O dólar comercial opera em alta nesta sexta-feira (22) e chegou a bater R$ 5,73 na manhã de hoje. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, registrava queda de mais de 4%.
Os movimentos são considerados resultado da debandada na equipe econômica e da aprovação do texto da PEC dos Precatórios pela comissão especial da Câmara, abrindo espaço para o governo usar mais R$ 83 bilhões acima do teto de gastos.
Ontem a Bolsa já havia registrado uma queda de 2,75% e chegou ao menor patamar em quase um ano, e o dólar avançou 1,92%, a R$ 5,668 na venda. O valor refere-se ao dólar comercial. Para quem vai viajar e precisa comprar moeda em corretoras de câmbio, o valor é bem mais alto.
A crise foi agravada após o Ministério da Economia anunciar que o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, pediram exoneração de seus cargos ao chefe da pasta, Paulo Guedes, marcando nova rodada de baixas na equipe econômica.
Outros dois secretários também se demitiram. Com a debandada, agentes de mercado começavam a especular sobre a saída de Guedes. O presidente Jair Bolsonaro negou mudanças no comando da Economia e minimizou a crise.
A insegurança dos investidores também deve-se à confirmação de que o governo vai mudar a regra do teto de gastos para colocar de pé um novo Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil. Ontem à noite, a comissão especial da Câmara que trata da PEC dos precatórios aprovou o texto apresentado pelo relator da matéria, o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB).
Pela proposta, o governo federal terá um espaço fiscal de R$ 83 bilhões para gastar a mais em 2022, furando o teto de gastos. Isso permitiria o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 400 até o fim de 2022. Na prática, a PEC permite que o governo fure o teto de gastos, a regra fiscal constitucional que limita a despesa pública ao Orçamento do ano anterior corrigido pela inflação.
Nas contas da IFI (Instituição Fiscal Independente), órgão ligado ao Senado, o furo no teto de gastos será de R$ 94,4 bilhões, dos quais R$ 40 bilhões serão usados para viabilizar o auxílio de R$ 400. Ainda não se sabe como o governo vai gastar os R$ 54,4 bilhões restantes.