A ansiedade é, certamente, um dos males de nossa geração. Os especialistas afirmam que ela decorre de uma outra síndrome, a do pensamento acelerado. Cérebro que não para não descansa e tende a adoecer.
Olhe para nossos avós. Quando o sol se punha, eles dormiam. Eles descansavam. Nós, de outra sorte, temos o “benefício” da luz elétrica, invento que tornou o homem um ser noturno. Não só ela, também o advento do televisor fez com que as pessoas ficassem acordadas até mais tarde. Atualmente, então, os aparelhos de celular nos acompanham até à cama e, muitas vezes, esticam nossa jornada noturna, comprometendo nosso descanso.
Medido, o nível de ansiedade de uma criança hoje equivale ao de um universitário na década de 1950. O volume massivo de informação (e de desinformação também) que alcança nosso cérebro está sobrecarregando-o e, como resposta, a ansiedade tem surgido com mais força e alcance.
A ansiedade, por um lado é bastante benéfica. O “frio na barriga” que se tem antes de apresentar um trabalho escolar, o aperto no peito por conta de um prazo que está se esgotando ou o suor e frio nas mãos quando de um primeiro encontro de namorados é natural e servem para nos tonar mais cautelosos e preparados para o momento. Quando, porém, tais sensações ocorrem sem uma causa aparente, estamos diante da ansiedade nociva, provinda da falta de descanso para o cérebro.
Ela pode se apresentar como uma síndrome do pânico (que é o desconforto ou medo excessivo diante de uma situação sem risco aparente), como uma agorafobia (que é o medo desproporcional e ambientes abertos), em fobias sem fim (medo de elevador, medo de lugares fechados etc), e em outras formas diversas. Em todos esses casos, a pessoa encontra dor e sofrimento sem fim.
O tempo parece ser, também, um grande problema para o ansioso, que não pode antecipá-lo, mas tenta. Immanuel Kant afirmou que o tempo em si não existe; é apenas uma forma de conhecimento “a priori”, um elemento essencial ao conhecimento. Para ele, as coisas são o que são, mas só podem ser percebidas ou conhecidas no tempo. Assim, tempo é pressuposto para se conhecer. Lembro-me de a minha mãe ter comprado um disco de vinil em que uma das faixas ocupava metade do lado A. Era o “Danúbio Azul”, de Strauss. Eu, ainda criança, sentava-me diante da vitrola e baixava os olhos até à altura da agulha só para ficar acompanhando seu “percurso” no disco (quem nunca teve uma vitrola provavelmente não consegue entender o que estou dizendo). Rigorosamente falando, toda a música já estava impressa no vinil, mas a agulha só podia conhecê-la nota após nota.
Somos a “agulha” de nossa vida também. As coisas e o mundo, por assim dizer, já são o que são. Mas, presos a esse elemento, o tempo, somos impossibilitados que conhecê-las por completo, senão “nota por nota”, momento por momento, apenas. O ansioso quer antecipar os momentos sem perceber que nisso repousa justamente o perigo. Assim como eu fiz naquele dia. Como a música estava demorando para terminar, resolvi adiantar a agulha da vitrola e acabei riscando o disco. Estraguei-o. É o que fazemos quando tentamos antecipar as coisas da vida. Basta a cada dia seu próprio mal, já disse o Grande Mestre. E, na oração que Ele nos ensinou, se afirma: “o pão nosso DE CADA DIA nos dai hoje”.
Viva sua vida dia após dia, e desfrute cada um deles.