Segundo dados divulgados Associação das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços, a Abecs, de janeiro a março deste ano, os pagamentos com cartão de crédito aumentaram 42,4%, em comparação com o primeiro trimestre de 2021.
Esse incremento na utilização do cartão de crédito acompanha o aumento do e-commerce. O consumidor se familiarizou e se acostumou a comprar pela internet, onde essa forma de pagamento é a mais usual. Ainda, a economia volta a reaquecer após o controle dos números da pandemia.
Mas essas duas variações seriam o suficiente para explicar esse aumento colossal de pagamentos por cartão? Acho que não. O brasileiro está pedalando, não com a bicicleta, infelizmente, e sim com as contas. Vamos combinar que o cartão de crédito não é, propriamente de crédito, mas de dívida. E, atualmente, até contas de consumo como energia elétrica e água e esgoto podem ser pagas por ele. O problema é que obter crédito (e fazer uma dívida, portanto), para pagar despesas correntes é o começo do fim.
Se devo uma fatura de R$ 500 para a Energisa, não resolvo o problema de falta de dinheiro pagando-a com o cartão de crédito, só o adio. E posso trazer outro problema maior: não conseguir pagar o valor total da fatura e entrar no que eles chamam de “pagamento rotativo”, um anatocismo de juros sobre juros que pode levar uma pessoa à bancarrota financeira. É o que as operadoras de cartão mais gostam.
Essa modalidade de pagamentos pode crescer ainda mais. É que a renda média do brasileiro caiu nos últimos anos. O salário do trabalhador brasileiro caiu de R$ 2.789,00 em março do ano passado, para R$ 2.548,00 nesse ano. Uma redução de 8,7%, se comparados os dois primeiros trimestres de 2021 e 2022. Com menos grana, o brasileiro tem recorrido ao crédito para fechar as contas do mês e isso pode levar mais gente para a SERASA. Já são mais de 60 milhões de consumidores negativados nos cadastros da empresa.
O aumento de renda só pode vir com crescimento econômico. Não dá para distribuir uma riqueza que não existe. E a pandemia atrapalhou demais o planeta todos, especialmente o Brasil. Por isso, mais necessário se torna que a equipe econômica proveja o país da direção desse crescimento, que, sabemos, não virá sem estabilidades jurídica, monetária e institucional. E parece que as três estão faltando hoje.