Peço licença aos leitores que não gostam de futebol. Sei que já escrevi sobre o assunto por aqui, mas não posso me furtar de redigir um texto (e torço para que o faça com maestria) nesta data tão especial, o 26 de julho. Em 1931, nesta data, nascia o maior gênio que nosso futebol pode cunhar, Telê Santana. Não quero traçar um cronograma da vida ou carreira do mestre Telê Santana aqui, mas redigir um texto que esteja à altura do que foi ele para o futebol.
Seu Telê era demais. Das antigas, cuidava da vida pessoal e da carreira de seus jogadores. Entendia a equipe como família, não apenas no aspecto do amor, mas, e sobretudo, no aspecto da responsabilidade e respeito comuns. Assim, para Telê, era inadmissível um jogador chegar atrasado ao treino. Lembro-me de uma cena magnífica. O São Paulo já era campeão da América e do Mundo quando contratou Toninho Cerezo, um volante de muita qualidade no passe e sério na marcação.
Ora, Cerezo já jogara sob a batuta do Maestro Telê na Copa da FIFA de 1982, na Espanha, e voltava ao Brasil em 1993 consagrado como jogador na Europa. Em seu primeiro dia como jogador do tricolor, chegou atrasado para o treino. A câmera de um cinegrafista flagrou a cena: Telê estava de costas para o alambrado, no qual Cerezo gritava: “Professor, foi o trânsito, não estou acostumado. Desculpe, foi (sic) só 15 minutos”. Telê, impassível, virou-se e arrematou: “O trânsito não é problema meu, é seu. Pode ir para casa e passe na ‘caixinha’ antes”. “Caixinha” era o local em que os jogadores depositavam a “multa” por atraso aos treinos, dinheiro que, ao final de mês, era rateado pelo time todo (tempo do romantismo no futebol).
O “Fio de Esperança”, como ficou conhecido como ponta-direita do Fluminense, foi um excelente jogador. Só não teve espaço na seleção brasileira porque concorria com ninguém menos que Garrincha, na posição. Mas, como treinador, foi ímpar. Claro que sua carreira como técnico teve altos e baixos. Foi o primeiro técnico campeão brasileiro, treinando o Atlético Mineiro em 1972. Depois, foi campeão gaúcho com o Grêmio. Teve uma breve passagem pelo Palmeiras até que foi convidado para comandar a Seleção. Depois da Copa da Espanha, Telê foi treinar o Al-Ahli, na Arábia Saudita, entre os anos de 1983 e 1986, quando retorna para ser Técnico da seleção brasileira na Copa de 1986, quando acabamos sendo eliminados nas quartas-de-final, nos pênaltis, pela França de Michel Platini.
Com duas eliminações em Copas do Mundo, Telê ganhou a fama de “pé-frio” e o mercado da bola se estreitou para ele. Entre 1986 e 1990, treinou as equipes do Atlético Mineiro, Flamengo, Fluminense e Palmeiras, de onde saiu escorraçado pela torcida, após uma derrota para o Bahia em pleno Parque Antártica (Era como se chamava o Allianz Parque antigamente – incrível que eu tenha que escrever isso).
Chegou assim ao São Paulo, no pior momento de sua carreira, para construir no tricolor, que também estava no seu pior momento, (pior que agora, viu!?) a mais mágica história de futebol já vista. O São Paulo foi sua redenção. Sem dinheiro para pagar o hotel em que se hospedaria Telê e sua esposa, o dirigente são-paulino, Carlos Caboclo, pediu-lhe que, durante seu contrato com o tricolor (que duraria apenas de outubro a dezembro de 1990), ele se hospedasse nos aposentos do estádio do Morumbi. Telê concordou e, tendo seu contrato renovado, morou ali por mais 4 anos. É que ficava mais fácil de controlar a entrada e saída dos boleiros sob seu comando. Dá para acreditar?
Formador de talentos, Telê Santana montou o time a partir de um jovem promissor, Raí, e apostou em moleques da base como Cafu, Vítor, Elivelton, Denílson etc. Naquele 1990, Telê pegou o time na zona de rebaixamento do campeonato brasielrio e o levou até o vice-campeonato, vencido pelo Corinthians. No ano seguinte, 1991, campeão paulista e brasileiro. Em 1992, campeão da américa e do mundo, batendo o todo-poderoso Barcelona. Em 1993, bicampeão da Libertadores e do Mundial, dessa vez derrotando o Milan, de Baresi, Maldini, Massaro e companhia. Duas Copas do Mundo perdidas. Dois Mundiais conquistados. Isso se chama redenção, como eu disse!
Escrevendo esse texto, revivo todos esses momentos e considero-me um privilegiado de ter visto os times, não treinados, mas conduzidos pelo mestre dos mestres do futebol, Telê Santana. Desculpem-me o saudosismo, mas, como o próprio hino tricolor afirma: “as tuas glórias vêm do passado”. Olê, Olê, Olê, Olê, Telê, Telê…