A declaração do prefeito José Carlos do Pátio (SD) de que pretende votar em Luís Inácio Lula da Silva na eleição presidencial do ano que vem é algo natural do ponto de vista político. É o que pensam os ex-prefeitos Ananias Filho (PL), Rogério Sales (PSDB) e Percival Muniz (PDT). Eles falaram sobre o assunto a pedido da reportagem do Agora MT e abordaram também a possibilidade de consequências administrativas, como a redução do envio de verbas federais, em decorrência da declaração.
Percival Muniz, que foi constituinte, deputado estadual e comandou Rondonópolis por três vezes, considera que José Carlos fez uma escolha acertada e não tinha outra opção.
“Acho que o Zé não tem outro caminho, até já falei isso para ele. A direita não vai apoiá-lo nunca e, nesse enfrentamento entre Lula e Bolsonaro, ele só tem um caminho que é Lula”, avalia.
Na opinião de Muniz a declaração antecipada pode inclusive ajudar o atual prefeito a ampliar sua base caso pretenda disputar eleições no futuro.
“Não sei se ele vai sair (da Prefeitura) para ser candidato ou não, isso é uma questão interna que não consigo avaliar. Mas acho que politicamente o apoio dele ao Lula pode ajudar a construir um caminho mais amplo (no Estado)”.
Rogério Sales e Ananias Filho também afirmaram que a escolha era esperada devido ao histórico de José Carlos.
“Surpresa nenhuma no posicionamento do Prefeito Jose Carlos do Pátio. Quem conhece sua vida pública sabe que ele sempre militou do lado progressista”, resumiu Ananias.
“Não me causou nenhuma surpresa o anúncio do prefeito, ele já tinha dado sinais deste posicionamento”, reforça Sales.
RETALIAÇÕES
Os três líderes divergiram sobre o risco do Governo Federal decidir retaliar o prefeito, dificultando ou impedindo investimentos da União no município.
Ananias Filho é o mais preocupado com essa possibilidade e, por isso, considera que o prefeito pode ter se precipitado ao fazer a declaração quase um ano antes do pleito.
“Pode ter sido uma precipitação, pois creio que o governo federal poderá fazer somente as transferências obrigatórias e dificultar a liberação das transferências voluntárias. O Brasil vem muito polarizado nos últimos anos”.
“Espero que não ocorra (retaliação), mas ser tratado como adversário pelas gestões superiores não é um caminho fácil”, completa Ananias.
Rogério Sales, por outro lado, minimiza a possibilidade desse tipo de prejuízo. “Não vejo nenhuma consequência em termos administrativos. Hoje o governo federal está muito mais preocupado com as relações com o Congresso do que com apoio de prefeitos”, afirma.
Para Percival Muniz o risco de perda de investimentos é limitado e pouco provável. Segundo ele, a maior parte dos repasses do Governo Federal são exigidos pela legislação. “Hoje as instituições estão muito consolidadas. O governo não faz o que quer, faz o que é possível”
Mas, a exemplo de Ananias, Percival não descarta a possibilidade de que o Governo Federal tente dificultar, por exemplo, a liberação de emendas destinadas ao município por deputados e senadores. Mas, neste caso, ele prevê que a retaliação poderá ter um custo político também para os aliados do presidente Bolsonaro.
“O (deputado federal) Medeiros e outros parlamentares costumam direcionar algumas emendas parlamentares e podem ser pressionados a não colocar mais recursos. Mas isso também não funciona, porque esses parlamentares também precisam sobreviver e manter seus espaços políticos” declarou.
“Mas acho que não terá problema não. Confio muito na democracia e na liberdade das pessoas escolherem os caminhos políticos. É um caminho bom esse dele (José Carlos). Acho bom, muito bom”, concluiu Muniz.
OS EX-PREFEITOS: