Daniela e Camila são mães de bebês prematuros nascidos na Santa Casa de Rondonópolis. Eloá, a filha de Daniela, está com 1 mês e 15 dias. Luan, o bebê de Camila, está com 36 dias. A cada três horas elas precisam fazer a ordenha do leite materno. Quando a retirada não é suficiente para a amamentação dos filhos, a solução está no banco de leite. É ele que garante a superação de cada uma das etapas de um processo longo e difícil, que se inicia na UTI Neonatal, passando pelo leito semi-intensivo e, por último, o canguru, quando mãe e bebê finalmente podem passar mais tempo em contato direto, com o filho ao colo. As duas personagens desta reportagem especial seguem à espera dele, o canguru.
Moradoras de Primavera do Leste, as duas estão “hospedadas” no quarto das mães, espaço preparado no hospital, e só assim conseguem cumprir à risca cada horário para a retirada do leite. “Quando vai dando três horas de intervalo, a gente já começa a ouvir o choro”, conta, sorrindo, Camila. Junto delas, outras dez mães estão alojadas há cerca de um mês na Santa Casa de Rondonópolis, e outras vem e vão, de acordo com a possibilidade de voltarem para a casa. Daniela é a mais veterana do grupo, entre internação e estadia, “mora” há dois meses e meio no hospital.
As retiradas de leite são incertas. Às vezes 10ml, 20ml, 30ml ou até mais. Outras vezes o leite retirado é muito pouco, 3ml. Fatores como o cansaço, a distância de casa ou até mesmo a falta da comida preferida podem influenciar negativamente. A angústia pelas notícias e a ansiedade de ver o progresso no tratamento do filho também. Quando a cabeça não está 100%, o corpo sente. O leite simplesmente não sai. De madrugada até por volta das 6h da manhã, elas contam, é o período mais difícil. Aí recorrem ao banco de leite.
Camila, por vezes, consegue uma boa retirada e passa de recebedora a doadora. Daniela nem tanto. Atualmente na Santa Casa, 13 bebês que ocupam as UTI Neonatal e os leitos semi-intensivos necessitam exclusivamente de leite materno. O ‘fórmula’, um leite de vaca “modificado”, não é indicado. Segundo a própria Santa Casa, o estoque no banco de leite não está ruim. Mas à medida em que a demanda cresce, tende a ficar mais baixo. No total, o hospital dispõe de 20 leitos de UTI, 10 leitos semi-intensivo e 5 leitos canguru. Dos 19 bebês acolhidos, entre Eloá e Luan, 6 apresentam peso abaixo do 1kg, outros 7 abaixo de 1,5kg e os demais não muito distantes destes números.
A dor de uma…
No quarto das mães da Santa Casa, a dor de uma é a de todas. As vitórias também. “Tem dias que a notícia para uma mãe é boa, para a outra nem tanto. Nessa hora a gente se acolhe, a gente divide. Até, neste processo, a gente se acostumou a não contar o tempo, não contar os dias. A gente conta é a conquista. Devagarzinho. Depois é do canguru direto pra casa”, diz Camila. “A gente não pode ficar ansiosa, até pra não prejudicar a ordenha. Mas o maior desejo é sair juntas com os nossos filhos nos braços”, diz. Luan está com 1,350 kg.
Uma gotinha vale ouro
Por isso, quanto mais doadoras para abastecer o estoque, melhor. “Uma gotinha vale ouro”, diz Daniela. Eloá nasceu com 770g e vem, aos poucos, ganhando peso. Veio ao mundo com 28 semanas e 6 dias. “Minha história mudou quando vim para a Santa Casa, aqui em Rondonópolis. Eu fazia acompanhamento médico, estava tudo certo, até que, de repente, minha filha quis adiantar o nascimento. Ainda em Primavera, me disseram que ela não teria chances de sobreviver. Foi aí que vim parar aqui e esta equipe mostrou que, sim, era possível. Fiquei mais um mês internada, enquanto iam preparando melhor a gestação, até que, enfim, minha filha veio”, conta.
Quando o leite é recebido pela Santa Casa, passa por um processo de pasteurização. Somente em casos específicos, a beira-leito, é passado da mãe diretamente para o bebê. Um frasco de leite materno pode ajudar a alimentar até dez bebês. Para as mães internadas, as equipes do hospital dispõem de uma espécie de treinamento, que inclui massagem para uma melhor ordenha.
Seja doadora
Quanto mais leite para abastecer o estoque do banco de leite da Santa Casa, melhor. Por isso, o hospital dispõe de um cadastro de mães que queiram fazer sua doação. O canal via telefone é o número 3410-2785, ou pelas redes sociais ‘banco de leite humano’ no Facebook e ‘@bancodeleitehumano_roo’ no Instagram. Ao se cadastrar, a mãe que amamenta em casa recebe uma visita de uma equipe do hospital, que a orienta e entrega o kit de coleta. Uma semana depois, em dia combinado, passa para recolher o material. “Aqui no hospital também fazemos a coleta, mas o mais indicado é esta visita à casa, até porque são mães que acabaram de dar à luz e tem toda a dificuldade na locomoção. É importante também a orientação para a coleta, para preservar este leite materno. O armazenamento precisa ser feito e um recipiente adequado, de vidro e com tampa de plástico, bem esterilizado e num tamanho adequado. Infelizmente, por vezes recebemos doações fora dos padrões e o leite simplesmente não pode ser aproveitado”, conta a farmacêutica e responsável técnica pelo banco de leite da Santa Casa, Karen Mayara.
Da inciativa privada, empresas como o Queimão Baby, no centro de Rondonópolis, tem buscado ajudar. A loja se dedicou neste mês a ser um espaço para o recebimento de frascos vazios, dentro dos padrões estabelecidos, para posterior coleta de leite materno. Além disso, oferece orientações às mães que querem se tornar doadoras ao banco de leite. A empresa não faz a coleta nem armazena o leite. O objetivo é conseguir frascos adequados para enriquecer o estoque do banco de leite. A loja atende de 0 a 8 anos de idade e a cada mês dá início a uma campanha junto aos clientes e parceiros. O endereço é Rua Fernando Corrêa, nº 808, Centro, em frente à antiga rodoviária. O telefone é 66 99978-2437 ou 3022-0431.
Dia Mundial
O Dia Mundial de Doação de Leite Humano, celebrado nesta quinta-feira (19), é uma iniciativa para a proteção e promoção do aleitamento materno. A data também chama a atenção da sociedade para a importância da doação de leite para os Bancos de Leite Humano (BLH).
O BLH é um serviço especializado em oferecer ações de apoio, proteção e promoção do aleitamento materno, dedicando-se à assistência das mães e dos bebês durante o processo de amamentação. Além disso, executa atividades de coleta, seleção, classificação, processamento, controle de qualidade e distribuição do leite materno doado voluntariamente por mães.
Os bebês prematuros, considerando a sua condição de saúde e de internação, têm dificuldades de sugar o leite materno. Por isso, o leite humano do banco de leite é a melhor opção para alimentação de crianças internadas que, por algum motivo, não podem ser amamentadas diretamente no seio materno. A doação de leite materno pode ser feita por mães saudáveis que estejam amamentando seus filhos.