Uma festa ocorrida no último sábado, 24, agitou parte dos rondonopolitanos, e tirou o sossego de um grande número da outra parte que não foi ao evento. Reclamaram-me muito do volume do som e do questionável gosto musical dos DJ’s. A “música” que se ouvia ali no estacionamento do estádio Luthero Lopes (e que se ouvia também até na Vila Operária) era o funk.
Bom, gosto musical não se discute. É igual a nariz, cada um tem o seu. Particularmente, não me agradam a batida imutável e estressante, a pobreza harmônica e a escassez literária do ritmo. Mas, há quem consuma esse tipo de “arte”. O grave problema das canções executadas no evento foi justamente suas “letras”. Não é possível reproduzi-las aqui sem que algum dos leitores se sinta enojado ou ofendido com elas. Basicamente, era “esfrega a (túúúú) aqui no meu (túúúú)”; “baixe até o chão a (túúúú)”; “chupe aqui o meu (túúúú)”. Impronunciável, de fato, por aqui.
Para além do crime ambiental sonoro e da perturbação do sossego alheio, que competem à polícia e ao Judiciário resolverem, tem a pergunta de 1 milhão de dólares: por que nossos jovens consomem esse lixo cultural? E antes que me venham acusar de preconceito, não chamo as canções da festa de “lixo” por conta do ritmo, e sim por causa da letra.
Bem, a resposta à pergunta feita no parágrafo anterior é uma apenas: não estamos educando nossas crianças e jovens. Quando falo em “educar” refiro-me à formação humana de uma criança. Um processo que não compete ao Estado, senão que à família e sociedade também. É tarefa de todos buscarmos o aprimoramento de nossos baixinhos para que, na adolescência e juventude, músicas com tais letras deploráveis, sexistas e machistas não tenham audiência.
E a grande mídia em muito contribui para a apologia ao mau gosto artístico. Ouvi dizer que o “Domingão do Faustão”, programa que foi exibido pela Rede Globo, elegeu Pablo Vittar como a melhor cantora de um dos anos passados aí. Um absurdo sem precedentes. Não por conta da orientação sexual ou a identidade de gênero que escolheu. Não tenho problema algum com a sexualidade dos outros.
Amo ouvir Freddy Mercury, Cazuza, Renato Russo, George Michael, Ricky Martin, Elton John, Cássia Eller, Adriana Calcanhoto, Angela Ro Ro, Simone, Edson Cordeiro, Emílio Santiago, Preta Gil, Simone, Zélia Duncan, Ricky Vallen, Zizi Possi, Ana Carolina, Daniela Mercury. A lista é longa. Amo a obra desses artistas porque é isso que são, artistas. Pablo Vittar, não. É um “performer”, uma personalidade, apenas. Ao escolhê-la como cantora do ano, Fausto Silva indica e influencia um número sem fim de jovens a ouvir sua (pseudo) música.
Os jovens são os únicos de nós capazes de promover alguma mudança significativa na sociedade. De tempos em tempos, surge uma geração que a tudo transforma. A nossa fez isso. Revolucionamos uma estrutura de governo que insistia em calar a quem dele discordasse. A geração que criamos, porém, é muito débil intelectualmente para promover isso, a julgar pela música que insistem em botar para dentro da “cachola”. Talvez isso seja intencionalmente promovido. Em tese, a nenhum governante interessa jovens intelectualmente saudáveis, pois trariam alterações no “status quo” que os retiraria do poder, por certo. Mas, a despeito dos governantes, nós, enquanto família e sociedade, temos feito pouco pela educação de nossos meninos e meninas. “Há que se cuidar do broto pra que a vida nos dê flor e fruto”, já disse o poeta (acho que já citei esse verso mais de uma vez por aqui).
Na verdade, criamos uma geração fraca. O porquê disso me foi respondido em uma publicação no Instagram a que assisti ontem. A fala do personagem era: “Tempos difíceis criam pessoas fortes; pessoas fortes criam tempos fáceis; tempos fáceis criam pessoas fracas; pessoas fracas criam tempos difíceis”. Nós que fomos forjados no fogo dos anos 1950 a 1980 (tempos difíceis), fomos fortalecidos pelas adversidades.
Fortes, pudemos criar um tempo mais fácil, jurando dar aos nossos filhos tudo aquilo que não tivemos. E fizemos isso! No que resultou em uma geração que não enfrentou dificuldades e, por isso, tornou-se fraca. É essa geração que nos governará daqui a pouco. Tempos difíceis à vista, meu caro leitor. Em poucos anos, estaremos sendo conduzidos por jovens que hoje ouvem esse lixo cultural. E o fazem porque não os educamos, de verdade.