O setor de transporte rodoviário pode sofrer um pane em breve. O alerta foi feito pela Associação Brasileira de Operadores Logísticos, a Abol. Segundo a entidade, o aumento no preço do diesel tem reduzido demais a margem de lucro das empresas, o que inibe os investimentos necessários para a manutenção da frota e o crescimento do setor.
No Brasil, 75% de tudo que se produz são transportados por via rodoviária, modal que tem o combustível como principal insumo. As ferrovias são utilizadas para o escoamento de módicos 5,4% e o transporte hidroviário só responde por 0,7% do escoamento de nossa produção. Dependentes que somos do transporte rodoviário, somos impactados cada vez que o diesel tem seu preço aumentado.
Os preços dos combustíveis estão altos no Brasil, mais por questões conjunturais que estruturais. Bom, é claro que a falta de investimentos em refinarias nos leva à condição de tomadores de preço dos derivados de petróleo. Atualmente, o Brasil exporta petróleo bruto e importa gasolina e óleo diesel (para nossa vergonha perante a comunidade internacional). Com isto, o preço dos combustíveis é o resultado das variações que sofrem as cotações do petróleo no mercado internacional e do dólar. Como a commoditie e a moeda americana estão nas alturas, logo temos o combustível mais caro nas bombas. Estruturalmente, pois, investimentos em novas refinarias ajudariam muito. Mas os problemas conjunturais como a guerra na Ucrânia e a consequente alta na cotação do barril do petróleo não se resolvem com uma “canetada” presidencial.
Ademais, a tentativa de interferência por parte do governo no preço dos combustíveis só aumenta seu preço. Explico. Quando o Presidente vai à imprensa para reclamar da alta nos preços que a Petrobras anuncia, os investidores da Companhia veem a possibilidade de redução nos lucros da empresa, o que pode fazer com suas ações percam valor. Por isso, vendem mais que depressa os papéis que possuem da S/A, o que faz o preço das ações despencar, para logo comprar ativos em dólares a fim de migrar seus investimentos para outros países, o que faz com que o dólar aumente. E, como dito, subindo o dólar, sobe a gasolina.
O governo não está parado. Reduziu a 0% as alíquotas dos impostos federais e encaminhou ao Congresso Nacional projeto de lei que, na prática, limita a tributação do ICMS, um imposto estadual, em 17%. O Consórcio de Governadores do Nordeste ingressou com ação na Justiça para declarar a inconstitucionalidade da lei. Eles temem perda de receitas com a diminuição da alíquota. Esquecem-se, porém, que a base de cálculo do tributo, o preço dos combustíveis, está alta e, assim, não creio em quebra na arrecadação.
Voltando à fala do presidente da Abol, Djalma Vilela, a falta de investimentos no setor de transporte rodoviário, como consequência natural da diminuição da margem de lucro das empresas em razão do aumento no preço do diesel, pode levar ao sucateamento da frota e a um grave “apagão logístico” num futuro breve. Ruim para todos, inclusive para a Petrobras, que distribui seus produtos também pela malha rodoviária. Daria para diminuir um pouco o lucro da empresa, diz a Abol. Mas, vamos combinar: nunca imaginei que seria um problema uma estatal dar lucro. Tempos estranhos esses.