais e na imprensa. Chorando e com voz cansada, José Roberto diz temer a morte e responsabiliza o presidente Jair Bolsonaro e seu ex-chefe pela falta de vacinas.
“Esse cara vem sabotando essas vacinas desde o início. Já era para ter vacinas para as pessoas da minha idade, e não tem. (…) Um retardado como esse Bolsonaro faz o que quer com o povo e ninguém faz nada. Esse tal de Medeiros é responsável por tudo isso que está acontecendo com o povo brasileiro, esse maldito Bolsonaro também”, diz a gravação.
O deputado federal José Medeiros (Podemos) divulgou nota pondo em dúvida a autenticidade do áudio e considerando sua divulgação uma ação política de adversários. Também negou que tenha sido omisso no enfrentamento à pandemia de Covid-19.
Cláudia Feltrin disse que não esperava tanta repercussão. Na live ela confirmou várias vezes a autenticidade do áudio e defendeu sua divulgação pela imprensa.
“(A divulgação) Deveria sim ser feita. Foi um pedido do José Roberto para as pessoas verem realmente que a nossa política está errada. É muita injustiça. Quem sabe agora as pessoas acordem e tentem mudar esse quadro. Essa é a esperança que ele tinha e que agora a gente passa a ter. A esperança de mudança, de ver todo mundo imunizado”, concluiu Cláudia Feltrin.