O assédio sexual é como câncer em metástase, que carcome todo tecido social. Parece não haver espaços de salvaguarda às principais vítimas dele, as mulheres. Os predadores sexuais, que se valem da condição de superior hierárquico para conseguirem alguma vantagem ou favorecimento sexual, surgem em todo canto.
A mais recente denúncia chocou nossa comunidade, porque dava conta de que o Coordenador do Serviço de Atendimento Municipal de Urgência, o SAMU, sugeria “teste do sofá” às profissionais de enfermagem que trabalhavam ali. Uma delas não se calou. Fez a denúncia em 2019, mas só agora o caso veio à tona.
Essa é uma questão que à Justiça compete agora julgar. Por isso, não falarei desse caso em especial, mas procurarei abstrair o pensamento para falar dessa chaga moral terrível que nos acomete, especialmente as mulheres. E como! Um levantamento realizado por uma empresa especializada em gestão de recursos humanos, a Mindsight, revelou que as mulheres sofrem três vezes mais assaltos sexuais que os homens em ambientes de trabalho e que 97% das vítimas não denunciam seus superiores.
Dá para entender o porquê. O acusado de assédio no SAMU nega o fato e afirma já ter pedido instauração de procedimento policial para apurar suposto crime de calúnia praticado pela vítima. Agora, a mulher, que está desempregada, fragilizada emocionalmente em razão dos comentários sexistas dos quais é alvo nas redes sociais, ainda terá de contratar advogado e se defender a fim de opor “exceção da verdade” (termo técnico jurídico empregado para quando o acusado de calúnia prova em juízo a veracidade do crime que atribuiu ao agressor) à acusação de calúnia que tem contra si. Ou seja, a opulência acaba por calar as mulheres vitimadas por esses trogloditas sexuais.
O assédio pode acontecer em qualquer ambiente: o galanteio mais agressivo no ponto de ônibus; a encoxada dentro do coletivo ou na fila de uma bilheteria; a passada de mão na rua ou na piscina de um clube ou condomínio. Mas a lei deu tratamento de assédio sexual às investidas que acontecem em ambiente de trabalho pelos que, como disse no início, lançam mão da ascendência profissional que têm como meio para pressionar a mulher a ceder a seus caprichos sexuais.
Escrevendo esse texto, pergunto-me: “quem utiliza a superioridade hierárquica como mecanismo de constranger uma mulher à prática sexual não tem noção da baixeza de sua conduta, não?” De fato, é um comportamento vil, abjeto, asqueroso, nojento, repugnante, ignóbil, desprezível, vergonhoso, desonroso. Na verdade, não há palavra em nosso vernáculo para descrever a vileza desse comportamento nefando e nefasto. O indivíduo do sexo masculino que assim atua não é homem, de verdade; é moleque e criminoso e merecedor da mais severa repreensão penal que a lei prescrever.