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LIGAÇÃO

Naufrágio de navio pode ter causado morte em massa de tartarugas-marinhas

Cerca de 20 golfinhos e 4 baleias também surgiram na orla durante esse último mês

Da Redação com ANDA
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Imagem: tartaruga Naufrágio de navio pode ter causado morte em massa de tartarugas-marinhas
Foto: Lalith Ekanayake

Até 100 tartarugas e 20 golfinhos apareceram mortos nas praias do Sri Lanka no último mês e especialistas temem uma ligação com o vazamento de químicos tóxicos de um navio de carga naufragado.

“Até o momento, cerca de 176 tartarugas mortas surgiram em diferentes praias do Sri Lanka”, Thushan Kapurusinghe, coordenador do Turtle Conservation Project of Sri Lanka (TCP), diz.
Tartarugas-marinhas aparecerem mortas na ilha do oceano Índico é comum nessa época do ano, uma vez que o pico das monções torna os mares agitados e leva as tartarugas a ficarem gravemente feridas.

No entanto, esse junho, as ondas trouxeram um número “anormalmente alto” de tartarugas e até mesmo golfinhos, Kapurusinghe disse à Mongabay.

Aumento incomum

Cinco das sete espécies de tartarugas marinhas do mundo fazem seus ninhos nas praias do sul e sudeste do Sri Lanka. O período abril-maio marca o auge da nidificação, segundo Lalith Ekanayake, presidente da Bio Conservation Society.

Contudo, esse momento também foi marcado pelo que os ativistas ambientais e especialistas alertam ser o maior desastre marítimo na história do Sri Lanka. No fim de maio, um navio de carga com a bandeira de Singapura, MV X-Press Pearl, pegou fogo em Colombo, na costa oeste do Sri Lanka, e afundou no início de junho. O navio carregava ácido nítrico e pellets plásticos, entre outros itens, e estava carregado com 378 toneladas métricas de óleo combustível. Arquétipos dos pesquisadores mostraram que as correntes do oceano carregariam esses poluentes em direção ao sul, passando pelas tartarugas e em direção aos seus locais de nidificação, Ekanayake contou à Mongabay.

“O timing do acidente não poderia ter sido pior, dado que o número de tartarugas nas nossas águas seria alto durante essa época de abril-maio que apresenta recordes de ocorrência das maiores quantidades de nidificação, de acordo com pesquisas anteriores”, Ekanayaka afirmou.

Dados de rastreamento de satélite mostram que a maioria das tartarugas migratórias que nidificam no Sri Lanka se movem ao longo da costa oeste, perto da orla, até o Golfo de Mannar, no norte, antes de se mudarem para seus locais de alimentação. Isso as torna mais vulneráveis a qualquer poluição provinda de acidentes navais, Ekanayaka disse à Mongabay.

Kapurusinghe enfatizou o que disse ser uma tendência perturbadora revelada pelas carcaças de tartarugas reportadas de várias localidades: a maioria das tartarugas mortas são juvenis. Tartarugas imaturas estão mais propensas que as adultas em nidificação a ficarem perto da orla, principalmente para se alimentarem. Isso torna “possível que essas mortes estejam ligadas a algumas contaminações por comida, provavelmente causadas pela poluição dos cargueiros”, disse Kapurusinghe.

As carcaças foram enviadas ao Department of Wildlife Conservation (DWC) para mais análises.

Suhada Jayawardana, cirurgião veterinário no DWC, que realizou a necropsia nas tartarugas encontradas mortas ao longo da costa oeste e sudeste, disse ter sido difícil identificar uma única razão para a maioria dos falecimentos. Ele contou que tinham algumas com cortes nas barbatanas, um sinal de terem ficado presas em equipamentos de pesca. Uma tartaruga apresentou ferimentos que podem ser derivados da explosão do X-Press Pearl. Mais testes de laboratório estão sendo realizados para chegar a uma resposta conclusiva.

Segundo Jayawardana, a maioria das tartarugas falecidas são tartarugas-oliva (Lepidochelys olivácea), contudo, há algumas tartarugas-verde (Chelonia mydas), tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata) e tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea).

Cerca de 20 golfinhos e 4 baleias também surgiram na orla durante esse último mês. A maioria são golfinhos, ao passo que também apareceu uma baleia azul jovem. “Eu tenho observado o encalhe de baleias e suas mortes por mais de 30 anos, e esse, claramente, é um aumento de suas mortes”, disse Ranil Nanayakkara, co-fundador da ONG Biodiversity Education And Research (BEAR).

Nanayakkara acrescentou que, ao contrário das tartarugas, os mamíferos marinhos tendem a afundar até o solo oceânico após morrerem, sendo assim, apenas um em quatro podem acabar na costa. Isso sugere que muito mais mamíferos marinhos morreram do que os que apareceram na costa.

Durante os primeiros dias após o naufrágio do X-Press Pearl, foram espécies de golfinhos como o golfinho-corcunda-indopacífico (Sousa chinensis) e o golfinho-rotador (Stenella longirostris) que surgiram na orla. Depois outras espécies apareceram, incluindo o cachalote-anão (Kogia sima), o golfinho-pintado-pantropical (Stenella attenuata), o golfinho-riscado (Stenella coeruleoalba) e o golfinho-cabeça-de-melão (Peponocephala Electra), indicando o impacto da possível propagação da poluição, afirmou Nanayakkara.

Entretanto, algumas dessas mortes podem não ter relação com o acidente naval, ele acrescentou. Um caso em questão é o da baleia azul juvenil (Balaenoptera musculus) encontrada no norte do Sri Lanka, longe de onde os poluentes podem ter se espalhado. Nanayakkara diz ser importante continuar com as análises de cada carcaça para determinar a causa da morte.

Ciência conflitante

Não há consenso na comunidade científica do Sri Lanka sobre se o naufrágio do X-Press Pearl e a alta do número de animais marinhos mortos estão ligados. A Marine Environment Protection Authority (MEPA) e outras agências governamentais estão hesitantes em pôr um fim às especulações, e diversos políticos enviaram suas próprias teorias sobre as mortes dos animais.

Asha de Vos, uma bióloga marinha na Oceanswell, disse em um tweet que “Nós temos que ser cautelosos ao fazermos suposições sem evidências.” Ela afirmou que a verdade é que animais morrem no mar. Se as correntes fluem em direção à costa (como estão fluindo agora na nossa costa sul e oeste), as carcaças são carregadas para as praias.”

Ela pediu o fim das especulações e teorias, e para o raciocínio científico identificar a causa das mortes. Ela também foi além e disse que o registro de mais carcaças que antes poderia ser um resultado da “parcialidade do observador”, na qual as pessoas, que antes não prestavam atenção a esses problemas, agora estão mais conscientes dos resultados dos desastres navais.

“O problema principal aqui é a falta de dados-base para comparar os parâmetros ambientais e o número de criaturas marinhas encalhadas, para quantificar se há uma poluição generalizada em decorrência do naufrágio e um aumento das mortes das tartarugas e mamíferos marinhos,” disse Nishan Perera, co-fundador do Blue Resources Trust.

Ele declarou que o Sri Lanka precisa, urgentemente, de monitoramento a longo termo de parâmetros ambientais no oceano, usando uma metodologia padronizada. Ele explicou que esses dados deveriam ser publicados prezando pela transparência, para que outros pesquisadores e voluntários possam contribuir com eles. Um programa assim ajudará na quantificação dos verdadeiros impactos de acidentes isolados, como o naufrágio do X-Press Pearl, e também auxiliaria no monitoramento do status de várias variáveis marinhas ambientais, acrescentou Perera.

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