Fato curioso chegou a meu conhecimento essa manhã. Segundo me informou o colega Jandir Martins, uma professora da rede pública em Pedra Preta deu pão e banana para as crianças por ocasião das comemorações da Páscoa. A generosa oferta veio acompanhada de lição religiosa: “a Páscoa não tem nada a ver com coelhos e ovos de chocolate. Páscoa tem a ver com Jesus”, teria ela dito.
Do ponto de vista da ortodoxia doutrinária cristã, a afirmação está correta, embora imprecisa. Mais que uma celebração cristã, a Páscoa rememora o livramento de Jeová sobre seu povo no Egito quando o anjo da morte, a décima praga, havia sido enviado para ceifar os primogênitos todos daquela nação. Segundo o texto bíblico, Moisés recebera a orientação para que o povo imolasse um cordeiro por família e aspergisse o seu sangue nos umbrais das portas das casas. Assim que o anjo da morte visse o sague nas portas, ele passaria por sobre aquela casa, não trazendo a morte para ali. Em tipologia cristã, o cordeiro seria uma figura de Cristo que fora morto em substituição do pecador, derramando seu sangue na cruz do Calvário.
Do ponto de vista educacional, no entanto, teria acertado a professora? O ensino religioso no Brasil foi retirado das escolas ainda na década de 1980 por uma questão muito simples: a religiosidade do povo brasileiro é heterogênea ao extremo. Somos uma nação predominantemente cristã (perto de 90% de nosso povo se declara crente em Jesus Cristo), mas de matizes diferentes e irreconciliáveis, às vezes (não sei por que o povo que segue um Deus de amor briga tanto entre si). Cristãos podem ser espíritas, católicos, protestantes, evangélicos, neopentecostais e o escambau. Daí, como prover uma educação religiosa na escola para um povo de confissões tão diferentes?
Em Rondonópolis, os que defendem a proposta idealizaram os chamados colégios confessionais, particulares (como o colégio Adventista, ligado à Igreja Adventista do Sétimo Dia) ou resultantes de parcerias público-privadas, como o Sagrado Coração de Jesus, Santo Antônio, La Salle e outros, ligados à Igreja Católica. Na prática, são as unidades educacionais de excelência, sempre alcançando as notas máximas nas avaliações por que passam e, por isso mesmo, disputadíssimos por pais de alunos durante o período de matrícula.
Fora desses casos especiais e localizados, a educação religiosa não tem espaço em ambiente escolar, o que é uma pena. Se a educação religiosa não viesse com conotação proselitista ou catequizante, não seria de má ideia prover alunos, ainda em tenra idade, de valores comuns às religiões como o amor ao próximo, a correção de caráter, a honra, a honestidade. Não foi o que fez a professora de Pedra Preta, que citei no início do artigo.
Em ação despropositada e ineficiente, buscou repassar aos alunos a sua visão particular de mundo e da fé, o que pode gerar o efeito diametralmente oposto ao buscado pela sua ação. As crianças que, em plena Páscoa, recebem pão e banana têm a expectativa frustrada e podem ter grande dificuldade, no futuro, de virem a crer na divindade da professora. “Ele é muito chato”, poderão pensar. Não sem razão.