Nesta semana a indicação literária é a obra do filósofo e Nobel de Economia, Amartya Sen, “Desenvolvimento como liberdade”, em que o autor aborda como o desenvolvimento econômico e tecnológico, e especialmente uma melhor socialização desses recursos, pode dar mais autonomia e liberdade aos cidadãos.
Os gregos já questionavam o que vinha a ser a tão sonhada liberdade. O termo grego “Eleuthéros” significa “homem livre”, e não trata apenas da liberdade física, mas em sua concepção plena. Para Aristóteles (469-399 a.C.) é livre e voluntária a ação que não sofre coações. Para este filósofo o “homem livre” implica não apenas aquele que não seja escravo ou tenha a locomoção física restrita, mas aquele que consegue dominar a si mesmo, dominando seus sentimentos e seus pensamentos.
Liberdade então é muito mais do que simplesmente estar impossibilitado fisicamente de escolher, mas aquele que detém conhecimento e controle para escolher. Tudo que nos impede de escolher livremente é uma espécie de aprisionamento, e, portanto, ausência de liberdade.
Agora pense por um momento em sua própria vida. Seu carro, por exemplo, é exatamente o carro que você livremente escolheria, o que atende suas demandas de conforto e segurança, ou é o melhor que seu dinheiro conseguiu comprar, e que está muito aquém de suas expectativas? E sua saúde, é tratada a contento, livremente, como você considera apropriado, ou você trata sua própria saúde e a de sua família da melhor maneira que seus recursos financeiros ou o atendimento público pode proporcionar? Sua educação e a educação de seus filhos, partiram de uma escolha realmente livre, ou dentro de estreitos parâmetros, considerando as possibilidades financeiras e o serviço público disponibilizado? Quando você programa suas férias, o que mais pesa na decisão, seu interesse e desejo pessoal, o local mais agradável, o local com o qual a família sonha conhecer, ou mais uma vez o que pesa são as limitações impostas pelas condições?
Amartya Sen questiona tudo isso em sua obra, e afirma que uma melhor socialização dos recursos obtidos com o desenvolvimento é necessária para dar maior liberdade aos cidadãos. Se isso é verdade, também é verdade que essa decisão não está em suas mãos. Não cabe a você decidir como a renda é distribuída, e como o desenvolvimento chega efetivamente à população que mais precisa dela. Essa decisão está nas mãos do grupo dominante, que não tem interesse em dividir o bolo.
Mas e então, o que fazer? Devemos sentar e esperar pela conscientização dos poderosos? Devemos nos revoltar? Não, eu te digo com a mais absoluta e cristalina certeza, que, deixando de lado tudo aquilo que não está em suas mãos, você se volte para o ensinamento de Aristóteles, e busque dominar a si mesmo, dominar seus sentimentos e pensamentos, para adotar condutas adequadas para aumentar pouco a pouco sua autonomia, seu nível de liberdade. E como isso pode ser feito? Claro, da única maneira como nós podemos fazer qualquer coisa: conhecimento! A frase esculpida na rocha do templo de Délphos, na antiga Grécia, “nosce te ipsum”, “conhece a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”. É o conhecimento que nos liberta de todas as nossas correntes, físicas e psicológicas. Conhecimento é poder. E você, até quando permanecerá acorrentado? Sejamos buscadores, procurando sempre, sempre…