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PRIMEIROS PASSOS

Retomada de shows é marcada por expectativas e incertezas no Brasil

Casas de espetáculos e festivais começam a dar primeiros passos rumo a uma volta, mas ritmo de vacinação e variante preocupam

Da Redação com R7
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Imagem: show Nova Zelandia Retomada de shows é marcada por expectativas e incertezas no Brasil
Show realizado na Nova Zelandia foi um dos primeiros no mundo – Foto: DIVULGAÇÃO/EDEN PARK

O mercado nacional de shows vive um momento de grandes expectativas e inseguranças com uma possível retomada das atividades diante do avanço da vacinação contra a covid-19 no Brasil. Algumas das principais casas de espetáculos do país, por exemplo, começam a dar os primeiros passos rumo a um retorno mais consistente — ainda que com a capacidade reduzida. Enquanto isso, grandes festivais de música, como o Rock in Rio e o Lollapalooza, confirmam as programações para o ano que vem.

Em São Paulo, com as recentes flexibilizações divulgadas pelo governo estadual, a solução encontrada pelos organizadores foi a distribuição do público em camarotes privativos e/ou por meio do esquema mesas e cadeiras. Em todos os casos, vale ressaltar, com a exigência de que as pessoas sejam do mesmo núcleo familiar ou convívio social.

O Espaço das Américas, que em condições normais conta com capacidade para até 8 mil pessoas, foi um dos primeiros na capital paulista a funcionar assim. Fábio Jr. subiu ao palco no último dia 24 de julho, três meses após a data inicial, com um público reduzido e a adoção de medidas sanitárias de prevenção ao novo coronavírus.

Até dezembro, há ao menos dez apresentações confirmadas com grandes nomes da música brasileira, como Zezé Di Camargo e Luciano (04/09), Alceu Valença (25/09), Os Paralamas do Sucesso (02/10), Ney Matogrosso (09/10) e a dupla Chitãozinho e Xororó (21/10). Há, ainda, ao menos outras 30 apresentações aguardando definição de data no espaço, entre shows adiados anteriormente e novas atrações.
Outra casa a ensaiar uma “retomada consciente” foi a Audio, na Barra Funda, também na capital paulista. Leandro Moran, diretor comercial do local, considerou positiva a primeira experiência no último fim de semana. “Ficamos aguardando todos os processos exigidos por lei para voltarmos dentro do permitido e com segurança. Por enquanto, no formato mesa, mas estamos trabalhando para ter os shows em pé a partir de novembro.”

Expectativas com o avanço da vacinação

Todas as ações em direção a uma movimentação do setor estão diretamente ligadas às flexibilizações de políticas públicas de combate à pandemia e ao avanço da vacinação contra a covid-19 no país. De acordo com dados do Ministério da Saúde, quase 60% dos brasileiros já receberam uma dose de vacina contra a doença, o que corresponde a 126,6 milhões de pessoas e 27% completaram o esquema vacinal ou tomaram imunizante de dose única, o que equivale a 57,6 milhões da população.

Davi, da Bruninho e Davi — dupla em ascensão no cenário sertanejo —, acredita que a área deve seguir alguns exemplos de outros países. “Já estamos vivendo uma retomada de shows, mesmo seguindo protocolos de segurança exigidos em cada cidade ou estado. Vemos países que já estão com a vacinação avançada, uma retomada forte. No Brasil não será diferente. O setor seguirá nessa tendência. Estamos muito animados.”

Um levantamento realizado e divulgado pela Abrape (Associação Brasileira de Promotores de Eventos) aponta para um aumento na intenção das pessoas em ir a eventos, independentemente da natureza. O estudo, realizado em julho, indicou que 64% dos indivíduos entre 18 e 55 anos tem intenção de voltar a frequentar eventos. Além disso, outros 51% também manifestaram o desejo de ir a festivais e shows musicais.

Pedro Loureiro, empresário responsável pela gestão de carreiras de nomes como Elza Soares e Renegado, espera que com o decorrer do processo o fluxo de trabalho possa ficar mais fluído. “A expectativa é muito positiva. Eu acredito que quando tiver de 60% a 80% da população vacinada com as duas doses, ou com a dose única, nós vamos começar a enxergar um cenário diferente. Principalmente com eventos públicos, em que o poder público possa incentivar. Porque o mercado não tem dinheiro. O nosso mercado entrou um colapso financeiro, e principalmente os prestadores de serviços de base.”

Entretanto, quando questionado sobre a percepção de uma possível melhora no mercado, o empresário é categórico na resposta: “Eu não sinto uma melhora. Eu não posso sentir uma melhora do mercado quando o profissional que trabalha com a gente, e também trabalha com outros artistas para se manter, fala comigo que não tem dinheiro para colocar comida dentro de casa. Quando eu vejo artistas renomados reclamando de falta de trabalho nas redes sociais. Eu não posso achar que voltou ao normal”.

Nos últimos meses, mais de 3 milhões de pessoas perderam o emprego e viram os salários serem reduzidos drasticamente no mercado de eventos — do qual a cadeira produtiva de shows faz parte e exerce papel fundamental nos resultados do mercado no PIB (Produto Interno Bruto).

Entre as medidas adotadas para aliviar o impacto, foi a aprovação, no ano passado, da Lei Aldir Blanc. O projeto determinou, entre outras coisas, o pagamento de auxílio emergencial a artistas, produtores, técnicos e espaços culturais afeitados pela pandemia de covid-19.

Pedro Loureiro, no entanto, considera que na prática o projeto não conseguiu chegar de maneira adequada à ponta da cadeia produtiva.

“Esperávamos que isso injetaria um dinheiro considerável no nosso mercado e faria a coisa girar. Isso acabou não acontecendo da maneira que a gente esperava. Esse dinheiro circulando foi muito menor porque as pessoas já estavam muito endividadas, os projetos já estavam muito caros. Foi difícil tirar projeto do papel”, avaliou Loureiro.

Inseguranças com o futuro

Profissionais, empresários e parte da população se mostram otimistas quanto a uma retomada das atividades nos próximos meses e, principalmente, no ano que vem. No entanto, conforme mostrou reportagem do R7, mesmo com a evolução da vacinação, o futuro da pandemia permanece incerto.

De acordo com pesquisadores e profissionais da área da saúde alguns fatores ainda causam um clima de dúvidas. O mais relevante deles são os efeitos que a variante Delta causam no controle da circulação do vírus. Segundo Raquel Stucchi, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, a mutação tem impactado diretamente os indivíduos não-vacinados.

“Pode ter uma mudança de perfil aqui e no mundo. Por exemplo, nos EUA, mesmo com todas as campanhas e até a oferta de dinheiro para as pessoas se vacinarem, eles seguem com 50% de vacinados. Os casos estão acontecendo predominantemente nas pessoas não-vacinadas”, alerta a médica infectologista.

As preocupações do mercado se firmam no exemplo que vem de fora. Nos Estamos Unidos, onde pouco mais da metade da população foi totalmente vacinada, a retomada dos shows está sendo marcada por adiamentos e uma série de cancelamentos.

Por aqui, ainda é cedo para saber o impacto dos primeiros passos de uma retomada do mercado de entretenimento. O avanço da vacinação, os efeitos da adoção de uma terceira dose — prática anunciada pelo Ministério da Saúde — e o controle de variantes do vírus serão decisivos para o sucesso ou não de uma volta consistente do setor de shows nos próximos meses.

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