Rogério Salles chegou em Rondonópolis em 1970, com os pais e quatro irmãos. A família é de São Francisco Beltrão (PR) e integrou a leva de sulistas que ajudou a fazer de Mato Grosso o novo ‘eldorado’ agrícola. No município destacou-se por ser um dos primeiros grandes produtores rurais a assumir uma postura política mais progressista, tornando-se um aliado poderoso na luta contra o conservadorismo hegemônico que dominou a política nas primeiras décadas da história de Rondonópolis.
Na entrevista ao Agora MT, Rogério conta que se interessou pela política através do movimento estudantil. Mas não pretendia seguir carreira. O objetivo era apenas ajudar a administrar os negócios da família, aplicando na gestão das fazendas os modernos conceitos da sólida formação acadêmica. Ele é graduado em Economia (UFPR), fez especialização em Economia Rural e um MBA pela USP.
A alteração na rota veio com um convite para ser secretário municipal de agricultura, no início da década de 1980. Nos anos seguintes estreou na política partidária, primeiro no MDB e depois no PSDB – onde ainda continua e é uma das principais lideranças no Estado.
Ele foi vice-prefeito por duas vezes, cargo também ocupado pela esposa, Marília Salles. Assumiu a prefeitura em 1994, com o afastamento de Carlos Bezerra. Em 1998 foi eleito vice-governador, na chapa encabeçada por Dante de Oliveira, e acabou assumindo o cargo no último ano do mandato.
Dono de um estilo austero, pragmático e sempre disposto ao diálogo, Rogério Salles construiu bons relacionamentos com lideranças de várias correntes políticas. Ele ajudou a modernizar a gestão pública e teve uma participação importante para assegurar que a cidade recebesse dos governos Estadual e Federal a atenção e os investimentos necessários ao seu desenvolvimento.
Veja abaixo a íntegra da entrevista concedida ao Agora MT.
– Como foi o seu primeiro contato com Rondonópolis? Que memórias guarda desta época?
Meu pai tinha comprado a Fazenda São Carlos e viemos para começar a mudar pra cá, veio o pai e quatro irmãos ( de 7). Eu tinha uns 17 anos, estava terminando o segundo grau.
Minhas lembranças, a estrada toda de terra depois que entrava em Mato Grosso, a imensidão daquela vegetação pequena e retorcida, plana e com pouca agua, em Rondonópolis passava a ponte do Rio Vermelho e tinha uma pequena vila depois um longo trecho desabitado, cheio de areia (a Médici) para daí chegar na cidade propriamente dita. Me impressionou na época aquele conjunto da praça Brasil, a praça em si com o correto no centro, bem nova, a igreja e o EEMOP recém inaugurado, lembro também da ABR, no final da tarde reunia bastante gente ali na praça caminhando, coisa que lá no Paraná eu não tinha visto. Lembro da feira na praça dos Carreiros e tinha um ponto de charretes de aluguel, a Somai e a Rondomaq expunham tratores na rua ali na frente do Banco do Brasil.
– Quem eram as principais lideranças políticas naquele momento? Elas o influenciaram de alguma forma?
As lideranças políticas na época, eram o Hélio Garcia, Zanete Cardinal, Candinho (Cândido Borges Leal) e o Afro Stefanini. Eles não me influenciaram. Fiquei aqui poucos dias e voltei para Curitiba para estudar, porque me formava naquele ano e aqui não tinha como continuar
Como o senhor decidiu entrar para a política?
Quando cheguei em Rondonópolis a política era comandada pela Arena. Eu já tinha alguma participação no movimento estudantil então, naturalmente, me aproximei da oposição. Votei e apoiei o (Carlos) Bezerra para deputado federal, por indicação de alguns funcionários da fazenda que eram lá da Vila Operária. Na eleição de prefeito, em 1982, conheci o Bezerra através dos mesmos funcionários e o apoiei na campanha. Ajudei a elaborar a proposta de governo na área de Agricultura, conheci o Fausto e acabei convidado a ajudar no governo. No começo não aceitei, mas acabei virando Secretário Municipal de Agricultura.
Dos cargos públicos que ocupou qual lhe deu maior satisfação e porquê?
– Não saberia dizer qual me deu maior satisfação, cada um tem suas nuances. Como secretário Municipal de Agricultura tive a a oportunidade de conhecer melhor a natureza humana, a valorizar os pequenos produtores, gente simples, com vontade de progredir e muito generosa. Acredito que isso foi o que mais me influenciou. O cargo de prefeito me proporcionou um contato mais direto com os reais problemas da população e o aprendizado de valorizar a força da gente de Rondonópolis. Vice-Governador e Governador, a oportunidade de conhecer Mato Grosso, ter clareza de seu potencial e a certeza de que não somos melhores e mais desenvolvidos por conta da incapacidade da elite governante. Uma satisfação grande foi a oportunidade de conviver com pessoas especiais, visionárias e bem intencionadas como Dante de Oliveira (ex-governador) e Fernando Henrique (ex-presidente). Saber que existem boas ideias, mas que o jogo político não é fácil.
Qual a experiência mais marcante neste período?
O período que passei como governador, a clareza de que não basta ter boas ideias, vontade de fazer. Precisa também ter clareza que a máquina pública tem uma dinâmica própria que muitas vezes foge daquilo que a sociedade precisa e quer. Acaba sendo frustrante. Em alguns momentos parece que o governo foi concebido para não funcionar.
– O senhor considera ter conseguido retribuir à cidade o que ela lhe ofereceu? Porquê?
Em parte consegui. Para retribuir mais teria que ter uma maior dedicação.
O que Rondonópolis representa para você?
Hoje representa o local onde eu gosto de viver. Uma cidade que tem na diversidade e pluralidade sua maior força.
Se pudesse dar um presente hoje ao município e aos rondonopolitanos, qual seria?
Um projeto de longo prazo que diminuísse as desigualdades, desse oportunidade de trabalho, renda e dignidade para todos. Um plano Diretor decente.