Era 4 de maio de 2021. A notícia arrasou corações Brasil afora e adentro. Morria, vencido pela Covid-19, o ator Paulo Gustavo, um gênio do humor nacional.
O garoto pobre, criado só pela mãe, venceu pelo talento. Criativo, cunhou, tendo a mãe como inspiração, um personagem inigualável, a Dona Hermínia, que surgiu de um monólogo que escreveu para o teatro: Minha Mãe é Uma Peça! O roteiro foi adaptado e virou filme, de mesmo título. Uma trilogia sensacional!
Dona Hermínia nos representa em tudo. É a mãe protetora que todos gostaríamos de ter; é a mãe debochada e divertida que nos rouba gargalhadas sem fim; é a mãe que, abandonada pelo marido, não se deixa abater e cria os filhos com amor; é a mãe de um jovem homossexual ao qual ensina a não sentir vergonha de si. Ela fala como falavam nossas mães. “Pensa que eu nasci ontem”. “Você não é todo mundo”. “Se eu for aí e achar você vai comer (o objeto perdido)”. “Eu vou sumir dessa casa”. Essas pérolas, tão triviais e, paradoxalmente, tão valiosas para nós, nos tornam filhos da Dona Hermínia também.
Paulo Gustavo foi “o Brasil que dá certo”. Senhor de si mesmo, lidava com o preconceito com graça e humor. Sua sexualidade sempre esteve em evidência, não para agredir, mas para conscientizar. No terceiro filme, “Minha Mãe é uma Peça 3”, o filho de Dona Hermínia casa-se com um homem, mas não tem o “beijo gay”. Por quê? Porque não era a intenção de Paulo Gustavo ferir alguém. Ele sabia da polêmica e, mais que “causar”, preferiu educar. Respeitar lhe interessava mais, como diria Belchior!
A pandemia nos roubou Paulo Gustavo, mas não nossos risos. A arte desse menino ecoará por gerações, ainda. Costumo dizer que seus roteiros são parecidos com os do mexicano “Chaves”: não envelhecem. Não sei o porquê, mas a gente assiste ao filme e, mesmo sabendo qual será a fala do personagem, ri como se fosse a primeira vez. Isso é raro e, por isso mesmo, precioso.
A Paulo Gustavo se somam quase 700 mil irmãos e irmãs brasileiros, igualmente vítimas da Covid-19, às famílias dos quais rendo meu pesar profundo. No caso de Gustavo (e de tantos outros), a dor foi ainda mais lancinante porque, à época de sua morte, já havia vacina para a doença. A letargia administrativa, a politização da doença e a ideologização da pandemia atrasaram a chegada ao Brasil do inoculante.
Hoje, graças a Deus e à vacina, os números da pandemia regrediram. Mas, com tantas mortes no país, deveríamos comemorar? Acredito que sim. Se não pelas mortes, por evidente, ao menos pelos alvissareiros boletins epidemiológicos que, em sequência, trazem a queda do número de mortos. E mais. Devemos celebrar pela vida que temos. Sei que a vida é dura. Às vezes, porém, ela nos dá um “Paulo Gustavo” para nos alegrar.