Tomei um susto com o preço do leite. Nas gôndolas dos supermercados já tem caixinha custando pra lá de 7 reais. Fico imaginando como ficam as famílias que têm uma “bezerrada” em casa! Em toda entressafra, entre os meses de abril e setembro, o leite costuma ficar mais caro. Nesse período, acontece uma diminuição na oferta do produto por conta da estiagem, que faz minguar a pastagem.
O problema é que o preço do litro de leite vem subindo mesmo nas épocas de maior oferta do produto. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) apontou as seguintes altas no preço do litro de leite: FEVEREIRO: 1,04%; MARÇO: 3,41%; ABRIL: 12,21%; MAIO: 7,99%; JUNHO: 3,45%. E não parece que a tendência de alta vá sofrer qualquer mudança. Mas, o que é que está fazendo o leite subir tanto de preço esse ano? É a guerra. A da Ucrânia mesmo.
As cadeias de produção do agronegócio são globais. O que acontece do outro lado do planeta nos afeta aqui. No caso da produção de leite, o insumo mais importante é a alimentação do animal, tanto a concentrada (ração) quanto a volumosa (pastagem). Esta última é afetada por conta da estiagem, como já mencionei. Quanto à outra, a alta nas commodities de grãos provocadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia fizeram disparar os preços desse insumo.
Há ainda a questão do preço combustível que, pressionado pelo câmbio e pela guerra (a Rússia é a maior exportadora de petróleo do mundo), encarece em muito o custo para o escoamento da produção. Assim, o leite sobe de preço. Mas isso não significa mais renda no campo. Ao contrário, muitos produtores reclamam que, a despeito da alta nas cotações de leite, os custos de produção estão “comendo” (nesse caso “bebendo”) todo o lucro.
Se uma atividade econômica não é rentável, a tendência é que ela receba cada vez menos investimentos, em pesquisa principalmente. O desenvolvimento tecnológico da atividade leiteira, feita com aprimoramento genético, qualidade nutricional da ração, técnicas mais eficientes no manejo do rebanho etc, demanda muito dinheiro. Se o mercado acena para uma atividade cada vez menos rentável, a tendência é de que o setor atraia menos recursos para suas pesquisas. E a produtividade fica estancada.
É nessa hora que os governos devem entrar em ação, a fim de executar uma política de preço mínimo do produto para que não haja solução de continuidade na cadeia produtiva. Em vez disso, essa turma briosa que se encarrega de produzir o leite pouca atenção tem recebido de nossos governantes. Estradas rurais em péssimas condições para o escoamento, pontes precárias e falta de incentivos é o que, em geral, eles recebem.
O produtor recebe pouco e o consumidor paga muito pelo litro do leite. Entre eles, o custo de produção leva embora a maior parte do que se paga e do que se recebe.